Negócios

Troco solidário é ferramenta simples e eficiente para doação

Vanessa Braga: esse valor nos ajuda a cobrir déficit operacional | Crédito: Divulgação/Instituto Mário Penna
Em Belo Horizonte, hospitais públicos e filantrópicos têm sido beneficiados pela iniciativa há quase 20 anos

Segundo o dicionário, doar é ceder gratuitamente algo que se possui. Dito assim, o sentido da doação é simples e direto porém, o ato de doar, além de generosidade, exige alguma forma de esforço e dispêndio de tempo. Para tornar essa iniciativa mais prática e rápida, há quase 20 anos as campanhas de “troco solidário” facilitam a vida dos doadores e fazem com que a doação chegue rapidamente e de forma integral a quem precisa.

Em Belo Horizonte, hospitais públicos e filantrópicos têm sido beneficiados, recebendo através de empresas parceiras do setor de varejo pequenas contribuições de pessoas físicas, geralmente centavos, oriundos do arredondamento de uma conta paga no caixa.

Mas se para o cliente/doador basta aceitar ceder aqueles centavos para que a ação se concretize, para a instituição beneficiada e a varejista parceira existe um caminho de muito trabalho até que isso seja possível.

O Instituto Mário Penna, maior instituição filantrópica de Minas Gerais em atendimento oncológico aos pacientes do SUS, criado há mais de 50 anos, conta com o apoio da rede Supermercados BH há nove anos.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


De acordo com a coordenadora do Núcleo de Gestão de Doações do Instituto Mário Penna, Vanessa Braga, o troco solidário, para as ONGs e instituições filantrópicas, de forma geral, é uma modalidade de doação de grande importância.

“Esse valor nos ajuda a cobrir um déficit operacional gerado pelo atendimento via SUS, possibilitando a compra de novos equipamentos, a manutenção da Casa de Apoio Beatriz Ferraz, entre outras necessidades. Outro ponto importante é a própria divulgação do trabalho do Mário Penna. Aproveitamos as parcerias para fazer campanhas de prevenção através de treinamento dos caixas e prestamos conta dos resultados com banners nesses espaços. Também aproveitamos as redes sociais dos parceiros para nos comunicarmos. É uma combinação fundamental para nós”, explica Vanessa Braga.

Até outubro, o Instituto já havia arrecadado com a ação R$ 37,4 milhões através dos parceiros: Lojas Rede, Verdemar, Lopes Atacado e Varejo, Droga Clara, Correios, Poupe Sempre Supermercado, Pare Park Estacionamento, além dos Supermercados BH. O repasse é integral, sem deduções. O valor corresponde a 19% da receita não operacional do Mário Penna.

Na outra ponta, a gerente de Marketing do Supermercados BH, Kátia Andrade, revela que a rede tem cerca de 12 instituições parceiras nesse tipo de ação. A campanha de doação faz parte do pilar social da empresa. Presente em cerca de 90% das nossas lojas, hoje serve de exemplo para outras instituições.

“À medida que fomos alcançando novas regiões, levamos a ideia para instituições locais, como santas casas e hospitais municipais. Vimos que isso fazia sentido porque as pessoas se engajam mais em projetos mais próximos. Temos uma grande preocupação com a transparência, inclusive dando um recibo eletrônico para o doador. Cada loja faz o seu balanço, que é informado aos clientes por meio de um banner. Não basta assinar o convênio. Dá trabalho, é preciso sensibilizar e treinar a equipe, fazer visitas nas lojas, mas sempre vale a pena. Participamos de outras ações como o Mesa Brasil, por exemplo. São várias iniciativas que fazem parte da nossa iniciativa social e estão no nosso pilar estratégico e comercial”, pontua Kátia Andrade.

Crédito: Divulgação/Supermercados BH

Cultura da doação ainda precisa crescer entre brasileiros

A missão, porém, não é nada fácil. Embora o estudo “Pesquisa Doação Brasil 2020” revele que o conceito de que a doação faz bem para o doador tenha passado de 81% para 91%; dados do World Giving Index, realizado pela Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) -, colocam o Brasil apenas em 89º lugar entre as nações mais generosas.

Depois de figurar entre as 20 nações mais generosas no ranking, o Brasil caiu para a posição 89. Houve queda em todos os indicadores, sendo a mais acentuada a de doações para ONGs, que passou de 41% para 26%. A ajuda a estranhos foi praticada por 64% dos respondentes em 2022, contra 76% no ano anterior. O voluntariado caiu de 25%, em 2021, para 21%. A pontuação média ficou em 37%.

Apesar de o Brasil ter ocupado posições melhores no ranking em anos anteriores, esta foi a segunda maior pontuação do País desde o lançamento do índice, em 2009. O ranking contempla 142 países e os dados foram coletados ao longo de 2022.

Mas nem esses dados desmotivam a Santa Casa de Belo Horizonte (SCBH). Considerado o maior hospital filantrópico 100% SUS de Minas Gerais – com mais de 1.200 leitos e 3,4 milhões de atendimentos anuais -, tem como parceiro de campanha a rede Super Nosso desde 2017. Recentemente, aderiu ao projeto a rede Drogaria Pacheco e, a partir de janeiro, os Correios também vão apoiar a Instituição.

Segundo gerente de responsabilidade social e mobilização de recursos da SCBH, Kézia Marques, o “troco solidário” tem uma grande importância na arrecadação de recursos e mostra a força do trabalho coletivo. Os repasses são feitos mensalmente e todo o valor arrecadado é destinado ao Instituto Materno Infantil Santa Casa BH.

“Em Belo Horizonte, a doação no formato de troco solidário tem se tornado comum, uma cultura. As empresas já trazem isso como uma possibilidade. Buscamos sempre levar para o cliente todas as informações sobre o quanto é arrecadado e como o recurso é investido. Muitos doadores não sabem como essa doação coletiva tem um impacto absurdo. Hoje, investimos no Instituto Materno Infantil. São iniciativas que não seriam contempladas pelo nosso orçamento. Geramos um engajamento na ponta muito bacana. É uma oportunidade de alcançarmos pessoas que ainda não conhecem o nosso trabalho. Só com um parceiro arrecadamos, em média, R$ 80 mil/mês”, revela Kézia Marques.

Crédito: Divulgação/Santa Casa BH

Esses recursos vão ajudar a custear a reforma estrutural na UTI Neonatal, que inclui melhorias das condições de climatização, iluminação e acústica, condições indispensáveis para o melhor atendimento e desenvolvimento dos bebês, que necessitam de cuidado integral e individual, conforme as suas necessidades. Serão necessários R$ 7 milhões e as doações via troco solidário serão revertidas para esse fim.

Drogaria Araujo reverte troco solidário para Hospital da Baleia

Entre as pioneiras na arrecadação de doações através do troco solidário, a Drogaria Araujo há 18 anos ajuda o hospital da Baleia. Criado em 1944, o Baleia oferece mais de 30 especialidades médicas e Centros de Referência em Oncologia Adulta e Pediátrica, Nefrologia (Hemodiálise e Transplante Renal), Ortopedia, Pediatria e Cirurgia Bariátrica e Metabólica, além do Tratamento e Reabilitação de Fissuras Labiopalatais e Deformidades Craniofaciais (Centrare).

Para a coordenadora de Comunicação Corporativa da Drogaria Araujo, Mariana Soares Diniz, a solidariedade faz parte do slogan da rede: “Se faz bem, a Araujo tem”. Para ela, o sucesso da campanha está ligado à praticidade, ao estímulo e ao uso da tecnologia que garante a transparência do processo.

A média de doação é R$ 0,43. Só no primeiro semestre de 2023, foram repassados R$ 2,3 milhões. Além da “Doe o seu troco”, a Araujo também faz a venda das agendas do Hospital da Baleia de forma solidária.

“A campanha ‘Doe o seu troco’ nos ajuda a cumprir a nossa missão social muito antes deste ser um tema corporativo. Por meio das operadoras de caixa, que fazem o estímulo à doação, buscamos sensibilizar a comunidade para uma causa que diz respeito a todos nós. Para isso, além de treinar, também premiamos as operadoras e lojas que mais arrecadam por semestre. Hoje, recebemos empresas que querem conhecer o processo e entendemos que estamos cumprindo o nosso papel social”, afirma Mariana Diniz.

Solidariedade e doação também nos shoppings

Realizados pelos malls da Multiplan em Belo Horizonte – BH Shopping, DiamondMall e Pátio Savassi – todos na região Centro-Sul, o projeto Árvore do Bem propõe aos clientes presentear crianças de instituições de Belo Horizonte que realizam papel fundamental no acolhimento. Para participar, basta ir até uma Árvore do Bem, localizada nos três empreendimentos, retirar quantos cartões desejar e descobrir o perfil de quem será presenteado. Depois, é só depositar os presentes nos espaços indicados.  A ação vai até 18 de dezembro. Após o dia 20/12, os shoppings farão as entregas para cada uma das entidades participantes, entre elas Abrigo Cirandinha, Casa de Apoio Sara, Creche São José, Grupo de Apoio Cabana e Associação Irmão Sol.

Crédito: Carol Alves

De acordo com a diretora regional da companhia, Lívia Paolucci, a escolha das instituições parceiras é feita pela proximidade delas com os shoppings. A expectativa para esse ano é a de que pelo menos 2 mil pessoas, entre crianças e idosos, sejam contempladas.

 “A campanha faz parte do “Multiplique o Bem”, o hub de iniciativas da Multiplan que, ao longo do ano, desenvolve ações em prol da qualidade de vida das comunidades locais próximas aos nossos malls. E também faz parte das estratégias de engajamento e fidelização de público justamente pelo fato de ser feita com o envolvimento dos clientes”, explica Lívia Paolucci.

Neste ano, idosos que vivem em instituições de longa permanência na capital mineira também serão contemplados. Graças à iniciativa, em 2022, mais de 1,8 mil crianças de zero a 12 anos, acolhidas em creches, orfanatos e ONGs em aglomerados e áreas de vulnerabilidade social, foram presenteadas.

“Ficamos extremamente felizes por sermos os alavancadores de uma iniciativa que mobiliza as pessoas para fazer o bem”, completa a executiva.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas