Do recrutamento à motivação, jornada do colaborador precisa ser melhor

Na era da digitalização das relações e dos negócios, da automação dos processos e onde as novas tecnologias se tornam acessíveis cada vez mais rapidamente, as empresas já entenderam que o diferencial está em algo que elas são obrigadas a ter e que, historicamente, prestaram pouca atenção: as pessoas. Recrutamento, seleção e motivação eficientes de bons profissionais é uma trilha obrigatória para os bons resultados de qualquer equipe.
Criatividade, inovação, capacidade de improviso, reação a comportamentos emocionais, entre outras capacidades, são habilidades intrinsecamente humanas e cada vez mais decisivas na tomada de decisão por uma compra ou a escolha de um fornecedor.
O cenário atual é desafiador para as empresas. Não bastasse o envelhecimento da população e a consequente diminuição de mão de obra a ser treinada, uma mudança cultural importante se deu nas últimas décadas, resultando em uma geração bem menos apegada aos lugares e empresas. A capacidade de mudar de emprego e de País com facilidade e a adaptação ao trabalho remoto, a coloca em condições de escolher não só para quem trabalhar, mas também de que lugar quer trabalhar.
Um estudo realizado pela Global Hopes and Fears 2023, da PwC, apontou que 25% dos brasileiros planejam trocar de emprego nos próximos 12 meses e a falta de oportunidade de crescimento é um dos principais fatores para essa mudança.
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Assim, o esforço das empresas precisa começar no recrutamento. Não basta abrir uma vaga, é preciso “vendê-la” para os possíveis candidatos. A partir disso, é preciso criar a chamada “experiência ou jornada do colaborador” que se prolonga por uma constante política de treinamentos e capacitações, engajamento e motivação. A simples “retenção” é um conceito que está ficando no passado.
De acordo com o gestor de RH do Grupo Selpe, Douglas Gradim, as principais tendências contemplam a valorização das soft skills, o desenvolvimento de competências de liderança e o perfil profissional dos candidatos. Além disso, temas como inteligência artificial (IA) e modelo híbrido também estarão em destaque.
“Já faz bastante tempo que o problema não é escassez de mão de obra qualificada, mas de mão de obra no geral. Para se manterem competitivas, as empresas precisam avaliar o mercado, entender com quem elas concorrem, o quanto está sendo pago aos profissionais. Hoje tem mais empresas buscando colaboradores do que candidatos dispostos a entrar no mercado”, afirma Gradim.
O employee experience – experiência do colaborador- assegura um ambiente de trabalho mais harmônico, culturas organizacionais saudáveis e oportunidades de crescimento. Para o colaborador, tudo isso se reflete no aumento da satisfação, engajamento e desenvolvimento. Empresas que adotam essa estratégia destacam-se como empregadoras preferenciais, atraindo os melhores talentos e mantendo as equipes engajadas.
Decisão de pedir demissão vai além da motivação e pode ter origem ainda no recrutamento
O e-book “Por que bons funcionários pedem demissão”, publicado pela VR Benefícios no início de 2023, lista as tendências para os próximos anos e destaca a transparência na relação entre empresa e empregados como algo fundamental. Do recrutamento, com informações sobre o salário logo na divulgação das vagas de trabalho, até o modelo de negócios com mais flexibilidade, análise de dados e liberdade com responsabilidade, como aquele adotado por startups. Também estão na lista:
- Valorização das soft skills, como criatividade, inteligência emocional, iniciativa e capacidade de se reinventar, em vez de valorizar unicamente o currículo acadêmico e as experiências profissionais de cada candidato.
- Organizações menos hierárquicas e lideranças mais estratégicas para alinhar os times.
- Trabalho híbrido ou remoto, em vez do modelo 100% presencial.
“Todo mundo sempre procurou saber como era a empresa onde ia trabalhar, mas isso se tornou muito mais evidente nos últimos anos. A experiência é olhar para o colaborador e mostrar que ele está no foco da decisão da empresa. Hoje as pessoas tomam decisões baseadas nos depoimentos que estão na internet. É importante que a empresa viva um propósito. O colaborador fica porque se sente parte e que é cuidado pela empresa. A liderança tem que trocar o pneu com o carro andando. O líder que não entende as exigências do mercado fica para trás. Ele deve buscar atualização e estar pronto para reaprender as coisas. Além disso, no dia a dia estar próximo das equipes, ouvindo e participando”, pontua o executivo.
A Inteligência Artificial é ferramenta para identificar nível de satisfação
O estudo “Panorama de Carreiras”, conduzido pela TOTVS – empresa brasileira de tecnologia -, destaca que, quando se trata de hard skills (habilidades técnicas), a inteligência artificial lidera, sendo mencionada em 48% das demandas dos gestores ao contratar profissionais de RH.
É possível, por exemplo, utilizar a IA para avaliar o desempenho dos colaboradores, prevenindo possíveis casos de turnover por meio da análise de dados históricos e indicadores de engajamento.
“Hoje existe IA está em qualquer tipo de empresa. Ela ajuda nos processos de recrutamento e seleção, analisar currículo, prever o modelo de trabalho, fazer a integração quando o colaborador chega à empresa, montando algo específico para aquela pessoa. A inteligência artificial é um conjunto de ferramentas muito útil para dar suporte ao colaborador desde o recrutamento, sendo capaz de acompanhar a jornada, subsidiar decisões e montar estratégias de motivação”, destaca.
Outro ponto crítico na relação entre empresa e colaborador é o modelo de trabalho. O advento do trabalho remoto no Brasil como opção nos anos de pandemia foi bem absorvido pelos trabalhadores e hoje conta muito na decisão de aceitar e se manter ou não em um posto de trabalho.
A pesquisa “Tendências e Perspectivas do Trabalho”, da WeWork Latam em parceria com a Page Outsourcing, apontou que a modalidade presencial aumentou de 10% para 18% na América Latina no último ano. O trabalho no modelo híbrido reduziu em 14%, passando de 78% para 64%, mas continua representando o maior contingente entre os entrevistados. O número de profissionais que trabalham de casa passou de 12% para 18%. Revelou também que 94% dos trabalhadores entrevistados não gostariam de trabalhar exclusivamente de maneira presencial.
“A empresa precisa olhar de maneira sensata os talentos que tem e os que precisa conquistar. Ações como programas de qualificação, de sucessão, políticas de remuneração tem que ser feitas de antemão, não na hora em que o colaborador avisa que decidiu sair. Quando ele sente que não é visto, não há pertencimento e motivação. A empresa não perde só a pessoa, mas tudo o que ela carregava de conhecimento e relacionamento para dentro e para fora da empresa”, alerta o gestor de RH do Grupo Selpe.
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