Setor de audiovisual cresce em Minas, mas necessita de políticas públicas

Lançado ontem, o “Diagnóstico Socioeconômico do Setor Audiovisual em Minas Gerais”, realizado pela ONG Contato e pelo Sebrae Minas, em parceria com a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Face/UFMG), descortinou um setor pujante, mas que ainda carece de organização e políticas públicas permanentes. O mapeamento analisou dados econômicos, de 2014 a 2021, oriundos de instituições como Receita Federal, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério do Trabalho e da Previdência.
De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora do Departamento de Economia da UFMG, Ana Flávia Machado, o setor está em ritmo de efervescência, beneficiado pela confluência de vários fenômenos que configuram o paradigma da digitalização, quais sejam, o processamento em nuvem, a ampliação de dispositivos móveis, a convergência digital, oferta de serviços de streaming, a hiperconectividade e a expansão da velocidade na internet.
Foram analisados os segmentos de cinema, publicidade, jogos digitais e produção de vídeos institucionais. Os municípios com maior especialização no setor são, segundo a pesquisa, Belo Horizonte, Nova Lima (na região metropolitana) e Uberlândia (Triângulo Mineiro).
“As evidências em geral são similares, apontando seu crescimento no Estado e, particularmente, em municípios, considerando-se pelo nível de ocupação e número de estabelecimentos. As regiões Metropolitanas de Belo Horizonte (RMBH) e do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba se destacam como polos, embora alguns municípios não situados nessas localidades também se destacarem no período entre 2014 e 2020”, explica Ana Flávia Machado.
A concentração dos profissionais e serviços nessas regiões pode estar atrelada ao próprio desenvolvimento da economia dos municípios e à formalização dessas atividades, já que os dados utilizados não captam os profissionais que trabalham na informalidade. Isso pode justificar a ausência de municípios historicamente importantes para o audiovisual mineiro, como Cataguases (Zona da Mata), por exemplo.
Belo Horizonte se destaca nacionalmente. Nesse período, entre 2014 e 2021, o audiovisual brasileiro apresentou uma expansão de 30,72%. Em Minas Gerais, esse crescimento foi ainda maior (52,21%), provavelmente impulsionado pela evolução bastante significativa na Região Metropolitana de Belo Horizonte (104,96%) e, sobretudo, em Belo Horizonte com taxa de 110,71%. Quando se analisa por capitais, os vínculos formais em Belo Horizonte apresentam bom desempenho, atrás de Porto Alegre (RS) e de São Paulo (SP).
Para a produtora cinematográfica e ex-diretora da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Débora Ivanov, é muito importante a continuidade desse tipo de estudo.
“É na série histórica que conseguimos construir políticas públicas eficientes. Fiquei bastante impressionada com a evolução de Minas Gerais em plena crise econômica. É muito importante fazermos audiovisual fora do eixo de São Paulo. Há 20 anos tudo se falava a partir de lá. Se íamos falar da Amazônia, era São Paulo que respondia. É uma alegria ver essa potência que já existia em Minas Gerais se concretizando”, avalia Débora Ivanov.
A análise dos dados secundários mostra que o segmento responsável pelos jogos e softwares estão em expansão significativa e tem uma participação grande dentre os setores analisados. Outros setores, mais tradicionais à atividade de produção audiovisual como cinema, publicidade e vídeos institucionais, apresentaram dinâmica diferente com algumas reduções e estabilidade.
Carência de indicadores
Segundo o coordenador da ONG Contato, Helder Quiroga, o setor de audiovisual brasileiro é carente de indicadores e essa e outras pesquisas são fundamentais para o desenvolvimento do setor.
“Hoje iniciamos o processo de trabalho com essa pesquisa. Em se tratando da cadeia produtiva do audiovisual, estamos falando de uma cadeia de cauda longa, então nem sempre o resultado aparece logo depois do investimento. Os dados mostram que houve crescimento da atividade audiovisual e que ela está se espalhando pelo Estado. Isso é muito positivo. O principal elemento de fortalecimento do mercado audiovisual mineiro é uma estabilização nas políticas de fomento nos níveis federal, estadual e municipal. A partir da continuidade desses investimentos de maneira estratégica e em diálogo com o setor, teremos o crescimento mais sustentável da cadeia produtiva e do mercado em geral”, avalia Quiroga.
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