“Todo grande líder precisa ter humildade para ouvir e aprender com as pessoas”

Ao lançar a edição especial do livro “A Arte de Liderar – Vivenciando Mudanças num Mundo Globalizado”, a consultora e autora Sônia Jordão oferece ao público uma versão compacta do sucesso editorial de mesmo nome que já está na terceira edição.
A obra é dividida entre os capítulos liderança e mudanças; as funções de liderança; organizações, equipes e mudanças e cuidando-se e crescendo enquanto líder. O livro funciona como um manual enxuto sobre como liderar, abordando as dificuldades enfrentadas pelo líder com sua equipe, as barreiras a superar e o que melhorar para o crescimento e realização profissional.
Em uma conversa exclusiva com o DIÁRIO DO COMÉRCIO, Sônia Jordão fala sobre as características inatas de um bom líder, o que é possível aprender, a crise de liderança vivida em todo o mundo e da própria carreira, que serve como exemplo de resiliência e capacidade de aprendizado.
Qualquer pessoa pode ser um bom líder?
Sim, a liderança é uma habilidade e, como tal, pode ser aprendida. Algumas pessoas, porém, têm características inatas que facilitam muito esse processo. A primeira é a humildade. Todo grande líder precisa ter humildade suficiente para ouvir e aprender com as pessoas. A liderança exige um processo contínuo de aprendizado. Ser líder significa ser capaz de influenciar pessoas para que elas façam o que ele quer. E pra isso é preciso saber ouvir. A era dos líderes autoritários já acabou. O mundo mudou.
Quais outras características principais?
No “A arte de liderar” original, listei mais de 100 características, mas algumas formam o conjunto das fundamentais como a integridade, que é continuar fazendo o certo mesmo quando ninguém está olhando. Isso não tem a ver com um julgamento moral. Hitler achava que o que fazia era o certo e continuou. A integridade tem a ver com compromisso.
Outro ponto é a comunicação. Não existe um grande líder que não saiba se comunicar. E é importante lembrar que o processo de comunicação é complexo e envolve o que você fala e o que o outro entende.
Carisma também é fundamental. Veja no caso da Igreja Católica. O papa Bento XVI era excelente tecnicamente, um estudioso do cristianismo, mas não tinha carisma e enfrentou uma grande crise por causa disso. Já o Papa Francisco é uma figura carismática e talvez a liderança mundial menos contestada da atualidade, respeitado e ouvido não só pelo seu público específico, que são os católicos, mas por toda a comunidade internacional.
E, por fim, a firmeza. Não confunda com grosseria ou autoritarismo. Os liderados buscam por firmeza, por orientação. Um líder tem que saber o que faz. Também precisa ter automotivação, autoconfiança e entusiasmo, além de sensibilidade para perceber o que está acontecendo. Também ser verdadeiramente imparcial e ter empatia, saber se colocar na pele do outro.
A senhora diz que existe uma crise de liderança mundial. Como avalia o cenário brasileiro, já que diante de uma crise econômica boa parte das empresas reduz ou corta os investimentos em capacitação e treinamento?
É verdade que muitas empresas reduziram os investimentos. Mas muitas também perceberam que o custo do “não investimento” é ainda maior e mantiveram o planejamento. De outro lado a crise influencia para que as pessoas busquem crescimento. As pessoas estão se movimentando, mas, ainda assim, existe uma crise mundial de liderança. No Brasil ela se torna mais grave porque tempos uma dificuldade na questão educacional.
Isso também está ligado a um certo culto da juventude. Nos últimos tempos as empresas se voltaram para a contratação apenas de jovens. Eles têm ótimas habilidades e competências, mas em tempos de crise pesa a falta de vivência, de maturidade. Os jovens querem crescer muito rápido e, muitas vezes, acham que as coisas são mais rápidas do que realmente são. O ideal é a diversidade. As empresas precisam de equipes diversas em todos os sentidos e precisam lembrar que as pessoas são motivadas por diferentes motivos e de diferentes maneiras.
Temos visto no mundo a ascensão de governos conservadores e líderes com um discurso mais agressivo que seus antecessores, como Donald Trmp, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Está surgindo um novo tipo de liderança?
Nenhum dos dois são grandes líderes, embora ocupem a presidência dos seus países. Temos aí um fenômeno interessante: ambos foram eleitos muito mais por serem uma negação aos seus antecessores do que pelas suas próprias características ou carisma. O mesmo aconteceu em Minas Gerais, com a eleição de Romeu Zema (Novo), que surgiu como uma resposta tanto ao PT como ao PSDB. Tanto Bolsonaro como Zema vão ter que usar muito a primeira característica de um bom líder da qual falamos: a humildade. Eles têm muito a ouvir e aprender se quiserem ter um diálogo aberto com a população e se tornarem, efetivamente, bons líderes. O discurso da negação serve para a eleição, mas para governar vão precisar criar outro tipo de relação com as pessoas.
Como uma engenheira mecânica, com quatro pós-graduações e diversos cursos, inclusive no exterior, foi parar no mundo dos negócios e consultora na área de formação da liderança?
Na verdade queria fazer engenharia eletrônica, mas como o curso não existia na minha cidade (Governador Valadares, no Vale do Rio Doce), acabei na mecânica. Vivi uma longa carreira na área, trabalhei em diversas empresas, em diferentes funções e fui professora universitária. Mas sempre pensei o que faria quando não mais trabalhasse para outras pessoas. Então preparei uma segunda carreira.
Fui gerente muitas vezes e vivi as dificuldades de ser uma líder. Certa vez, participando de um seminário sobre formação de líderes percebi que poderia falar sobre aquele assunto melhor do que quem estava lá. Então, fiz um MBA Executivo em Gestão de Negócios, no Ibmec, em 2001. Tornei-me autora e palestrante.
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