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SME premia movimento pela mulher na mineração

(da esquerda para a direita) Virgínia Campos, Jorge Nery, Patrícia Procópio, homenageada deste ano, e Virgínia Ciminelli, que recebeu o prêmio ano passado | Crédito: SME/Divulgação
Homenageada fundou a Women in Mining Brasil

A mineração sempre foi, no mundo da engenharia, um território masculino. Até muito recentemente, as engenheiras de minas ou a geólogas, apenas para citar algumas das profissões muito presentes na mineração, trabalhavam nos escritórios das empresas. Raramente punham o pé em uma mina. Tanto que nas áreas de lavra, nem banheiro feminino havia. No mundo do trabalho essa realidade começou a mudar em 1962, quando entrou em vigor no Brasil uma lei que autorizava a mulher a trabalhar sem que fosse necessário ela pedir autorização ao marido.

Na mineração, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Hoje, nas empresas do setor, as mulheres ocupam apenas 15% das vagas de emprego. Para aumentar esse percentual, as mulheres se organizaram na ONG Women in Mining (Mulheres na mineração, na língua inglesa). Na última sexta-feira, Dia Internacional da Igualdade Feminina, a Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) reconheceu a importância da iniciativa ao conceder à geóloga Patrícia Procópio, uma das fundadoras e atual presidente da Women in Mining Brasil, o prêmio Maura Menin, que foi instituído há um ano pela entidade com o objetivo de distinguir iniciativas de mulheres que desempenham papel de destaque na engenharia.

Patrícia Procópio tem mais de 30 anos de experiência em mineração, dos quais 17 anos na Vale, onde esteve à frente de projetos inovadores, incluindo a implementação de sua sala virtual avançada de tomada de decisões e a infraestrutura de dados espaciais da companhia. Na iniciativa privada, é fundadora e presidente da MP Consulting, empresa de consultoria especializada em geotecnologias e soluções de geoinformação para o meio ambiente, mineração, engenharia e agronegócio. É também diretora de Planejamento, Inovação e ESG da Hexagon Mining. Disposta a tornar a mineração um segmento mais inclusivo, em 2019, Patrícia Procópio ajudou a fundar, e hoje preside a Women in Mining Brasil.

Para Patrícia Procópio, os números atuais de presença da mulher na mineração mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Isso se faz, segundo ela, pela transformação da cultura e pela eliminação dos estereótipos culturais envelhecidos que, no entender da presidente da Women in Mining Brasil, ainda prevalecem nas empresas. Otimista, ela afirma que a mineração está passando por grandes mudanças, sendo a inclusão de gênero um dos passos importantes a serem dados para a ampliação da diversidade no setor minerário.

Na entrega do prêmio deste ano, Sônia Jordão, da diretoria da SME (à esquerda); Flavia Roxin, fundadora e presidente da Afeag-MG; Leônidas Oliveira, secretário de Cultura e Turismo de Minas; Marília Melo, secretária de Meio Ambiente de Minas; e Marcos Túlio de Melo, secretário de Obras de Contagem | Crédito: SME/Divulgação

Em três anos, desde que foi fundada, em 2019, a Women in Mining já conseguiu alguns avanços. Um deles foi a adesão de 38 empresas de mineração ao plano de ação da entidade para o aumento da inclusão de gênero. Destas 38 empresas, 34 já estão adotando medidas concretas nesse sentido, como irá mostrar o próximo relatório da Women in Mining Brasil, a ser divulgado mês que vem durante o Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram 2022), a ser realizado de 12 a 15 de setembro, na Expominas, em Belo Horizonte.

Para Nathália Gomide, diretora da Women in Mining Brasil, a premiação de Patrícia Procópio significa que a instituição que dirige está trilhando o caminho certo para que as mulheres que trabalham no setor possam exercer suas funções de maneira segura e em um ambiente aberto e diverso e, o que, segundo ela, também é muito importante, com possibilidades de seguirem carreira sem que estas expectativas sejam interrompidas por ações discriminatórias.

Para Jorge Nery, chanceler da Medalha Maura Menin, o cenário ideal está longe de ser atingido. De acordo com dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, em 2018, a participação das mulheres no setor era de apenas 13%, ou seja, menos de um terço do percentual registrado entre os demais setores da economia, que é de 44%.

Números do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) apresentados por ele durante a solenidade de entrega do prêmio revelam que nas empresas que responderam à pesquisa, o percentual de mulheres empregadas é de 17%. Em cargos de direção, de acordo com a pesquisa, esse percentual é um pouco maior – de 22%. De acordo com Jorge Nery, a meta do Ibram é dobrar de 17% para 34% o percentual de mulheres nas empresas de mineração, e aumentar de 22% para 35% o das que ocupam cargos de direção.

Virgínia Campos, presidente da SME, afirma que embora seja longo o caminho a ser trilhado, o Brasil é um país de vanguarda em relação às conquistas da mulher. Como exemplos, ela citou o direito ao voto feminino, reconhecido em 1932, e a Lei Maria da Penha, considerada pela ONU uma das mais avançadas do mundo para combater a violência contra a mulher. Para ela, a entrega da medalha Maura Menin a Patrícia Procópio faz parte desse cenário. “Que a celebração de hoje possa inspirar-nos na dedicação ao esforço conjunto da sociedade no sentido de que homens e mulheres disponham e beneficiem-se das mesmas oportunidades de conquista da autonomia de decisões e liberdade para gerir suas próprias vidas”, afirmou a presidente da SME.

Marília Melo, secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, faz um paralelo entre o cenário ideal, em que homens e mulheres compartilhem em igualdade de condições o mundo do trabalho, com o cenário ideal de um meio ambiente equilibrado. Neste, a biodiversidade é considerado o maior indicador da qualidade do ambiente. “A gente quer ter, no mesmo espaço, pessoas diferentes, que se complementem. A natureza está completa quando é diversa. Os olhares complementares são muito importantes”, ressalta Marília Melo.

Para a engenheira Maria Arêas, a homenagem a Patrícia Procópio é importante porque vem corrigir um atraso histórico no reconhecimento do trabalho da mulher, discriminação que se materializava, por exemplo, no fato de que, por muitos anos, nas empresas de mineração, a mulher somente podia trabalhar no escritório da empresa, nunca na mina. Ao mesmo tempo, trata-se, segundo ela, de um incentivo às jovens profissionais para que possam vislumbrar um cenário futuro com mais oportunidades de trabalho.

Nathália Gomide, diretora da Women in Mining Brasil, afirma que 38 empresas já
aderiam à proposta da entidade para aumentar a inserção da mulher na mineração | Crédito: SME/Divulgação

Prêmio Maura Menin

Algumas pessoas vivem à frente de seu tempo. A preocupação com a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos brasileiros é recente. Data do final do século passado. Porém, desde os anos de 1940, a engenheira Maura Menin Teixeira de Souza – que dá nome ao prêmio entregue a Patrícia Procópio – tinha o seu olhar voltado para os temas da engenharia relacionados com a água. Além de fazer a junção da engenharia com os recursos hídricos, Maura Menin se destacava por outra razão: em um universo marcadamente masculino, como ainda hoje é o da engenharia, ela era uma mulher. Maura Menin foi a quarta engenheira formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e uma das primeiras a ocupar cargo de direção na área. Entre 1973 e 1990, ela chefiou a seção de Hidrologia do 5º Distrito do antigo Departamento Nacional da Águas e Energia Elétrica (Dnaee).

Presente à solenidade de entrega do prêmio, seu filho, o também engenheiro Sérgio Menin se disse satisfeito com a escolha da homenageada por ver nela a perpetuação dos ideais de sua mãe. “Fico satisfeito por ver que o prêmio está sendo conferido a pessoas que são dignas de reconhecimento”, afirmou Sérgio Menin, que é conselheiro da SME.

“O prêmio tem um grande significado para a profissão, para o Estado e para a mineração”, afirmou Sérgio França Leão, que é um dos vice-presidentes da entidade. Para ele, o movimento pelo aumento da presença da mulher na mineração irá trazer uma mudança importante para a sociedade como um todo, em primeiro lugar, a seu ver, pelo significado que tem a mineração no Estado; em segundo lugar, por abrir canais para atrair profissionais talentosas para a engenharia.

Para o secretário de Cultura e Turismo de Minas, Leônidas Oliveira, reconhecer talentos e trajetórias é fundamental para que as instituições mostrem ao conjunto da sociedade, casos e vidas do bom trabalho em prol de todos. “Pessoas exemplares são importantes fontes de inspiração para todos nós. Assim é Patrícia Procópio”, afirmou Leônidas Oliveira.

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