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Livro celebra os 80 anos do Grande Hotel de Araxá

Obra reúne episódios marcantes de um dos ícones do turismo mineiro
Livro celebra os 80 anos do Grande Hotel de Araxá
O imponente Grande Hotel de Araxá, marco da arquitetura e da história do Alto Paranaíba, cuja trajetória é revisitada em novo livro | Foto: Divulgação Léo Lara

Fruto de uma política desenvolvimentista e do engenho de profissionais dispostos a marcar a história, o Grande Hotel de Araxá, no Alto Paranaíba, que completou oito décadas em 2024, ganha um livro que conta suas histórias. A obra “Sobre o tempo – Grande Hotel Termas de Araxá 80 anos” será lançada no dia 29, com debate, projeções e presença de profissionais ligados à arquitetura e à restauração do prédio.

A pesquisa e o texto são da jornalista Mariana Peixoto, que frequenta o lugar desde criança. A vontade de rememorar e registrar as histórias do hotel surgiu de uma visita feita em 2022, quando o empreendimento passou por uma grande reformulação, deixando o perfil de resort familiar para voltar a ser um destino de bem-estar.

A obra de 154 páginas foi produzida por Helvécio Carlos e tem fotos contemporâneas de Léo Lara e projeto gráfico da Greco Design.

“Sou de Belo Horizonte e não tenho relação com Araxá, exceto por conhecer o hotel desde criança. A visita de 2022, porém, me deixou muito impressionada. O hotel ficou muito tempo fechado durante a pandemia e fomos para a reabertura. Logo pensei que aquele lugar merecia um livro. Então comecei uma pesquisa nos arquivos da revista O Cruzeiro e descobri histórias incríveis”, explica Mariana Peixoto.

Um desses casos foi a visita de uma expedição de cientistas soviéticos que queriam observar o eclipse total do Sol. A viagem foi marcada por vários contratempos, a começar por um encalhe no gelo do Mar Báltico. Com poucos conhecimentos sobre o Brasil e informados de que iriam para o interior do País, prepararam-se para uma aventura em um território rural. O resultado foi a inadequação das vestimentas.

“Eles se surpreenderam com o tamanho e a sofisticação do hotel e sequer tinham roupas adequadas para permanecerem por lá. No final, apenas o chefe da expedição se manteve hospedado e os demais participantes buscaram hospedagens mais simples. No fim, a expedição acabou frustrada porque, no dia do eclipse, o céu estava nublado. Tudo isso entrou para as memórias da cidade, que abrigou cientistas russos em plena Guerra Fria”, destaca a jornalista.

O convívio com grandes personalidades, capazes de modificar a vida da cidade, marca o Grande Hotel Termas de Araxá desde o projeto, que demorou quatro anos para ficar pronto. O principal responsável pela construção foi Luiz Signorelli, arquiteto e pintor mineiro formado no Rio de Janeiro. Ele foi capaz, em parceria com o sócio, Rafael Berti, de unir o estilo eclético do neoclássico com a inovação do art déco e do modernismo.

Entre salões históricos, jardins monumentais e capítulos pouco conhecidos

Ainda hoje, a biblioteca mantém móveis de couro originais. A sala Congonhas, que era o escritório de Getúlio Vargas, está exatamente igual. As termas são um dos tesouros do lugar. Ligadas ao hotel por uma galeria suspensa, são cercadas por afrescos de paisagens e pontos turísticos de Minas. Ao final, uma rotunda de 17 metros de altura conta, por meio de vitrais, a história de Araxá e do Complexo do Barreiro, dando acesso às termas, onde o banho de lama imortalizado por Dona Beja é o carro-chefe.

Já os jardins, criados por Roberto Burle Marx, contornam a construção e fazem parte de uma área verde de 400 mil metros quadrados formada pelo cerrado mineiro. O paisagista também assina pinturas originais que enfeitam as paredes da suíte presidencial do Grande Hotel de Araxá.

“A construção foi um grande desafio, com muitos materiais vindos da Europa. Ao mesmo tempo, todo aquele movimento acabou mudando a cidade ao levar novos conhecimentos e qualificar a mão de obra local, desde a construção civil até os serviços de hotelaria”, pontua.

Outra história que a autora destaca é a realização de um filme nas dependências do hotel em 1969. “Balada dos Infiéis” contava com a participação de personalidades como Pedro Paulo Cava, Priscila Freire e Mário Lago. Alvo da censura da ditadura militar, a obra foi descaracterizada e muito mal-recebida pela população.

“Era uma grande equipe que passou uma temporada no Grande Hotel, o que gerou uma grande expectativa. Os cortes feitos pela censura acabaram por transformar a obra em um filme de sexo e a exibição chocou a sociedade de Araxá. Foi uma decepção e o filme acabou esquecido.”

O livro, porém, não relata apenas os tempos de glória do Grande Hotel Termas de Araxá. Com o imóvel depreciado, vítima até de um incêndio, o hotel foi fechado pelo governo do Estado na década de 1990. Foi com uma ação forte do Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Histórico de Minas Gerais (Iepha-MG) e o trabalho incansável do ceramista Máximo Soalheiro que o prédio foi recuperado e voltou a brilhar. Os duros anos de ostracismo também deixaram marcas e aprendizados.

“Como jornalista, eu precisava contar os tempos áureos e também as dificuldades vividas. Tudo isso faz parte do que trouxe o Grande Hotel Termas de Araxá até aqui como um ícone da hotelaria nacional e um espaço importantíssimo na história de Minas Gerais.”

O que saber sobre a obra e o hotel

Título do livro: Sobre o tempo – Grande Hotel Termas de Araxá 80 anos
Lançamento: Dia 29, com debate e projeções

Autora: Mariana Peixoto
Produção editorial: Helvécio Carlos
Fotos: Léo Lara
Projeto gráfico: Greco Design
Páginas: 154

Motivação da obra:
Surgiu após a visita da autora em 2022, durante a reabertura do hotel após a pandemia.

Histórias marcantes reunidas no livro:
• Expedição soviética que veio a Araxá para observar um eclipse
• Filmagens de “Balada dos Infiéis”, em 1969, marcadas pela censura
• Personalidades que circularam pelo hotel desde sua construção

Patrimônio arquitetônico:
• Biblioteca com móveis originais
• Sala Congonhas preservada como no período de Getúlio Vargas
• Termas ligadas ao hotel por galeria suspensa, com vitrais que narram a história local
• Jardins assinados por Roberto Burle Marx

Arquitetura do hotel:
Projeto de Luiz Signorelli e Rafael Berti, que combinam elementos neoclássicos, art déco e modernismo.

Período crítico:
O hotel foi fechado nos anos 1990 e recuperado pelo Iepha-MG e pelo ceramista Máximo Soalheiro.

Tema central do livro:
A trajetória do Grande Hotel Termas de Araxá, com seus períodos de glória, abandono e renovação.

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