Negócios

Pessoas e competência: individualidade versus coletividade!

MARCELO ALVIM SCIANNI*

Vivemos a era do ego e da vaidade exacerbada. Em uma conversa entre o historiador Leandro Karnal e o Pe. Fábio de Melo registrada no livro Crer ou não Crer, o Pe. Fábio aponta sua percepção de que “cada um vive ao seu modo, de acordo com o que lhe interessa”. Concordando com essa percepção, Leandro Karnal completa dizendo que “a crença das pessoas é, essencialmente, a crença em si” e que “vivemos a era de adoração a Narciso”. Nas redes sociais há busca frenética de pautas para a autopromoção da vida pessoal e profissional. Recém-formados tornam-se profissionais seniores em poucos meses e empreendedores de startups se comportam como grandes nomes da humanidade colocando-se ao lado de figuras históricas como Galileu, Einstein e outros tantos. E então?! Com tantas histórias de empreendedores de sucesso e pessoas realmente diferenciadas e vanguardistas que nos aparecem todos os dias surge a questão que quero aprofundar nesse ensaio: a competência se refere ao indivíduo ou ao coletivo?

Teorias de gestão de competências centradas nos indivíduos buscam mapear e especificar cada atributo do indivíduo que conferem a si condições de gerar valor. Esses atributos se referem, numa primeira dimensão, ao conhecimento teórico e prático adquirido pelo indivíduo por meio de uma educação formal, mas também a partir do conhecimento tácito absorvido no convívio com experts em sua prática laboral diária. Noutra dimensão tratam-se das habilidades manuais, sociais e cognitivas que favorecem o indivíduo a aplicar os conhecimentos tácitos e explícitos dentro de contextos em que estes são demandados. Pode-se dizer que as habilidades funcionam como pontes ou catalisadores para que conhecimentos sejam mobilizados em direção a um resultado. Na terceira e última dimensão de análise, são estudadas as atitudes ou comportamentos dos indivíduos que os levam a mobilizar conhecimentos e habilidades necessárias à geração do resultado. Aqui se trata da disposição e vontade do individuo em aplicar estes últimos dois atributos em um contexto propício ou não a essa aplicação. A vontade depende da autoimagem que o individuo tem de si e de como percebe o mundo ao seu redor levando-o a se considerar apto e, portanto, disposto a realizar uma entrega. Juntas, essas três dimensões formam uma base de apoio na qual o indivíduo recorre de forma a mobilizar e gerar o valor para a organização e para si próprio.

Então podemos concluir que basta a um indivíduo mobilizar tais atributos e isso o torna competente, correto? Errado! Ninguém “é” competente, o correto seria dizer que alguém “está” competente. Isso porque a competência se mostra na coletividade e na troca de relações entre indivíduos. Para entender a tese que aqui apresento, basta entender que o sucesso de uma ideia ou de um empreendimento passa, no mínimo, pela aceitação de um grupo de pessoas que enxergarão valor naquilo, vão se engajar junto ao empreendedor construindo com ele e a partir de sua base algo que contemple melhorias e até mesmo mude totalmente uma ideia incialmente concebida. Ou seja, as relações são a base de toda a competência e ela emerge destas. Por isso ela é essencialmente coletiva e o individuo sozinho não consegue, nem de longe, responder por toda a complexidade que envolve a competência de uma organização.

Por isso, pense bem antes de achar que sozinho você ou alguém de sua equipe responde pelo diferencial de seu negócio. Crie condições para que as competências distintas dos membros de sua equipe possam ser combinadas de forma a criar o novo, e mais importante, para que possam fazer isso continuamente e sem restrições ao longo do tempo. Esse é o segredo da vantagem competitiva e da sustentabilidade de um negócio.

*Sócio-diretor da DMEP

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