“Tampinha Legal” propõe cadeia produtiva do plástico circular

Tão útil como controverso, o plástico segue como um dos materiais mais utilizados pela indústria do mundo. Do grampo de cabelo à sola do sapato. Do copinho de café ao satélite. Barato, leve e de múltiplas características e usos, o certo é que o derivado de petróleo está aí e não deixará de ser usado tão cedo.
Segundo o Atlas do Plástico 2020, publicado pela Fundação Heinrich Böll Stiftung, só no Brasil foram mais de 11 milhões de toneladas de plástico jogadas fora, o que colocou o País como quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, naquele ano.
“Grande parte do lixo vai parar em aterros sanitários ou é incinerado, gerando mais poluição e contribuindo para o aquecimento global. Os investimentos em reciclagem não são suficientes. Isso faz com que atores como os catadores de materiais recicláveis, por muitos invisibilizados, se tornem linha de frente da guerra contra o plástico e contra a Covid-19, pois são cada vez mais vulneráveis nessa cadeia do descarte instantâneo e contaminado”, aponta o relatório.
Com o intuito de mostrar que a solução está na correta destinação dos resíduos e que é possível criar uma cadeia circular de produção para o plástico, o Instituto SustenPlást promove, há sete anos, o programa Tampinha Legal. A iniciativa já recebeu mais de quatro toneladas de tampas plásticas em um único dia. O programa atingiu a marca de R$ 3 milhões arrecadados, que já foram destinados integralmente para mais de 330 entidades assistenciais do terceiro setor.
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O programa atua no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Goiás, Distrito Federal e Bahia. Em Minas, está presente nas cidades de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH); São Tiago, no Campo das Vertentes; Formiga, Lagoa da Prata e Piumhí, na região Centro-Oeste; Andradas, Brasópolis, Ipiúna, Machado e Três Corações, no Sul de Minas; além da Capital.
De acordo com a gerente do Instituto SustenPlást, Simara Souza, o Tampinha Legal atende aos quesitos de ESG, Logística Reversa e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), preconizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2015. Com os recursos obtidos através do programa, as entidades assistenciais podem adquirir medicamentos, alimentos, equipamentos, ração animal e/ou materiais escolares, bem como custear tratamentos e exames de saúde humana e animal, melhorias em suas sedes, entre outras ações.
“O Instituto SutenPlást é a forma pela qual a indústria de reciclagem de plástico se coloca a serviço da sociedade. Ainda existe um desalinho da sociedade quanto ao conhecimento relativo ao material plástico. Escolhemos as tampinhas – que são a menor parte de uma embalagem – recolhidas por mãos voluntárias, para que as pessoas percebam que é possível tratar corretamente esse tipo de resíduo, gerando uma cadeia produtiva circular e de maior valor agregado”, explica Simara Souza.
Em Minas Gerais, onde está há três anos, o projeto já recolheu mais de 1,2 milhão de unidades, somando 2,3 toneladas de tampinhas plásticas e arrecadou R$ 5.233,28.
As tampas são entregues por particulares em pontos de coleta identificados como participantes do projeto sob responsabilidade das entidades beneficiadas. A partir disso são separadas por cor e classificadas de acordo com instruções do Tampinha Legal e enviadas para um entreposto onde o material será pesado e calculado o valor a ser recebido, por meio do aplicativo do programa. A partir disso, será a vez do reciclador local parceiro fazer a coleta.
Nenhum dos participantes da cadeia paga para participar do projeto. O Instituto é bancado pelas empresas de reciclagem mantenedoras da iniciativa. Em Minas Gerais o entreposto fica em Betim. Para participar de qualquer fase do processo, empresas e entidades interessadas devem se inscrever no site do projeto e passar por um processo de verificação de documentos e conformidade.
“Buscamos parceiros que possam ajudar as ONGs a entregar o material nos entrepostos e também novos espaços que possam receber esse material. Minas Gerais é muito grande e precisamos diminuir as dificuldades logísticas. O Instituto SustenPlást faz essa intermediação organizando as rotas e a ocupação de espaços ociosos dentro da rotina das transportadoras fazendo com que as tampinhas não fiquem mais de 24 horas paradas dentro dos entrepostos”, pontua.
Mais ações com plástico
O Tampinha legal já gera frutos. O próximo passo é o projeto “Copinho Legal”, que segue a mesma lógica – recolhendo também pratos e talheres descartáveis – e já está rodando no Rio Grande do Sul.
Os dois projetos se inspiram em iniciativas em que o Brasil tem destaque mundial como o programa de reciclagem do alumínio, que apresenta índices que ultrapassam a marca de 98%.
A cadeia produtiva do plástico também tem um “case de sucesso planetário” para chamar de seu: a reciclagem das embalagens de insumos agrícolas. 94% das embalagens plásticas de insumos agrícolas colocadas no mercado são recolhidas, tratadas, recicladas e, desse total, 93% voltam a ser embalagens perfeitas, atendendo todas as normas técnicas de segurança e usabilidade. Tudo isso acontece por meio do Sistema Campo Limpo (SCL), que é o programa brasileiro de logística reversa de embalagens vazias e sobras pós-consumo de defensivos agrícolas, gerido pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV).
Mais de 260 associações de revendas e cooperativas fazem parte do SCL, e mais de 1,8 milhão de propriedades agrícolas atendidas (de acordo com o censo agrícola de 2017). De março de 2002 até dezembro de 2021 cerca de 650 mil toneladas de embalagens vazias foram destinadas adequadamente. Atualmente mais de 200 unidades estão licenciadas e aptas para atender agricultores que possuem embalagens com sobras de defensivos agrícolas nas propriedades. Desde 2015, mais de 400 toneladas desse material foram destinadas de forma ambientalmente correta.
“Escolhemos atuar junto às pessoas físicas porque a indústria já tem uma regra robusta estabelecida sobre a destinação de resíduos. A população no geral, entretanto, ainda tem pouco esclarecimento sobre a correta destinação dos resíduos sólidos urbanos. Trabalhando com essa população, nós temos um efeito multiplicador muito mais potente”, destaca.
O Tampinha Legal se insere dentro dos princípios do ODS 12: “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”. Todo esse trabalho está alinhado com o Movimento Minas 2032 – pela transformação Global (MM 2032), liderado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO. A iniciativa propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos ODS.
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