Será que devo investir nesta startup? O brilho nos olhos
Bruno Pfeilsticker*
Nesta série de ensaios tenho falado sobre vários aspectos ponderáveis no processo de decisão de investimento em uma startup. Discutimos uma tipologia dos momentos distintos deste perfil de empresa, falei sobre os tipos de investimento e os agentes envolvidos nos mesmos, elencamos alguns critérios de seleção, alternativas para mitigação de riscos e, por último, apresentei a necessidade do uso de ferramentas de gestão para suportar o crescimento organizado de um empreendimento exponencial. Quero agora falar um pouco sobre o imponderável.
Um bom negócio pode demonstrar seu potencial logo de cara. Seja por números indicativos de desempenho, por uma dor a ser atendida extremamente relevante, uma solução muito diferenciada, entre outros. Entretanto, pode ser que este potencial não seja realizado, por uma série de fatores, sobre os quais já discutimos em outros momentos. Por outro lado, um negócio pode também não demonstrar seu potencial de forma evidente (e prosperar posteriormente), como, por exemplo, no caso de projetos visionários que estão focados em oportunidades que ainda irão emergir, ou em perfis de mercado que ainda irão amadurecer. A verdade é que, por mais que busquemos acertar em nossas escolhas de investimento, é difícil definir se um negócio irá ou não ter sucesso.
Investir em startups não é uma ciência exata, por mais que nos embasemos nas estatísticas para construir nossas teses de resultados. Interessante perceber ainda que estes mesmos números que muitas vezes utilizamos são oriundos de ecossistemas diferentes e bem mais maduros que os nossos. Otrack record de nosso ecossistema é limitado e, de fato, estamos construindo nossos números e história ao longo de nossas derrotas e vitórias.
Assim, gosto de dizer que existe um fator que pode, em alguns casos, sobrepor uma avaliação de alguma determinada oportunidade. O brilho nos olhos e a paixão demonstrada nas atitudes e palavras podem mudar uma percepção. Um time de startup que faz o coração de um investidor bater mais forte é, em alguns casos, um fator diferenciador para uma tomada de decisão ou escolha entre diferentes oportunidades.
Depois de quase 20 anos trabalhando com inovação em grandes empresas e em startups, penso que não há, no fundo, uma “receita de bolo” neste processo de tomada de decisão de investimentos. É claro que temos de usar todas as ferramentas e atalhos possíveis, buscar criar nossas referências e bases o quanto antes, mas em um mundo cheio de riscos e fatores imponderáveis, é também importante o brilho dos olhos dos empreendedores nos mostrar o caminho, algumas vezes.
*Sócio-diretor da DMEP
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