De carro voador a Ozempic: Vale da Eletrônica movimenta R$ 3,2 bilhões e mira expansão até 2026
 
                            A indústria de tecnologia de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, avança em ritmo acelerado e consolida o município como um dos principais polos de inovação do País. No chamado Vale da Eletrônica, são desenvolvidas peças que vão de componentes para carros voadores a tecnologias utilizadas na produção de medicamentos de alcance global, como o Ozempic. O desempenho reflete a força local, que integra empresas, instituições de ensino e mão de obra qualificada em uma rede de inovação contínua.
O ecossistema, que se mistura com a própria cidade, movimentou, em 2024, R$ 3,2 bilhões em projetos e prevê chegar a R$ 3,5 bilhões em 2026. Ao todo, mais de 150 empresas nas áreas de eletroeletrônica, telecomunicações, automação, IoT e serviços se complementam e desenvolvem juntas soluções que ultrapassam as fronteiras estaduais e nacionais.
Um dos grandes diferenciais da cidade, segundo o gerente da Regional Sul do Sebrae Minas, Rodrigo Pereira, é a força do Arranjo Produtivo Local (APL). Além de integrar empresas, o modelo facilita a troca de conhecimento e o desenvolvimento de soluções sob medida para diferentes setores.
Hoje, várias empresas locais são oriundas de incubadoras, sendo 90% compostas por microempresas capazes de fornecer soluções que impulsionam grandes negócios. “A maioria dos produtos desenvolvidos chega a envolver 27 soluções de negócios, uma cadeia muito grande. Isso torna Santa Rita do Sapucaí um celeiro de novas startups e tecnologias”, acrescenta Pereira.
Foxconn amplia atuação em Santa Rita
Fundada em 2010, como braço da multinacional taiwanesa Foxconn, a Fênix se destaca na montagem e submontagem de componentes eletrônicos para diferentes marcas. A planta em Santa Rita do Sapucaí é pioneira em atender diversos mercados e possui o maior número de certificações do Brasil, como em meio ambiente, fabricação de dispositivos médicos e partes eletrônicas para veículos.

Segundo o gerente de operações da Fênix, Diego Barros, a tropicalização da tecnologia representou uma porta de entrada para a produção local de equipamentos e componentes originalmente desenvolvidos no exterior. Com isso, projetos e processos foram adaptados ao contexto brasileiro, seja por questões climáticas, logísticas ou de custo, abrindo oportunidades para fabricar no País produtos destinados tanto ao mercado interno quanto ao exterior.
Atualmente, a fabricação de componentes para o setor automotivo, como peças para iluminação de veículos, corresponde a 90% da produção total da planta em Santa Rita do Sapucaí. “Foi uma virada que ocorreu em 2019 e hoje somos uma das principais fornecedoras do País em iluminação”, ressalta o executivo.
Ao todo, a Fênix produz 250 mil peças por mês no Vale da Eletrônica. Além de peças de iluminação para grandes marcas, como Stellantis e Volkswagen, também são fabricados componentes para impressoras, como placas-mãe, hoje voltadas à impressão térmica, e que no próximo ano devem abranger também modelos a jato de tinta.
Empresa mineira que modernizou plantas do Ozempic investe em inteligência artificial
Fundada em 1976, a Sense foi uma das primeiras empresas a compor o polo de tecnologia em Santa Rita do Sapucaí. Pioneira no segmento de automação industrial no Brasil, a marca foi adquirida em 2024 pela multinacional americana TE e hoje fornece equipamentos que modernizam e aceleram produções no campo das ciências para a vida, como o Ozempic, desenvolvido pela Novo Nordisk.
O gerente de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de novos produtos da Sense, Sérgio Bertoloni, comenta que a empresa foi responsável por automatizar todas as plantas da farmacêutica dinamarquesa e agora projeta uma escala agressiva de crescimento sob novo comando. “Criamos uma cultura de patentes em Santa Rita, e isso nos alavancou em linhas de produto. Hoje somos um berço de desenvolvimento e competimos com empresas alemãs”, destaca.

Atualmente, a empresa está na terceira geração de produtos voltados à automação de válvulas e produz, em média, 35 mil unidades por mês no polo de Santa Rita do Sapucaí. Para 2026, a expectativa é aumentar em 10% a produção e conquistar novos mercados, como a expansão para o continente europeu.
De olho no futuro, a inteligência artificial também faz parte dos planos do negócio, que iniciou um projeto de aplicação do metaverso ao universo da indústria 4.0. “Em um determinado momento, vamos interagir na planta e mostrar a instalação de peças sem precisar estar presente fisicamente na área”, revela o gestor.
*o repórter viajou para Santa Rita do Sapucaí a convite do Sebrae Minas
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