Tecnologia mineira rompe a dependência externa e reposiciona o setor de equipamentos eletrônicos
Durante décadas, o mercado brasileiro de equipamentos eletrônicos conviveu com um problema estrutural pouco discutido. A fabricação nacional era limitada, grande parte das soluções tecnológicas vinha de fora e o País se acostumou a depender de um fluxo constante de importações. Quando a pandemia interrompeu a produção global, essa dependência ficou evidente. Faltaram componentes básicos, projetos foram suspensos e empresas de vários segmentos tiveram de rever cronogramas e custos. No setor de áudio e vídeo corporativos, essencial para salas de comando, centros de treinamento e estruturas de operação remota, o impacto foi imediato.
A mineira Wave AV estava exatamente nesse ambiente de pressão. Com os fornecedores internacionais paralisados e os prazos dos clientes em risco, o diretor Pedro Retes viu na crise uma oportunidade para repensar o modelo de atuação. Em vez de aguardar a retomada do mercado externo, decidiu usar a expertise acumulada pela equipe ao longo de 15 anos para desenvolver no Brasil os equipamentos que antes vinham de outros países. A mudança exigia pesquisa, engenharia e testes, mas tinha um ponto de partida valioso: conhecimento técnico já consolidado.
A estratégia deu resultado rápido. Como a equipe dominava as especificações técnicas e os desafios dos projetos, o processo de criação de novos equipamentos avançou em ritmo acelerado. Em poucos meses, três famílias de produtos estavam prontas para uso. Segundo Retes, esse período marcou uma inflexão dentro da própria empresa, que passou a enxergar o desenvolvimento local não apenas como solução emergencial, mas como caminho estratégico para fortalecer o negócio no longo prazo.
Os equipamentos criados nesse intervalo ganharam espaço no mercado e hoje estão instalados em instituições de peso. A Marinha do Brasil utiliza a tecnologia em seus ambientes de operação. A Localiza e a Abbott adotaram o sistema em áreas corporativas. O Sebrae e o Sescoop recorrem às soluções da Wave em salas de capacitação e auditoriais. O que atrai esses clientes é uma combinação rara: sistemas robustos e de alta complexidade aliados a uma operação simples e estável, desenhada para equipes que nem sempre têm conhecimento técnico avançado.
O movimento também mudou a posição da Wave dentro do setor. A empresa passou a disputar espaço com fornecedores internacionais e aumentou sua presença em projetos de grande porte. Com o mercado nacional mais consolidado e um portfólio próprio validado por instituições relevantes, a companhia começa agora uma nova etapa. O objetivo é expandir fronteiras e ingressar em mercados mais maduros, especialmente nos Estados Unidos, considerado o terreno mais competitivo para soluções de áudio e vídeo.
O plano de internacionalização prevê R$ 10 milhões em investimentos ao longo dos próximos cinco anos. O valor será destinado ao aprimoramento de produtos, certificações, expansão comercial e estruturação de canais no exterior. Para Retes, esse é um passo inevitável para empresas que desejam competir globalmente e reduzir a vulnerabilidade do setor brasileiro às oscilações internacionais. Ele vê o desenvolvimento local como uma alternativa econômica e estratégica para o País, capaz de ampliar autonomia e estimular um ambiente de inovação mais vigoroso.
A trajetória recente da Wave AV exemplifica um movimento mais amplo. Em meio a crises e gargalos logísticos, parte da indústria brasileira começa a retomar a capacidade de criar tecnologia em vez de apenas importá-la. Para um setor historicamente dependente do mercado externo, essa guinada representa mais do que um avanço empresarial. É um sinal de que há espaço para inovação feita no Brasil com impacto direto na competitividade do País.
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