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Setor de audiovisual cresce em Minas, mas necessita de políticas públicas

Diagnóstico apresentado ontem descortina uma atividade pujante no Estado
Setor de audiovisual cresce em Minas, mas necessita de políticas públicas
Diagnóstico Socioeconômico do Setor Audiovisual em Minas Gerais foi apresentado ontem em BH | Crédito: Daniela Maciel

Lançado ontem, o “Diagnóstico Socioeconômico do Setor Audiovisual em Minas Gerais”, realizado pela ONG Contato e pelo Sebrae Minas, em parceria com a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Face/UFMG), descortinou um setor pujante, mas que ainda carece de organização e políticas públicas permanentes. O mapeamento analisou dados econômicos, de 2014 a 2021, oriundos de instituições como Receita Federal, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério do Trabalho e da Previdência.

De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora do Departamento de Economia da UFMG, Ana Flávia Machado, o setor está em ritmo de efervescência, beneficiado pela confluência de vários fenômenos que configuram o paradigma da digitalização, quais sejam, o processamento em nuvem, a ampliação de dispositivos móveis, a convergência digital, oferta de serviços de streaming, a hiperconectividade e a expansão da velocidade na internet.

Foram analisados os segmentos de cinema, publicidade, jogos digitais e produção de vídeos institucionais. Os municípios com maior especialização no setor são, segundo a pesquisa, Belo Horizonte, Nova Lima (na região metropolitana) e Uberlândia (Triângulo Mineiro).

“As evidências em geral são similares, apontando seu crescimento no Estado e, particularmente, em municípios, considerando-se pelo nível de ocupação e número de estabelecimentos. As regiões Metropolitanas de Belo Horizonte (RMBH) e do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba se destacam como polos, embora alguns municípios não situados nessas localidades também se destacarem no período entre 2014 e 2020”, explica Ana Flávia Machado.

A concentração dos profissionais e serviços nessas regiões pode estar atrelada ao próprio desenvolvimento da economia dos municípios e à formalização dessas atividades, já que os dados utilizados não captam os profissionais que trabalham na informalidade. Isso pode justificar a ausência de municípios historicamente importantes para o audiovisual mineiro, como Cataguases (Zona da Mata), por exemplo.

Belo Horizonte se destaca nacionalmente. Nesse período, entre 2014 e 2021, o audiovisual brasileiro apresentou uma expansão de 30,72%. Em Minas Gerais, esse crescimento foi ainda maior (52,21%), provavelmente impulsionado pela evolução bastante significativa na Região Metropolitana de Belo Horizonte (104,96%) e, sobretudo, em Belo Horizonte com taxa de 110,71%. Quando se analisa por capitais, os vínculos formais em Belo Horizonte apresentam bom desempenho, atrás de Porto Alegre (RS) e de São Paulo (SP).

Para a produtora cinematográfica e ex-diretora da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Débora Ivanov, é muito importante a continuidade desse tipo de estudo.

“É na série histórica que conseguimos construir políticas públicas eficientes. Fiquei bastante impressionada com a evolução de Minas Gerais em plena crise econômica. É muito importante fazermos audiovisual fora do eixo de São Paulo. Há 20 anos tudo se falava a partir de lá. Se íamos falar da Amazônia, era São Paulo que respondia. É uma alegria ver essa potência que já existia em Minas Gerais se concretizando”, avalia Débora Ivanov.

A análise dos dados secundários mostra que o segmento responsável pelos jogos e softwares estão em expansão significativa e tem uma participação grande dentre os setores analisados. Outros setores, mais tradicionais à atividade de produção audiovisual como cinema, publicidade e vídeos institucionais, apresentaram dinâmica diferente com algumas reduções e estabilidade.

Carência de indicadores

Segundo o coordenador da ONG Contato, Helder Quiroga, o setor de audiovisual brasileiro é carente de indicadores e essa e outras pesquisas são fundamentais para o desenvolvimento do setor.

“Hoje iniciamos o processo de trabalho com essa pesquisa. Em se tratando da cadeia produtiva do audiovisual, estamos falando de uma cadeia de cauda longa, então nem sempre o resultado aparece logo depois do investimento. Os dados mostram que houve crescimento da atividade audiovisual e que ela está se espalhando pelo Estado. Isso é muito positivo. O principal elemento de fortalecimento do mercado audiovisual mineiro é uma estabilização nas políticas de fomento nos níveis federal, estadual e municipal. A partir da continuidade desses investimentos de maneira estratégica e em diálogo com o setor, teremos o crescimento mais sustentável da cadeia produtiva e do mercado em geral”, avalia Quiroga.

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