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RH é fundamental para crescimento das PMEs, diz co-CEO da Sólides

Alessandro Garcia destaca que as práticas de RH não podem ser um fim em si mesmas
RH é fundamental para crescimento das PMEs, diz co-CEO da Sólides
Crédito: Divulgação Sólides

Junto com Mônica Hauck, Alessandro Garcia fundou, em 2010, o maior portal de RH da América Latina, a Sólides HRTech. Sediada em Belo Horizonte, a empresa de tecnologia é líder no Brasil na gestão de pessoas de pequenas e médias empresas. A companhia oferece soluções inovadoras e metodologias exclusivas que ajudam na atração, desenvolvimento e retenção de talentos – reduzindo a taxa de rotatividade e aumentando as vantagens competitivas do negócio. 

Formado em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com pós-graduações em Berkeley e Stanford – duas das mais prestigiadas universidades dos Estados Unidos -, ele é o lado analítico/planejador da Sólides.

Em 2022, a plataforma recebeu o maior aporte já feito em uma HR Tech na América Latina, R$ 530 milhões – liderado pelo fundo Warburg Pincus, e expandiu, no mesmo ano, seu negócio com a compra do Tangerino, solução completa para automação de processos de Departamento Pessoal. 

E, neste ano, adquiriu a Folha de Pagamento Digital, se consolidando como a one stop shop das PMEs. Atualmente, contabiliza mais de 30 mil clientes, totalizando mais de oito milhões de vidas impactadas pela plataforma.

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Nessa entrevista exclusiva, Alessandro Garcia fala sobre as mudanças no RH nas últimas décadas, atração e retenção de mão de obra, estratégia e claro, sobre o futuro da Sólides. 

Vocês começaram em 2010 e, naquela época, se falava no RH 2.0, estratégico, se descolando das funções operacionais e ficando mais perto do board, cuidando e entendendo o negócio. De lá pra cá, muita coisa aconteceu, inclusive uma pandemia, que acelerou a transformação digital da vida e dos negócios de modo geral. Nesse tempo, os departamentos de recursos humanos mudaram de nome várias vezes. Fazendo uma provocação: nós chegamos àquele futuro prometido ou o futuro é sempre outro?

Eu acho que a gente chegou, mas o futuro ainda está mais para frente. Realmente, a gente mudou muita coisa. Como você falou, o RH mudou de nome, mudou de mãos também, porque ele já foi do contador, do psicólogo, do administrador, do advogado. Aprendemos muito desde 2011. O trabalho que a gente se propôs a fazer foi muito de conduzir o profissional de RH para transformar a empresa onde ele estava através das pessoas. Então, a parte de educação sempre foi muito forte desde lá atrás. O compartilhamento de conteúdo, cursos, usando tecnologia para entregar isso. 

Você pode dar alguns exemplos?

Sempre entendemos que as práticas de RH não são o fim em si mesmas. O profissional não tem que fazer festa de aniversário por festa de aniversário. Ele tem que fazer festa de aniversário com o objetivo de engajar as pessoas, de tornar o ambiente agradável e fértil para crescer e produzir. E, com isso, ele consegue impulsionar a empresa e as pessoas. Esse é o ciclo que a gente sempre acreditou. Lá atrás a gente fazia pesquisa, perguntávamos qual era a principal dor do RH. Dois em cada três falavam que não eram valorizados. E isso acontecia muito porque o profissional não sabia qual era o papel dele. Hoje isso já não é o principal problema. Ele já consegue interagir e gerar valor dentro da empresa de uma forma muito positiva. Hoje está sentado à mesa com a diretoria conversando coisas relevantes em relação à direção da companhia. Agora, no futuro, eu acho que o RH vai ter um papel ainda mais importante em relação ao desenvolvimento de pessoas. Teremos que aprender coisas o tempo inteiro para manter a nossa produtividade e performance, evoluindo à medida que a tecnologia avança. O desafio do RH é trazer as pessoas para dentro desse movimento e capacitá-las a usar essas ferramentas, porque vai ser crucial para a gente conseguir se manter atualizado.

Então, podemos ter esperança de que o “humano” vai continuar fazendo, realmente, a diferença?  É do ponto de vista da estratégia que a máquina não vai conseguir nos substituir? Ela vai nos subsidiar, mas não vai fazer sozinha, certo?

Sim. Dá medo na hora que a gente ouve a expressão “inteligência artificial”, mas acho que as revoluções acontecem, mas a gente consegue sempre sobressair. Na Revolução Industrial, o que as pessoas tinham de mais valioso era a força de trabalho. E elas foram substituídas ali. Mas logo vimos que somos mais inteligentes do que as máquinas. De novo vamos achar a nossa nova qualidade que a máquina não consegue substituir. A princípio, eu penso sobre relação humana. Isso a máquina não consegue trazer e vai ser desse valor que vamos conseguir extrair todo o potencial para entregar o que as outras ferramentas não vão conseguir. Acho que sempre seremos assombrados por uma revolução industrial e seguiremos em frente.

Durante a pandemia a transformação digital ganhou força e balançou as estruturas com as quais estávamos acostumados. Se os colaboradores não tinham experiência com aquele mundo novo que surgiu em 2020, o profissional de RH tampouco. E ele tinha que cuidar de si, da família, dos colaboradores e treinar os líderes. Era muita coisa ao mesmo tempo.

Esse desafio nos colocou diante de cenários que ninguém imaginava. Tivemos que aprender tudo muito rápido. Óbvio que isso teve um custo mental para todo mundo. Mas a coisa se estabilizou numa operação razoavelmente normal em curto espaço de tempo. A gestão de pessoas não só com o RH. Acreditamos que ela está na mão dos gerentes também, dos supervisores. Eles fazem a gestão no dia a dia. 

E isso aconteceu também dentro da Sólides enquanto provedora de soluções?

As empresas de tecnologia que forneciam, principalmente, ferramentas de intercomunicação de chat, de reunião on-line, explodiram nesse momento. Nós crescemos de uma forma mais contínua e perene. E existe um reflexo disso até hoje. Desde o início, tínhamos a visão de sermos uma plataforma completa. E, sim, aceleramos muito em relação tanto à densidade de produtos quanto à amplitude nesse período. Conseguimos ir para áreas que não imaginávamos, como benefícios e produtos adjacentes. Começamos a ofertar para o RH uma jornada completa. Conseguimos acelerar e até enxergar outros problemas para a gente resolver, para tornar a vida profissional de RH mais fácil.

A possibilidade de ter tudo isso na palma da mão do gestor, em um aplicativo, especialmente do pequeno e do médio, faz muita diferença porque essas empresas não têm back office forte o suficiente para dar conta do tanto de obrigação que uma empresa tem no Brasil?

Exatamente. Uma coisa que a gente sempre ouviu do RH é que ele não tinha os recursos humanos suficientes para fazer tudo o que precisava. Os empresários não costumam investir no RH porque não existem recursos. É compreensível. Mas eu acho que via ferramenta tecnológica, ele vai conseguir integrar as coisas. E, assim, ter mais capacidade para focar no que realmente vai mexer no ponteiro da empresa, ao invés de ficar preenchendo papelada. Integrado, ele não perde nem a informação e nem a jornada. Isso tem levado resultado para os nossos clientes. O Brasil é um país de pequenas e médias empresas. Eu acho que estamos ajudando também a movimentar a economia. 

Você brincou com recursos humanos sem recursos humanos, e eu vou aproveitar para perguntar sobre os seus recursos humanos nesse cenário global de escassez de mão de obra. Vocês consomem o Portal de Vagas (ferramenta disponível no portal da Sólides) para achar as suas pessoas alinhadas com o que vocês acreditam ou é uma dificuldade para o Alessandro Garcia também? 

A gente usa todas as ferramentas. Existe um déficit gigante de pessoas de tecnologia no Brasil como um todo. Mas como a gente vive e respira isso o tempo inteiro, acho que temos menos dores nessa área do que outras empresas.

Pensando na competição por talentos, o Brasil sempre exportou mão de obra, mas com a popularização do trabalho remoto, isso ficou ainda mais evidente porque as pessoas não precisam mais se mudar para trabalhar em uma empresa fora do País. Isso é cruel com as empresas, especialmente para as menores, porque como competir com esse empregador que paga com uma moeda mais forte sem ter que sair do aconchego de casa? 

Eu acho que é até normal e natural essa dificuldade de contratação, essa competitividade no mercado. Na verdade, acho que até se acontecesse mais, melhor seria para a economia, como um todo. A pessoa recebe em dólar, mas acho que a maioria do recurso é gasto aqui. Para a pequena empresa lidar com esse desafio, ela tem que entender o que tem que implementar de benefício para se tornar atrativa. Tem que evoluir o seu nível de gestão de pessoas para conseguir oferecer ambientes bons e competitivos. 

Nos dois últimos anos mais que dobraram o número de clientes. Claro que são vários fatores que explicam, como o lançamento de produtos e o investimento Warburg Pincus. Mas só dinheiro não explica. Como Alessandro Garcia explica o crescimento da Sólides? 

Acho que é muita energia e foco. Você tem que colocar o alvo na frente, despender energia e se cercar de gente boa. Está aí o nosso time. E, claro, alguma sorte no meio do caminho. Realmente crescemos bem mais do que o mercado. Até no mercado de tecnologia, os números que a gente tem são muito bons. E não só os indicadores de crescimento, mas de saúde do negócio como um todo. 

Agora vamos falar de mineiridade. Imagino que a criação da Sólides aqui, manter sede aqui, também gere, no mínimo, curiosidade de parceiros. Vocês poderiam estar em qualquer lugar do mundo e migrar para São Paulo, talvez, fosse uma opção natural quando começaram a crescer. Qual a beleza e a dor da mineridade?

A economia brasileira acontece principalmente em São Paulo. É onde as coisas fluem mais rápido e melhor. Mas Minas Gerais – principalmente Belo Horizonte e Uberlândia – tem o ecossistema de tecnologia mais rico do País. Investidores veem aqui e falam “isso que vocês têm aqui não se vê em outro lugar”. Sempre houve uma interação e abertura para troca de conhecimento. Isso acelerou muito as empresas de tecnologia aqui em Belo Horizonte. Aqui você tem oportunidade de crescer com gente muito fora da curva. Então, acho que a beleza está nessa conexão de empresas e esse celeiro de tecnologia que temos aqui. E eu acho que a dor é, realmente, velocidade de mercado. A gente está todo dia no “voo do padeiro”, às seis da manhã. A gente pega o avião para São Paulo e no final do dia volta. 

Já falamos de algumas ferramentas novas, alguns serviços mais recentes. Mas o que a gente já pode antecipar aí para o nosso público de soluções, serviços que a gente terá nos próximos meses? Qual é o futuro da Sólides? 

Nosso papel é fazer as pequenas e médias empresas funcionarem bem. Conseguimos reduzir, em média, 43% da rotatividade de mão de obra nas operações dos nossos clientes. Com essa economia, elas conseguem alavancar, avançar, dar certo e crescer. Isso gera um impacto gigantesco na economia. E a gente hoje ainda só tem 30 mil clientes. Esse número parece muito, mas dentro de um universo de três milhões. Então a gente tem muito trabalho ainda para mostrar e levar esse valor para as empresas. Acho que o futuro da Sólides passa por a gente conseguir ajudar o máximo de pequenas empresas possível.

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