Mineração tem avanço na liderança feminina, mas participação geral está estagnada
A 5ª edição do Relatório de Indicadores 2025 do Women In Mining Brasil (WIM Brasil), em parceria com a EY, divulgada na terça-feira (2), mostrou que a participação feminina na força de trabalho geral da mineração ficou estagnada em 22%. Apesar da estabilidade, houve avanços em áreas estratégicas, como o aumento de 3% na participação feminina em posições executivas, chegando a 25% do mercado, e de 17% em cadeiras em conselhos administrativos, somando 28% do setor.
As contratações de mulheres representaram 41% do total de admissões, e as promoções também registraram avanço em cargos de gestão e base, especialmente no setor de mineração, que superou os percentuais gerais, que incluem empresas prestadoras de serviços e fornecedores.
A diretora do WIM Brasil, Luciana Félix, explica que o relatório é importante para mapear a realidade no segmento de mineração em relação à diversidade, equidade e inclusão, principalmente com foco em mulheres. Este ano, pela primeira vez, o relatório traz um recorte mais interseccional, com raça, PCD e idade.
“Com o relatório, a gente quer fazer um diagnóstico cada vez mais realista para ver se o segmento de mineração está evoluindo nesse tema. Nesta edição, frente à anterior, percebemos que o número de mulheres no geral na mineração acabou ficando muito próximo do ano anterior, 22% frente a 23%. Mas conseguimos enxergar um aumento no número de cadeiras de conselhos, de executivos e da alta liderança. Ainda que sub-representado, está evoluindo nesse sentido”, explicou.
A falta de um avanço consistente no número de mulheres atuando na mineração revela uma dificuldade estrutural das organizações em ampliar o acesso delas ao ambiente corporativo. A falta de crescimento pode estar no desalinhamento entre as estratégias e as práticas cotidianas, como processos seletivos que não são verdadeiramente inclusivos, um ambiente de trabalho pouco acolhedor e barreiras invisíveis que impedem o avanço, especialmente em áreas técnicas e operacionais.
O relatório mostra que o avanço da participação das mulheres na mineração segue em passos lentos. Mantendo o ritmo atual de crescimento, a participação feminina alcançará 50% em 2081, evidenciando o quão lento tem sido o avanço e a urgência em acelerar as transformações em busca da paridade.

Participação das mulheres nos programas de sucessão despenca
Outro ponto que precisa de atenção é a participação feminina em programas de sucessão, que caiu de 31% em 2024 para 18% em 2025, interrompendo três anos de crescimento. Entre as possíveis causas estão a falta de priorização institucional, cortes de recursos, baixo engajamento da liderança e programas mal desenhados.
Vale ressaltar que, mesmo no pico, menos de um terço das participantes eram mulheres, indicando que a base para a preparação feminina para a sucessão de liderança já era limitada. A queda também leva ao questionamento se a promoção da sucessão feminina é prioridade estratégica para o desenvolvimento de líderes ou apenas resposta a pressões externas.
“Observa-se que há um amadurecimento do segmento, mas ainda há o desafio de trazer mais números e mostrar os resultados. As empresas têm programas, por exemplo, de formação de mulheres, mas é preciso que tenham indicadores que meçam a efetividade desses programas. As mulheres estão aparecendo mais dentro da organização, porém menos de 30% das promoções ainda são ocupadas por mulheres. Quando fazemos esse recorte olhando para raça, a situação fica um pouco mais complicada”, afirma a diretora do WIM Brasil, Luciana Félix.
Os dados do relatório 2025 mostram que menos de um terço das promoções foram para mulheres, e apenas 30% das empresas informaram que monitoram promoções por raça/cor. Onde há monitoramento, a participação de mulheres pardas (17,9%) e pretas (6,1%) na sucessão de lideranças é drasticamente sub-representada em comparação com mulheres brancas (57,5%). Quase 80% das empresas não monitoram sucessão com recorte de gênero e raça.
Queda nas denúncias acende alerta para possível subnotificação no setor mineral
Na frente de segurança e ética, o cenário aponta um retrocesso na formalização dos mecanismos de denúncia e acolhimento. Das 57 empresas participantes, apenas 84% declararam possuir um canal confidencial e formalizado para endereçar temas de discriminação e assédio, o menor percentual registrado desde 2021.
Em 2025, foram registradas 122 denúncias de assédio sexual, das quais 76 foram procedentes (62%), evidenciando a consistência das ocorrências. No mesmo período, houve uma queda drástica de 71% nas denúncias recebidas e de 88% nas denúncias procedentes pelos Canais de Ética em geral.
“Esperamos que as ações implantadas nas empresas estejam sendo bem feitas para que os ambientes estejam cada vez melhores. Mas, vendo todo o contexto nacional em relação às mulheres, existe uma preocupação genuína de que pode haver subnotificação dos casos. É mais um alerta que trazemos no relatório. Esse é um ponto de atenção para que todas as empresas fiquem atentas e evitem a subnotificação”, explicou a diretora do WIM Brasil, Luciana Félix.
O 5º Relatório de Indicadores WIM Brasil foi construído a partir de uma pesquisa realizada com 57 empresas signatárias do setor mineral (mineradoras e fornecedores), representando um crescimento expressivo de 256% desde 2021, passando de 16 empresas para 57, e de mais de 14% apenas no último ano, de 2024 para 2025.
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