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SME defende reciclagem no setor automotivo

Viabilizar o desenvolvimento dessa prática é uma maneira da indústria se apresentar ambientalmente responsável
SME defende reciclagem no setor automotivo
O Cira foi criado no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Campus II), na região Oeste de BH, em 2015 | Crédito: Reprodução Site Cira

A Sociedade Mineira de Engenharia (SME) promoveu, nos dias 22 e 23 de junho, o Seminário “Reciclagem e Sustentabilidade na indústria automotiva”. No evento foram apresentados o Programa de Renovação de Frotas Renova Brasil – ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e o Projeto Savemotors e sua aplicação na criação de centros credenciados de reciclagem de veículos.

Para a presidente da SME, Virgínia Campos, viabilizar o desenvolvimento da cadeia produtiva da reciclagem de veículos é uma oportunidade para o setor automobilístico se apresentar cada vez mais como ambientalmente responsável, e também formar e qualificar uma mão de obra em linha com as mais modernas tecnologias em uso no mundo.

“Não existe no Brasil um processo sistêmico de reciclagem. E em função disso, muitas oportunidades são desperdiçadas e problemas sociais criados. Hoje, temos, por exemplo, o problema de carros abandonados nas ruas. Precisamos dar um destino econômico e ambientalmente correto para esses veículos. Além disso, essa é uma oportunidade de inserção dos profissionais de engenharia no mercado de trabalho. Um país forte é o que tem uma engenharia forte. Promover a capacitação é uma forma de manter os talentos em Minas e no Brasil para desenvolver a nossa economia”, afirmou Virgínia Campos.

Idealizador do projeto Save Motors e fundador do Centro Internacional de Reciclagem de Automóveis (Cira), o professor Daniel Enrique Castro, trabalha desde 2012 no desenvolvimento de tecnologia e criação da cadeia produtiva de reciclagem de veículos. O Cira foi criado no Campus II do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), na região Oeste da Capital, em 2015.

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“Precisamos incentivar a circularidade da economia para atendermos as demandas ESG sobre a indústria automotiva, fortalecendo a ação ambientalmente correta que é cobrada de todo o setor, e diminuir a nossa dependência externa, resultando na diminuição de custos para o consumidor”, pontuou Castro.

Um veículo reciclado consegue poupar 60 toneladas de recursos naturais como minério e água, eliminando a emissão de carbono na atmosfera durante a fabricação. Isso equivale a 70 árvores preservadas na natureza. Até agora, a unidade implantada no Cefet-MG já reciclou 105 veículos. 

O projeto prevê a criação de Centros Regionais de Reciclagem Veicular (CRRV), treinados pelo Cira, para absorver os materiais residuais provenientes dos desmontes de veículos credenciados pelos departamentos estaduais de trânsito (Detrans). Prevê, também, a criação de um Banco Regional de Peças usadas com Selo Verde – para atender a crescente demanda de peças de seguradoras e oficinas -, associado à criação da Unidade Ambiental de Impacto (UAI), para quantificar o benefício ambiental total gerado pelas atividades do CRRV.

A diretora de gestão de resíduos da Fundação Estadual de Florestas (Feam), Alice Libânio Dias, durante a palestra “Importância e Perspectivas da Reciclagem Veicular em Minas”, destacou a importância de um redesenho da forma atual de produzir e consumir baseada no descarte de produtos no menor tempo possível.

“Muitas vezes esse redesenho de processos vai precisar de inovação tecnológica e de costumes. Assim como hoje temos modelos de assinatura de serviços, por exemplo, podemos pensar para os carros modelos que permitam a logística reversa no setor automotivo. E, para isso, precisamos de produtos que sejam mais facilmente desmontáveis para ter seus componentes recuperáveis. Isso não se dá do dia para a noite é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento”, avaliou Alice Libânio Dias.

Movimento Minas 2032

Membro do Movimento Minas 2032 (MM 2032) – pela transformação global, a SME, através desse Seminário “Reciclagem e Sustentabilidade na indústria automotiva”, atua fortemente sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8: “Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”; 9:Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; 12: “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis” e 13: “Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos”.

Liderado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o MM 2032 propõe uma discussão sobre um modelo de produção duradouro e inclusivo, capaz de ser sustentável, e o estabelecimento de um padrão de consumo igualmente responsável, com base nos ODS, promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2015.

Descarbonização tem Cira como grande aliado

O Centro Internacional de Reciclagem de Automóveis (Cira), instalado em Belo Horizonte, está pronto para ajudar a indústria automobilística dentro e fora do Brasil a alcançar as metas de descarbonização do setor dentro dos prazos estabelecidos.

O Plano Europeu de Descarbonização, por exemplo, prevê  zerar a emissão de CO2 dos veículos para ajudar a meta ambiental da União Europeia de alcançar a neutralidade climática até 2050.

Já a Stellantis estabeleceu a meta de descarbonização de 50% de suas operações até 2030 e 100% até 2038. 

Para cumprir os prazos que já estão bastante apertados, as indústrias precisam investir em logística reversa para recolher e dar a melhor destinação aos seus produtos que já foram descartados pelos consumidores.

Diante dessa realidade, o idealizador do Cira – que funciona no Campus II do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), na região Oeste da Capital -, Daniel Enrique Castro, se anima.

Único centro de estudos e treinamento em reciclagem de veículos da América Latina, o espaço está pronto para oferecer consultoria, cursos sob demanda, treinamento, testes, entre outros serviços, além de continuar servindo como laboratório para alunos de graduação e pós-graduação da Instituição.

“Precisamos de um marco regulatório que dê bases para a criação de uma nova cadeia de valor dentro da indústria automobilística. Tanto sob o ponto de vista ambiental como econômico, precisamos saber o que fazer com os carros que chegam ao final da sua vida útil. Não dá mais para admitir que sejam abandonados no meio da rua ou no fundo dos rios. O ganho ambiental é mais óbvio, uma vez que os materiais deixam de ir para o aterro e voltam para a cadeia produtiva. Os ganhos social e econômico estão relacionados com o potencial que esse segmento tem para geração de receita e emprego. O processo de reciclagem permite a retirada e a rastreabilidade das peças dos carros, abrindo mercado para o comércio legal de peças ou centros de desmontes legais”, explica Castro.

Além das peças, o carro pode ser quase todo reaproveitado, gerando materiais importantes como aço, vidro e plástico, em grandes quantidades e fácil entrada na cadeia da reciclagem, e outros materiais em quantidade bem pequena, mas de valor estratégico como ouro, prata, zinco, cobre e chumbo.

O Cira surgiu, em 2015, por meio de uma pareceria entre o Cefet-MG, a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) e a empresa japonesa Kaiho Sangyo, que trouxeram à Capital a primeira Unidade Piloto de Reciclagem Automotiva (Upra) da América Latina. 

A primeira etapa da reciclagem é a remoção de dispositivos de segurança como airbags e cintos de segurança. Logo depois, um equipamento faz a remoção de fluídos como óleos, combustível e água do sistema de refrigeração, que são armazenados em tanques diferentes para garantir sua reutilização.

Em seguida, outra máquina ajuda os técnicos na desmontagem completa do carro quando são retirados, por exemplo, sistema de suspensão e motor. Aqueles que têm mais chance de serem reciclados são separados. E, por fim, também são separados materiais como aço, alumínio, cobre e plástico.

“Quanto mais refinada for essa separação, maior valor os materiais alcançam no mercado. Na economia real, compradores e vendedores desse material vão ter que negociar e decidir qual nível de separação vai dar viabilidade ao negócio”.

O projeto evoluiu até 2019, mas a pandemia fez com que os planos fossem, praticamente, paralisados.

“É claro que enfrentamos diferentes tipos de resistência. Os profissionais que aqui trabalham são, na maioria, engenheiros como eu. Fomos formados para construir coisas, não para desconstruir. A reciclagem exige uma nova mentalidade  que está crescendo, se consolidando. No Brasil, a logística reversa e a reciclagem enfrentam o fator distância. Em um país gigante a coleta é sempre mais difícil e pode inviabilizar o negócio. Por isso precisamos desenvolver uma cadeia de valor e ter um ambiente regulado”, pontua o professor.

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