Com produto sustentável, pequenos negócios em Minas buscam lucro e propósito na Agenda 2030

A cadeia que envolve os diversos setores em Minas Gerais, desde a obtenção de insumos até a oferta de produtos e serviços ao consumidor final, encontra alguns desafios para alcançar uma operação mais sustentável e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma das dificuldades está em encontrar o equilíbrio entre as práticas sustentáveis e a viabilidade econômica da operação, assegurando preços justos para os clientes e uma margem de lucro adequada para o negócio.

Dados recentes do relatório de Sustentabilidade no mercado business, realizado pelo Instituto EcoData, apontam que 75% dos consumidores brasileiros esperam que as empresas sejam transparentes sobre suas práticas de sustentabilidade. Além disso, 82% consideram importante saber como as empresas trabalham para reduzir seu impacto ambiental no País. Mas a atenção vai para o dado de que 65% dos entrevistados afirmam que a falta de transparência sobre tais práticas pode levar à perda de confiança na marca.

Segundo o economista do Instituto EcoData, Gabriel Caldeira, iniciativas já apresentadas por pequenos negócios, seja em Minas Gerais ou em outras regiões do País, principalmente nas grandes metrópoles, mostram que os empreendedores já entenderam os benefícios da sustentabilidade como estratégia de negócios.

Falta de crédito limita avanço de pequenos negócios

“Vejo que já passamos dessa parte de sairmos da semântica que envolve o conceito dos ODS, isso já é um importante avanço. Contudo, para grande parte dos donos de pequenos negócios, a falta de uma oferta ampla de linhas de crédito para fomentar iniciativas de responsabilidade sustentável pode impactar principalmente os negócios do ramo de produção, limitando o avanço”.

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Uma das sócias das marcas mineiras de moda Bamou e VemVem, Suellen Alice, confirma esse desajuste. “Eu, por exemplo tenho dificuldades em encontrar marcas que sejam realmente sustentáveis ou, pelo menos, o máximo possível, marcas que tenham certificação e com preço acessível. É um desafio muito grande porque, na verdade, esses produtos têm um custo maior para produção, até pela questão da escala e por todos os processos que envolvem para que ele realmente seja sustentável”,

A empresa trabalha com tecidos certificados, que garantem a procedência desde o plantio do algodão, sem o uso de agrotóxicos, nenhum tipo de pesticidas e com foco na remuneração justa para os trabalhadores. “A sustentabilidade não é só a questão ambiental, tem a parte social também, onde as pessoas precisam ser bem remuneradas”, pontua.

Sustentabilidade e economia na construção civil

O diálogo sustentável no mercado mineiro de construção civil está sendo impulsionado pela empresa Jurema Tijolaria Ecológica, fundada em 2012, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. A pequena fábrica produz blocos de solo-cimento inovadores e autoportantes, que são uma alternativa sustentável para a construção civil.

Com uma pegada de carbono 30% menor e 30% a 45% menos resíduos na produção, esses blocos são uma opção mais ecológica para os construtores. A sócia-proprietária, Giovanna Augusto Merli, ressalta que a empresa está comprometida em oferecer soluções sustentáveis para o mercado, mas que o principal desafio é educar o mercado. “Nossa missão é trabalhar para promover práticas sustentáveis na área da construção”, diz a empreendedora.

Prova do sucesso do negócio foi a recente expansão produtiva e a ampliação da comercializada de tijolos em 2024. “No ano passado, nós aumentamos a produção e as nossas vendas cresceram 100% em comparação com 2023. Para este ano, esperamos resultados ainda melhores”, prevê.

Adoção de práticas sustentáveis ajuda na perenidade e reputação

Para o presidente do Sebrae Minas e da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva, as pequenas empresas vivem com uma adequação de custo muito difícil, mas que a adoção de práticas sustentáveis pode mudar esse cenário.

“O consumidor está cada vez mais atento à origem e ao impacto dos produtos e serviços. Por isso, pequenos negócios terão vantagem ao atender essa demanda por economia circular, uso de energias renováveis, comércio justo, entre outros aspectos. Essas práticas sustentáveis ​​podem contribuir com a redução de custos operacionais como energia, água e insumos ou pela otimização de processos. Além disso, muitas empresas e governos priorizam fornecedores sustentáveis, abrindo novas oportunidades de mercado”, comenta.

Atento a este cenário, o Sebrae Minas, tem como um de seus objetivos fomentar melhorias de processos e práticas de gestão. “Temos ampliado, anualmente, os esforços para disseminar, orientar e capacitar empreendedores de pequenos negócios no Estado, agentes públicos e lideranças setoriais a inserirem a pauta da sustentabilidade em suas agendas, tendo como referência os ODS”, informou.

Segundo ele, em uma das frentes de trabalho do Sebrae Minas, são oferecidas orientação e consultoria “para que os municípios ampliem os mecanismos legais de inclusão econômica, a exemplo do aumento da participação dos pequenos negócios locais nas compras públicas e da disseminação da educação empreendedora”.

Veja cinco passos essenciais para integrar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS):

Passo 1: Compreenda os ODS

• Estude os 17 ODS e suas 169 metas específicas, abrangendo questões sociais, econômicas, industriais, inovação, infraestrutura e ambientais.

Passo 2: Estabeleça prioridades

• Analise como o seu negócio impacta e é impactado por cada objetivo. Não é necessário ter iniciativas abrangendo todos os ODS ao mesmo tempo. Priorize iniciativas e projetos de inovação que otimizem a aplicação de recursos, considerando as metas da Agenda 2030 e o desenvolvimento sustentável.

Passo 3: Defina metas e faça monitoramento

• Selecione quais ODS se relacionam com o negócio e priorize com quais deles sua organização gostaria de se comprometer. Estabeleça metas claras e crie um processo de monitoramento e avaliação integrado à estratégia de inovação.

Passo 4: Integre as metas na estratégia

• Alinhe as metas dos ODS à estratégia da empresa e ao portfólio de inovação. Isso garante que a sustentabilidade esteja incorporada em todas as decisões e operações do negócio.

Passo 5: Invista em inovação tecnológica e captação de recursos

• Desenvolva soluções tecnológicas inovadoras para atingir metas relacionadas aos ODS. Explore oportunidades de fomento e captação de recursos financeiros para apoiar projetos inovadores e de impacto.