Parques tecnológicos demandam recursos e políticas públicas perenes

Apesar de jovens, os parques tecnológicos de Minas Gerais já apresentam resultados significativos. São mais de 120 empreendimentos e empresas vinculadas aos quatro parques em operação no Estado, que geram faturamento de R$ 400 milhões anuais.
O número é cinco vezes maior do que o governo de Minas já investiu em parques tecnológicos na história, de acordo com a diretora-presidente da Rede Mineira de Inovação (RMI) e presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Adriana Ferreira de Faria. Na visão dela, políticas públicas perenes são “imprescindíveis” para que eles gerem desenvolvimento social e econômico no entorno das regiões onde estão instalados.
De acordo com Adriana Faria, Minas Gerais possui quatro parques tecnológicos em operação e quatro em estágio de planejamento. No Brasil, são 59 em atividade e 70% deles jovens, ou seja, com menos tempo do que o necessário para contribuir e impactar efetivamente o desenvolvimento econômico e social de uma região, que ela avalia que seja em torno de 20 anos. Esses parques já abrigam 2,7 mil empresas, que geram um faturamento de mais de R$ 12 bilhões anuais. “O número é quase o dobro do que foi investido nesses ambientes de inovação até hoje no País”, revela a diretora.
Outro dado importante é que eles geram mais de 40 mil empregos em todo o Brasil. “São empregos de qualidade, então eu diria que os parques já estão ‘bombando’, inclusive os de Minas Gerais, que são jovens”, afirma Adriana Faria. Ela explica, todavia, que o potencial é muito maior, mas ressalta que para que esses resultados sejam mantidos e gerem um impacto cada vez maior, é preciso manutenção das políticas públicas. “Até para garantir segurança jurídica para a operação da relação público-privada”, reforça.
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“As políticas públicas de financiamento precisam ser mantidas tanto para os ambientes promotores de inovação, como hubs, quanto para os parques tecnológicos. Nós temos vários ambientes promotores de inovação e parques tecnológicos é só um deles. Isso é uma cadeia, você não pode quebrar nenhum elo. É preciso ter a universidade forte, uma pós-graduação forte e orientada para as demandas, formando um perfil de egresso compatível com o mercado. A base de tudo é educação e o apoio a todos os ambientes promotores de inovação, particularmente, as incubadoras de empresas, que têm um papel fundamental na criação e apoio aos parques. Inclusive, poderíamos estar melhores se não tivéssemos tido um apagão de financiamento e políticas públicas para estes ambientes entre 2013 e 2018”, defende Adriana Faria.
De acordo com ela, não pode em determinados governos, seja estadual ou federal, haver interrupções desses financiamentos, seja para os parques, seja para os incubadores, seja para o sistema de educação, pesquisa e desenvolvimento.
O subsecretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de Desenvolvimento do Estado, Bruno Araújo, garante que da parte do atual governo, os investimentos serão contínuos. “É uma política pública muito importante para nós, que faz a interação entre a academia e o setor produtivo, que a gente vai continuar investindo para poder, cada vez mais, ver esses parques bem estabelecidos gerando mais emprego, renda e melhorias na qualidade de vida da população”, afirmou.
Entretanto, a deputada estadual e presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Beatriz Cerqueira (PT), acredita que ainda falta uma política permanente para os parques no Estado. “Eles são importantíssimos para a atração de indústrias e para a manutenção dos talentos no Estado”, defendeu.
Ela explica que tem trabalhado para potencializar estas políticas e já firmou parceria estratégica com o BHTec, o parque tecnológico de Belo Horizonte. “Nossa diversificação e desenvolvimento econômico passam pelos parques, e continuaremos a potencializar essa agenda”.
O CEO do BHTec, Marco Crocco, defende que o Brasil está atrasado em políticas de parques tecnológicos. “São quase 10 anos sem ter financiamentos para parques. E em um primeiro momento, é primordial que o investimento seja público, até que ele se torne autossustentável”, disse.
Desafios vão além das verbas
O financiamento contínuo é apenas um dos desafios. A diretora presidente da RMI explica que para a instalação de um parque, primeiro há a necessidade de um estudo de viabilidade tão complexo quanto o da implantação de um distrito industrial, depois, num segundo momento, é preciso ter o montante necessário para a implantação do parque. Conquistado o recurso, há a questão dos licenciamentos, que por muitas vezes demanda mais verba e tempo, e por último, o recurso e determinação de custeio para operação e manutenção do complexo. “Às vezes, para uma determinada localidade, um distrito industrial bem planejado com infraestrutura pode ser uma opção mais viável para promover o desenvolvimento sustentável do que um parque”, pondera.
Na visão de Adriana Faria, “se tivermos juízo e mantermos todas essas questões, os 59 parques tecnológicos em operação no País, mais as duas dezenas de parques que estão em processo de planejamento, têm um grande potencial de transformação dos territórios nos quais eles estão inseridos, e do País. Mas para isso, é preciso manter as políticas e esse é o nosso maior desafio”, comenta.
Municípios apostam na inovação para diversificação da economia
Adriana Faria cita o parque tecnológico de Viçosa, o tecnoPARQ, como exemplo de parque bem-sucedido. “São mais de 80 empresas vinculadas que geram um faturamento de quase R$ 90 milhões por ano. A nível de comparação, o orçamento do município de Viçosa é de R$ 400 milhões anuais. Essas empresas geram mais de 1 mil empregos de qualidade em um município que possui cerca de 79 mil habitantes”, exemplifica.
Além dele, estão em operação no Estado, o parque de Belo Horizonte (BHTec), o de Uberaba e o de Itajubá (PCTI). Outros quatro parques tecnológicos já estão em estágio de implantação: Lavras, Juiz de Fora, Santa Rita do Sapucaí e Uberlândia. “Todos os parques tecnológicos de Minas, aprovados na chamada da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), terão contrapartida fomentada pelo Estado, e está em fase de apreciação e liberação”.
A cidade de Ouro Preto também está apostando no ecossistema de inovação. A cidade acaba de inaugurar um hub e em breve abrirá um chamamento público para a formação de um parque tecnológico na cidade.
Conforme o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Felipe Guerra, nem só de turismo se faz a cidade. “O turismo emprega mais pessoas, mas quem gera mais impostos ainda é a mineração e a construção civil atrelada à ela. As empresas de inovação e tecnologia já ocupam o terceiro lugar e o objetivo do parque será contribuir com a modernidade desses setores, além de fomentar ainda mais a inovação na cidade. Temos um ecossistema amplamente favorável para a diversificação da economia por meio da tecnologia”, disse.
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