Poesia, psicanálise e ética unidos em novo livro

Com um percurso que desafia rótulos e conecta diferentes campos do saber, o mineiro Bernardo Monteiro de Castro lança, no próximo dia 11 de junho, seu mais recente livro de poesia, intitulado “Cancioneiro de silêncios”, às 19h, no Minas Tênis Clube I, em Belo Horizonte. A obra mergulha nas zonas de silêncio da linguagem, nas experiências subjetivas que a palavra não alcança – e celebra também uma vida dedicada à reflexão, à criação e ao ensino.
Psicólogo clínico há quase quatro décadas, Bernardo Monteiro de Castro construiu uma carreira que vai muito além do consultório. Doutor em Letras pela UFMG, com pesquisas que transitam por literatura medieval, mitologia comparada, história da arte e psicanálise, ele venceu, em 2004, o Prêmio Anpoll de melhor tese de doutorado em Literatura no Brasil, com um estudo original sobre um texto do século XIII escrito pelo rei de Leão e Castela, D. Afonso X, o Sábio. A obra foi publicada nos Estados Unidos e no Brasil, e trouxe contribuições inéditas ao categorizar o estilo gótico na literatura – uma lacuna que ainda não havia sido preenchida pelos estudos da época.
A interseção entre literatura e psicologia é uma marca de sua obra. Em sua tese, Bernardo Monteiro de Castro analisou a emergência do “si mesmo” (self) como manifestação estética e psíquica no Ocidente, perspectiva que norteou seu pós-doutorado na Universidade de Cincinnati (EUA). Lá, lecionou para cursos de graduação, mestrado e doutorado, desenvolvendo também uma segunda pesquisa na área da psicologia do desenvolvimento humano e resiliência.
Ao retornar ao Brasil, seguiu integrando o meio acadêmico com atuação em universidades, publicações científicas, participação em congressos internacionais e orientação de pesquisas. Ao mesmo tempo, passou a ser requisitado por empresas e instituições públicas para compartilhar seus estudos sobre ética, relações de poder e desenvolvimento humano. Ministrou aulas para o programa de mestrado da Câmara dos Deputados, em Brasília, e passou a integrar o corpo docente da Fundação Dom Cabral, como professor de Ética e Relações de Poder nas Organizações. Em 2019, publicou o livro “Liderança Ética e Resiliência”, que reúne reflexões construídas ao longo desse percurso.
Apesar da densidade de sua trajetória acadêmica, Bernardo Monteiro de Castro nunca se distanciou da criação literária. Ainda que escrevesse poesia desde a adolescência, apenas nos últimos anos decidiu publicar. Em 2020, lançou “Guerrilla” (Ed. Urutau), obra que marcou sua estreia com uma estética contemporânea radical. Em 2023, veio “Cuidado – versos de amor!”, publicada pela Opera Editorial e lançada durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Agora, com “Cancioneiro de silêncios”, o autor se aprofunda em um território paradoxal: o da poesia que tenta expressar o que escapa à linguagem – experiências tão íntimas e sutis que só o silêncio parece conter.
A nova obra será novamente destaque na Flip 2025, em julho, durante uma mesa promovida pela editora, onde Bernardo Monteiro de Castro falará sobre literatura, poesia e sua maneira peculiar de lidar com a língua portuguesa como instrumento sensível do pensamento.
Além da escrita, o autor também é um dos fundadores e coordenadores do Grupo Mineiro de Winnicott, coletivo dedicado ao estudo e à divulgação do pensamento do psicanalista britânico Donald W. Winnicott. No grupo, ele coordena eventos, ministra cursos e conduz grupos de estudos.
Com trânsito natural por temas diversos – mitologia feminina, espiritualidade, psicologia da adolescência, sexualidade, moda, arte e vinhos -, Bernardo Monteiro de Castro se tornou uma referência para públicos variados. Em 2019, criou o curso Mitologia do Vinho, a convite da instituição paulista Palas Athena, unindo cultura, história e simbolismo de diversas civilizações em torno da bebida, indo muito além dos mitos de Baco e Dioniso.
Esse trânsito interdisciplinar, aliado à profundidade com que se debruça sobre os temas, torna Bernardo Monteiro de Castro uma figura rara no cenário intelectual brasileiro – e um dos poucos que conseguem unir, com igual potência, razão, sensibilidade e beleza poética.
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