Promoção de livros a R$ 1 faz livraria de BH receber 10 mil clientes em menos de uma semana

Se os livros impressos tivessem valores mais acessíveis, chegando a custar R$ 1 cada, você leria mais? Para o público que passou pelo Outlet de Livro em Belo Horizonte nos últimos dias, a resposta é “sim”. O movimento de mais de 10 mil pessoas no espaço em apenas uma semana de promoção contesta a ideia de que, com toda sorte de tecnologia à mão, as pessoas não têm mais interesse em livros físicos.
“E nós somos a prova disso”, comemora o empresário, idealizador do Outlet de Livro, José Henrique Guimarães.
O período de promoção de livros a R$ 1 começou no dia 1° e vai até o dia 30 de abril na loja localizada na rua Paraíba, 1419, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte. A alta procura e fluxo de pessoas na livraria tem surpreendido o livreiro que, recentemente, até abriu vagas de vendedores para ajudar neste período de alta.
“É um projeto que está ganhando proporções inacreditáveis para mim, que já tenho anos de experiência como empresário. Eu nunca vi nada igual, e é muito gratificante que isso esteja acontecendo. Nosso slogan é ‘livros incríveis a preços acessíveis’, e para todos”, completa.
Ex-CEO do Grupo Acaiaca e formado em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Guimarães tem bastante experiência no mercado de livros. Foi presidente da Câmara Mineira do Livro no período de 1998 a 2002 e é fundador do Salão do Livro de Minas Gerais.

A livraria Outlet de Livro começou como um site de vendas, saiu da internet e ganhou loja física há cerca de seis anos.
Desde então, o negócio é mantido de forma perene ao longo do ano com preços acessíveis, ticket médio baixo e literatura para todos os gostos. Mas, durante todo este mês de abril, a empresa colocou cerca de 2 mil títulos à venda pelo valor de R$ 1,99. E para quem comprar 10 livros, o preço total sai a R$ 10, ou seja, cada obra acaba saindo por R$ 1 real no final.
“Eu vendo livro para o entregador de refrigerantes, para o porteiro aqui do lado, para a madame, pra gente do interior que passa por aqui, pra todo mundo. A verdade é que brasileiro gosta de promoção, e a gente, como empresário, precisa aprender a fazer isso. Eu acho que de modo geral, o varejo brasileiro é muito fraco para promoção, coisa que o e-commerce já aprendeu”, observa o empresário.
Conforme analisa, o comércio digital tem ferramentas potentes à mão para alavancar este setor, mas é possível avançar no varejo físico com algumas estratégias, acredita. “O e-commerce tem o e-mail marketing por exemplo, que ajuda a capturar muito mais informações de clientes. Para comprar on-line, você tem que, obrigatoriamente, fazer um cadastro. Então, eles têm muito poderio de marketing digital”, diz.
Estratégias ajudam a triplicar o faturamento mensal
Surfar na onda do gosto dos brasileiros por promoções é uma das estratégias para vender mais. “O preço médio máximo de livros aqui é R$ 30. Você vai encontrar preços acessíveis durante todo o ano. Eu vendo clássicos da literatura, por exemplo, a três livros por R$ 55. Agora, essa promoção ‘maluca’ de livros a R$ 1, vamos ampliar para quatro vezes ao ano”, revela Guimarães.
A ideia é colocar a promoção de livros nos períodos de férias e de baixa nas vendas, que são:
- janeiro,
- abril,
- julho e
- outubro.
Outra estratégia que impactou na alta procura foi a ampla divulgação da “promoção incrível”, antes mesmo da data de início.
“Desde a semana anterior à promoção o povo estava vindo em busca dos títulos a R$ 1. Teve dia que a loja ficou lotada. Mas, infelizmente, a gente não podia vender ainda naquele momento porque seria desleal com quem estava esperando chegar o período de promoções”, conta.
Ele acredita que o movimento da primeira semana de abril é o de maior impulso nas vendas, porque as pessoas tendem a correr na loja com a ideia de comprar logo antes que acabe. O fato é: não vai acabar. As bancas de livros promocionais são renovadas diariamente, não é como se fosse uma “xepa”. O estoque da loja conta com 150 mil livros e cerca de 20 mil títulos.
“Colocamos títulos novos todos os dias na loja e as pessoas acabam voltando para caçar as novidades, as raridades. E, pelo preço, tem muita gente que acha que são livros usados, mas não. São livros novos com preços ótimos. Em período de promoção assim, atingimos quase o dobro de nosso faturamento mensal”.
Já para este mês de abril, ele estima ainda mais. “A gente deve faturar três vezes e meio o faturamento normal que seria de um mês dentro da nossa previsão típica, porque a promoção é longa também, dura o mês inteiro”, comenta.
A estratégia adotada no Outlet de Livro para todo o ano, e não somente nos períodos de promoções, é a própria visão de negócio, que é manter o ticket médio baixo. Ou seja, manter os produtos da loja sempre a preços acessíveis.
Planos de ampliação para a internet
O próximo passo é estruturar um novo site para a empresa, que possa atender a todo o Brasil. A ideia é uma resposta aos inúmeros pedidos que a livraria recebe no Instagram sobre a venda de seus produtos pela internet.
“A gente quer fazer algo muito parecido com o que acontece na loja. Os preços baixos e a personalização também no site”, adianta o empresário José Henrique Guimarães.
Mas mais do que acelerar as perspectivas futuras, Guimarães prefere sentir o momento. “Acho que ainda estamos naquela fase de testar o modelo de negócios. A gente tem tido sucesso, é verdade, mas confesso que a surpresa é tamanha que eu preciso entender com calma o que está acontecendo. Na minha carreira de empresário, eu já fui muito acelerado. Agora, quero ir com mais calma”, diz.
Mesmo assim, ele diz estar sempre aberto a parcerias, embora não acredite que este seja o momento para franquear o negócio, por exemplo.

“Queremos ampliar o nosso negócio no futuro, mas acho que franquear é mais vantagem se você for o produtor da mercadoria, e a gente não produz. Então, acho muito difícil isso acontecer por enquanto, mas está no radar”, comenta.
Manter o preço baixo para lucrar mais
Com os pés no chão, o plano para um futuro mais próximo, então, é consolidar o modelo que está dando certo, ampliar as categorias de livros e o portfólio de produtos. Para isso, Guimarães busca “convencer” as editoras de que manter o preço baixo pode, sim, ser um negócio lucrativo.
“Estamos com uma adesão cada dia maior de editoras, mas nem todas têm uma política comercial que seja aderente a este modelo. E tudo bem também, o nosso acervo já é um acervo completo. Nosso cliente não quer o livro mais vendido da história, ele quer livros incríveis a preços acessíveis. Mas é preciso, sim, fazer uma ‘evangelização’ com os fornecedores”, explica.
Guimarães pretende também, nos próximos meses, ampliar o portfólio de produtos para itens de papelaria e brinquedos pedagógicos, por exemplo.
“Desde que os novos itens tenham aderência com o nosso mix. Eu não quero vender aqui a caneta Parker, eu quero vender ticket baixo e produtos que têm a ver com a loja. Por exemplo, eu vendo livros para colorir, então faz sentido se a gente colocar lápis de cor e giz de cera para vender, entende?”, conclui.
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