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Vale da Eletrônica não consegue atender às encomendas em alta

Vale da Eletrônica não consegue atender às encomendas em alta
O Vale da Eletrônica perdeu capacidade produtiva com falta de componentes | Crédito: Divulgação

Enquanto o setor eletroeletrônico nacional projeta crescimento real de 1% em termos de faturamento em 2020 sobre 2019, o polo do Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, deverá encerrar o exercício no zero a zero. O Arranjo Produtivo Local (APL) conta com aproximadamente 150 empresas e chega a representar até 70% da produção nacional de algumas áreas do setor.

As informações são do presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Eletrônicos, Elétricos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel), Roberto de Souza Pinto. Conforme ele, depois de um ano conturbado, em função da crise imposta pela pandemia de Covid-19, o cenário atual é de demanda bastante superior à oferta.

“Nosso setor foi o primeiro a sentir os impactos do novo coronavírus, ainda em fevereiro, em virtude do desabastecimento de componentes importados da China. Logo em seguida, com a chegada do vírus ao País, nossas indústrias tiveram que lidar com as restrições e as baixas nas vendas ao mercado interno. Já a partir de junho, os pedidos começaram a voltar (interna e externamente), e o desempenho só não é maior por falta de capacidade fabril”, explicou.

O diretor regional da Abinee em Minas Gerais, Alexandre Magno Freitas, destacou que o Estado acompanha o País em termos de desempenho e, de certa forma, conseguiu atravessar os últimos meses com menos problemas do que os demais, devido ao perfil da indústria. “Nossa indústria é muito voltada para geração, transmissão e distribuição de energia, que foi umas das áreas que mais cresceram em 2020. Isso puxou o nível dos nossos números para cima”, comentou.

Souza Pinto as empresas mineiras preparam grandes novidades em termos de tecnologia | Crédito: Mateus Lourenço/Divulgação

Desabastecimento – Ainda conforme o diretor, o ano chega ao fim com problemas sérios de insumos, que não são exclusivos da indústria de eletroeletrônicos, mas da indústria brasileira geral. Segundo ele, faltam equipamentos, componentes e embalagens. “Mas já estamos começando a observar um nivelamento entre procura e oferta e esperamos, no início do próximo ano, ver equilibradas nossas aquisições de matérias-primas”, completou.

Souza Pinto, por sua vez, ressaltou que as empresas mineiras investiram, nos últimos meses, principalmente em inovação e que há grandes novidades em termos de tecnologia para 2021. Por falar nisso, parte significativa dos R$ 3,3 bilhões estimados pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) para o ano que vem deverá ser aplicada em Minas Gerais.

“Mesmo com escassez de matéria-prima, logística morosa e custo mais elevado, a demanda está muito elevada e pedindo um aumento da produção. Apenas no Vale da Eletrônica, há demanda suficiente para produzirmos entre 40% e 60% a mais”, detalhou.

Em termos de expectativa de desempenho, a Abinee projeta alta de 7% no faturamento, que deve alcançar R$ 194 bilhões. Neste ano, o número deverá chegar a R$ 173,4 bilhões. O presidente do Sindvel, por sua vez, não citou números, mas alertou que um crescimento é mais do que necessário.

“Entre os anos 2000 e 2013, experimentávamos crescimentos de 25% a 32% no Vale da Eletrônica. Em 2014, iniciamos uma trajetória de queda ou baixos desempenhos que não se sustenta mais. O setor industrial como um todo encerrou 2019 apostando que 2020 seria o ano da virada e vivemos um caos. Agora esperamos que 2021 seja diferente, mas, para isso, governo, academia e o setor produtivo precisarão se unir”, afirmou.

Faturamento da indústria no País deve ir a R$ 173,4 bi

Mesmo em um ano de pandemia, a indústria eletroeletrônica conseguiu encerrar 2020 com um incremento de 4% em seu nível de emprego, que passou de 234 mil em dezembro de 2019 para 243 mil pessoas no final deste ano. As informações foram divulgadas ontem pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), em sua coletiva de imprensa anual.

O faturamento da indústria eletroeletrônica deve encerrar 2020 em R$ 173,4 bilhões. Apesar do crescimento nominal de 13% na comparação com 2019 (R$ 153 bilhões), o aumento real foi de apenas 1%, uma vez que a inflação do setor, segundo o Índice de Preços ao Produtor (IPP), fechou o ano em 12%.

A produção industrial de bens eletroeletrônicos apresentou queda de 2% em 2020 em relação ao ano passado. Já a utilização da capacidade instalada caiu de 78% para 75% este ano.

A estabilidade no faturamento e ligeira queda produção do setor em 2020 repete desempenho semelhante ao do ano passado, quando também não houve crescimento nestes indicadores.

O presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, observa que até maio todos os indicadores apontavam para um cenário drástico em 2020, em razão da pandemia, mas o dinamismo e a resiliência do setor reverteram a curva descendente dos indicadores. “As empresas conseguiram fazer uma leitura rápida do atual cenário, adequando processos e linhas de produção para a nova realidade”, afirma.

Segundo Barbato, no cenário de restrição por conta do isolamento social, os bens e serviços de tecnologia, disponibilizados pelo setor, têm sido fundamental para conectar as pessoas, fazer girar a economia, manter as empresas operantes, possibilitar entretenimento, acesso à educação, atender a necessidades de abastecimento, além de otimizar e facilitar o acesso dos consumidores a serviços essenciais.

O presidente do Conselho de Administração da Abinee, Irineu Govêa, observa que, mesmo em uma situação tão extrema, o setor eletroeletrônico tem dado mostras de que consegue resistir às condições mais adversas, dando continuidade ao trabalho e mantendo a produção em suas fábricas adaptando-se à nova realidade a fim de trazer proteção aos trabalhadores.

“Programas como o auxílio emergencial, a manutenção do emprego e da renda e outras iniciativas permitiram minimizar o impacto da crise para os que não dispõem de condições econômicas para se manter na pandemia”, diz.

Balança comercial – As exportações pouco contribuíram para o faturamento da indústria eletroeletrônica, com queda de 21% em 2020, passando de US$ 5,6 bilhões para US$ 4,4 bilhões. Já as importações caíram 10%, de US$ 32 bilhões, em 2019, para US$ 28,9 bilhões este ano.

Com isso, o déficit da balança comercial deve atingir US$ 24,5 bilhões, total 8% inferior ao apresentado em 2019 (US$ 26,5 bilhões).

Perspectivas – Para 2021, os empresários do setor têm expectativas favoráveis. A mais recente Sondagem realizada com os associados da Abinee indicou que 75% das empresas projetam crescimento nas vendas/encomendas no próximo ano; 22%, estabilidade e apenas 3%, queda.

Também o último Índice de Confiança do Setor Eletroeletrônico (ICEI) divulgado pela Abinee, em novembro, atingiu 62,9 pontos. Acima de 50 pontos, o ICEI indica confiança do empresário. “Estamos encerrando 2020 com um Índice de Confiança positivo e superior ao do ano passado”, observa Barbato. Em novembro de 2019, o ICEI havia alcançado 61 pontos.

Considerando a projeção de crescimento do PIB de 3,5% e inflação em torno de 3,3% ao ano em 2021, o setor eletroeletrônico espera um crescimento nominal de 12% e real (descontada a inflação) de 7% no faturamento, que deve alcançar R$ 194 bilhões.

A Abinee também projeta elevação de 6% na produção e aumento de 3% no nível de emprego, que deve passar de 243 mil para 249,5 mil trabalhadores. As exportações devem crescer 7% (US$ 4,7 bilhões) e as importações, 10% (US$ 31,6 bilhões).

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