Romance revisita os anos de repressão no Brasil

A ficção não funciona apenas como entretenimento, porque ela também pode ser uma forma de lutar contra o apagamento da memória. Esse é o compromisso do escritor Carlos Augusto Galvão com seu livro “Quando caem as cinzas”, que narra um dos momentos mais sombrios da história brasileira: a ditadura militar.
O protagonista da trama é Benedito, um jovem recém-formado e idealista que inicia sua carreira médica em Marabá, mas se depara uma Amazônia rodeada de conflitos políticos. Até então alheio à política, ele se depara com o drama de civis desaparecidos, perseguições e mortes promovidos pelos órgãos de repressão, além de se envolver com a causa dos membros da Guerrilha do Araguaia.

A obra ficcional foi construída a partir das lembranças do autor acerca da ditadura. “Toda a minha adolescência e início da idade adulta minha vida foi perturbada pela ditadura militar. Observo que essa violência está sendo esquecida pelas novas gerações, e têm algumas pessoas que deturpam a história para enaltecer a ditadura. Porém, ela não pode cair no esquecimento nacional”, explica ele. Confira a entrevista completa.
Seu romance mescla ficção e realidade ao retratar a repressão militar no Araguaia. O que motivou a escolha dessa temática e por que ela continua urgente nos dias de hoje?
Toda a minha adolescência e início da idade adulta minha vida foi perturbada pela ditadura militar. Observo que essa violência está sendo esquecida pelas novas gerações, e têm algumas pessoas que deturpam a história para enaltecer a ditadura. Porém, ela não pode cair no esquecimento nacional, para que nunca seja repetida. Este romance é minha contribuição para isso.
O protagonista Benedito é um médico idealista que se vê diante de um cenário de violência e silenciamento. De que forma sua vivência como médico influenciou a construção da narrativa?
Como o personagem, iniciei minha vida profissional naquela região. Muito vi, muito ouvi falar e muito me revoltei. Entre outras coisas, emprestei esta minha vivência para construir a narrativa.
A Amazônia aparece em seu livro não apenas como cenário, mas como território simbólico de luta e apagamento. Como foi o processo de pesquisa e escrita para retratar essa região e esse período com tanta densidade?
Eu sou de lá. Nasci no coração da Amazônia, esta região de povo tradicionalmente rebelde e guerreiro.
A estrutura em primeira pessoa dá ao romance uma dimensão quase confessional. Como essa narrativa contribui para a força do relato?
Se tem um escritor que me influenciou, foi o Finlandês Mika Waltari, romancista que descreveu muito da história da humanidade em romance e sempre na primeira pessoa. Digo que Mika é meu mestre. Escrevendo na primeira pessoa, consigo transmitir emoções com mais intensidade. E as limitações deste método procuro vencer com histórias paralelas sempre relacionadas ao texto principal. Em meus dois romances usei deste artificio
Que impacto espera que esse livro tenha especialmente entre os leitores mais jovens?
Que se conscientizem do que foi a ditadura, em contraponto aos que a justificam, a renegam e a enaltecem. Desejo que meu leitor sinta e fique com raiva da ditadura.
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