Leia entrevista exclusiva com secretário de Turismo de Minas Gerais

Com planos ambiciosos para o turismo de Minas Gerais, o secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, falou ao Diário do Comércio que tem como sonho transformar o turismo mineiro, focando em sustentabilidade, e fazer a ligação dos visitantes com a cultura, o verde e as belezas do Estado.
Ele entende que ainda existem vários empecilhos para que o setor decole em curto prazo, mas acredita que, com o empenho do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, será possível amenizar um dos principais gargalos do turismo no Estado, que são as estradas.
Outro ponto destacado por ele é a geração de emprego e renda que, além de ajudar na economia, ainda encontra margem de crescimento nos próximos anos. Leônidas Oliveira assumiu a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG) em maio de 2020. Antes, foi presidente interino da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), diretor-executivo da Fundação Nacional de Artes (Funarte), presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte e presidente da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). Ele também é professor da PUC-Minas, onde graduou-se em Arquitetura e Urbanismo, e é mestre em Restauração e Reabilitação do Patrimônio Histórico Arquitetônico e Urbano, pela Universidade de Alcalá de Henares, na Espanha, doutor em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade de Valladolid, no mesmo país. Confira agora a entrevista completa com o secretário Leônidas Oliveira.
O que está sendo feito para desenvolver o turismo em Minas Gerais?
Olha, são várias ações, mas eu poderia resumir em capacitação, organização do Estado, diversidade da oferta turística em rotas e destinos e a promoção do marketing turístico. Tanto de Minas para Minas, que é o nosso mercado mais importante, quanto de Minas para o Brasil e também a divulgação em âmbito mundial.
Qual o volume de atração de negócios para Minas Gerais?
Nós temos, por exemplo, no que se refere a 2023, a Agência de Promoção de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Invest Minas), que tem uma cadeira de turismo. Ela trouxe cerca de R$ 2 bilhões em investimentos para o turismo no Estado de Minas Gerais, que é o último número importante. Desde 2022 chegamos, até o momento, em R$ 3,7 bilhões de aportes no setor de turismo do Estado, somando captação nacional e internacional.
Quais são os destinos mais procurados pelos turistas aqui em Minas?
As montanhas, serras e a Cordilheira do Espinhaço, que é nela que está a Capital, Ouro Preto, Tiradentes e um grande contingente de cidades barrocas e coloniais. Temos também demanda pela Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas, que faz divisa com São Paulo. E temos despontado de forma muito importante nos parques nacionais e na região da Canastra, no Norte de Minas, que contam com um grande fluxo de turistas. A Canastra vem se qualificando em um destino especializado em gastronomia, por conta do queijo, e também por quem busca as cachoeiras e toda a beleza que a região possui.
Qual o montante de turistas que visitaram o Estado ano passado e quais as expectativas para esse ano?
Em média, por mês, temos 2 milhões de pessoas fazendo turismo em Minas. Então, em 12 meses, chegamos aí a 24 milhões de turistas, aproximadamente, gerando cerca de R$ 30 bilhões para a economia de Minas Gerais.
Quais as prioridades da Secult para o restante de 2024?
Em 2024, nós estamos com um planejamento bem ousado. Acabamos de voltar de Paris trazendo a Le Cordon Bleu para Minas Gerais, que traz para a nossa cozinha status muito diferenciado perante o mundo. O queijo deverá ser anunciado como Patrimônio da Humanidade; nós estaremos presentes com um festival de cozinha e gastronomia em Portugal. Minas participará também de uma feira em Londres e estaremos na feira internacional da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav). A partir de janeiro de 2025, vamos começar campanhas de atração de turistas para Minas Gerais, que também serão feitas no exterior.
Como é possível desenvolver mais ainda o turismo no Estado?
Nós ainda precisamos de infraestrutura. Temos lugares belíssimos, como, por exemplo, a Serra do Cipó, onde não temos estrutura de mirantes. Também precisamos melhorar a sinalização turística, ainda que as próprias plataformas, como o Google Maps, tragam um encaminhamento dos lugares turísticos, mas é preciso melhorar a sinalização. Também precisamos aumentar a conectividade aérea ao Estado, apesar do avanço imenso que nós tivemos, como, por exemplo, passar de dois voos internacionais, para nove no ano passado. Há quatro anos não tínhamos nenhum voo regional e hoje nós temos, inclusive, para o Vale do Jequitinhonha. Também precisamos melhorar a pavimentação para melhorar o acesso aos parques, ou seja, focar em uma estruturação melhor dos nossos destinos no que se refere à infraestrutura.
Qual ou quais seriam os principais gargalos do turismo em Minas Gerais?
O principal gargalo que nós temos é com relação à mobilidade. Nós realmente precisamos, e o governador Romeu Zema tem feito esforços para isso, é com relação à renovação das nossas estradas. Nós temos a maior malha rodoviária do País, o que não é fácil manter. Nosso Estado tem dificuldades e eu vejo as pessoas nas nossas pesquisas se queixando muito das más condições das estradas em Minas Gerais. É o nosso principal desafio.
Como está o turismo hoje em Minas Gerais?
Na minha avaliação, temos muito que avançar. Mas os números, falo com base nos dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), exceto no mês de abril, na liderança em crescimento do setor no Brasil. Em abril, a Bahia teve um desempenho melhor, mas nós tivemos nos outros meses. Nós crescemos o dobro da média nacional e temos picos, por exemplo, como a Semana Santa e o Carnaval. Nós crescemos 1.500 vezes acima da média nacional, segundo dados do IBGE. No ano passado, fomos os maiores geradores de emprego e renda no Estado de Minas Gerais. Vivemos um momento bom e não podemos parar. Outro desafio é manter o nível, melhorar e continuar elevando-o. A fórmula passa por formar, qualificar e promover o turismo de Minas Gerais.
Como Minas espera ser vista no setor em curto, médio e longo prazos?
Um sonho que tenho é que sejamos vistos como um turismo sustentável, um turismo verde, com um turista que vem a Minas e comunga da nossa cultura. Queremos a cultura no centro do turismo mineiro, como uma experiência. Não acredito que há verdade em uma viagem sem experiência cultural, então a cultura é central e espero que Minas seja vista como aquele lugar onde a natureza é cuidada, a agricultura familiar, que é 80% da nossa agricultura, seja valorizada. Um turismo que mantenha as nossas características ancestrais de acolhimento, de bem receber em nossas cidades e em nossas casas e que a nossa cozinha evolua para uma cozinha contemporânea, mas que mantenha firme a convicção de quem é nas suas origens.
Qual o volume de obras que o turismo tem atraído para Minas e qual a previsão de fechar esse ano?
Neste ano, são sete grandes empreendimentos no Estado e posso citar aqui o Vila Galé, que começou com a previsão de 150 quartos e já aumentou para 280, visto a dinâmica que o turismo tem tomado. Então, os investimentos foram em torno de R$ 3,7 bilhões em todas as áreas, mas eu destaco também a hotelaria e as pousadas que nascem nas cidades de uma forma vigorosa. Mas, algo que me preocupa é a qualidade arquitetônica dos lugares. Temos que trabalhar a arquitetura ou o visual das nossas fazendas mantendo nossa tradição arquitetônica.
Como está a questão da geração de emprego no turismo mineiro?
Em 2023 foram gerados cerca de 100 mil empregos. Fomos campeões na geração de emprego e renda em Minas Gerais, juntando cultura, turismo, a economia criativa e tudo que se refere a esse setor. A expectativa para 2024 – reduzimos a meta – passou para 50 mil empregos, uma vez que, no ano passado, tivemos uma retomada vigorosa pós-pandemia. Era o segundo ano de retomada, mas ela foi muito crescente e, ainda assim, mantivemos uma meta ousada de 50 mil empregos para este ano. Só que, quando falamos de 50 mil empregos, eles são de carteira assinada. Ainda temos a expectativa de gerar outros 50 mil indiretos.
Como fica a questão da competição entre praia e montanha na sua avaliação?
Acredito que o Brasil precisa aprofundar o entendimento de praia. O Rio de Janeiro inventou o modelo de usar a praia e de estar na praia. As areias de Ipanema inventaram a bossa nova e o samba. A Bahia tem uma tradição de praia muito grande, mas a cultura não está presente. A praia tem um sentido muito importante e sempre terá seu lugar, mas eu vejo diminuindo muito a demanda por praia em função da natureza de uma forma mais ampla. A natureza é um contato pós-pandêmico com o céu, a montanha, o campo, o riacho, a água, que são elementos muito interioranos. O mar avistamos longe, mas busca-se um momento de recolhimento pós-pandêmico, um contato íntimo com a natureza. Ele acontece na praia também? Claro! Mas é diferente olhar para o mar com aquela dimensão e olhar para aquele céu que se encontra com as montanhas. Outro ponto é ir a uma cachoeira e Minas Gerais tem mais de 150.
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