Varejo farmacêutico se consolida em Minas Gerais

O varejo farmacêutico em Minas Gerais tem crescido nos últimos anos, com inúmeras redes ampliando a presença no Estado. Estudo realizado pela Cognatis, em parceria com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), mostra que o ritmo médio de abertura de novas farmácias nas cidades mineiras entre os anos 2000 e 2023 foi de 671 inaugurações a cada exercício. O ápice foram os 819 lançamentos registrados em 2011.
O gerente de expansão da Drogaria Araujo, Alexandre Costa, ressalta que o mercado farmacêutico mineiro vem mostrando forte crescimento há muito tempo. Segundo ele, a pandemia foi um dos grandes marcos que despertaram o avanço do setor. “Ela chancelou o segmento como um dos mais resistentes às crises econômicas, por vender algo que é essencial, indispensável ao consumidor e isso explica o crescimento robusto”, avalia.
Costa ainda ressalta a grande oportunidade ligada aos serviços farmacêuticos oferecidos nas lojas do ramo. “O farmacêutico é um profissional acessível à população, sendo capaz de realizar o atendimento primário à saúde”, argumenta.
O diretor da rede associativista Entrefarma, Eduardo Lobato, também destaca o crescimento do segmento tanto em número de lojas quanto de profissionais. Ele ainda reforça que o mercado mineiro, em especial, ainda oferece mais espaço para lojas bem estruturadas, mas não para empreendedores aventureiros. E que Minas ainda tem muito a crescer, de forma a se consolidar, cada vez mais, como o segundo maior mercado do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo.
O levantamento da Cognatis aponta que, até o mês de fevereiro, existiam 12,4 mil farmácias no Estado. A maioria das operações em Minas Gerais (84,5%) é caracterizada como individuais ou independentes. Isso significa que 10,5 mil unidades não possuem vínculo com alguma rede ou associação.
Outras 15,5% estão ligadas às redes varejistas que atuam no mercado mineiro. Dentre elas, o principal destaque fica para a mineira Drogaria Araujo. Em fevereiro deste ano, a rede tinha 327 lojas espalhadas pelo Estado.
Além dela, outras três empresas se destacam: o Grupo RD Saúde, com as bandeiras Droga Raia e Drogasil, que juntas somam 232 operações; a Farmácia Indiana, com 153 unidades; e a Drogaria Pacheco, do grupo DPSP, com 137 lojas na região. Essas foram as únicas redes a superarem a barreira das 100 unidades em Minas Gerais.
Maiores redes de farmácias de Minas Gerais (número de lojas):
- Drogaria Araujo – 327
- RD Saúde (Droga Raia e Drogasil) – 232
- Farmácia Indiana – 153
- Drogaria Pacheco – 137
- Natus Farma – 82
- Farmácia Pague Menos – 80
- Droga Líder – 66
- Minas Brasil – 65
- Farmácia Nacional – 41
- Droga Clara – 39
Leia também: Minas reúne duas das maiores redes farmacêuticas do Brasil; veja ranking
A pesquisa da Cognatis também revelou que Belo Horizonte concentra a maior quantidade de farmácias em operação em Minas, contando com 1.335 unidades. O número é equivalente a quase quatro vezes o total da segunda colocada, a cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com 393 lojas. Em seguida vêm Juiz de Fora (301), Contagem (296) e Montes Claros (234).
Conforme dados atualizados do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Minas Gerais (CRFMG), das 12 mil unidades presentes no mercado mineiro, com exceção das operações privadas, 9,4 mil adotam o modelo de drogaria.
Quanto à capacidade do mercado local de abrigar novas operações, Lobato pontua que ainda há muitos municípios mineiros com pouca oferta de farmácias e drogarias, possibilitando o aumento da presença no Estado, sem que ocorra um cenário de canibalização entre as redes. “Eu não vejo um mercado predador, vejo um mercado promissor”, declara.
Já o gerente de expansão da Araujo avalia que o processo de canibalização no mercado farmacêutico é impossível, devido à diversificação de proposta presente no setor. “O Brasil é um País muito grande com grandes oportunidades e possibilidades”, diz.

Costa relata que, assim como outras empresas, a Drogaria Araujo utiliza inteligência de dados para embasar sua estratégia de expansão e criação de novos negócios. “A leitura de inteligência de dados contribui para poder seguir com uma decisão mais segura sobre quando aprovar ou não determinado negócio”, explica.
Essas ferramentas de machine learning possibilitam que a empresa avalie o potencial de consumo, renda média da região, o perfil do shopper e hábitos de consumo. “Também fazemos a visita in loco, que é um diferencial”, pontua.
Na visão do diretor da Entrefarma, dentre os fatores mais importantes a ser levado em consideração por quem pretende abrir uma nova loja está o fluxo de pessoas no local e o tipo de comércio presente na região. Além disso, os empresários também devem considerar o crescimento do bairro e a classe da população local.
Tendo 2020 como ano base, o estudo da Cognatis também revelou que o valor médio destinado para despesas com saúde domiciliar em Minas Gerais é R$ 355,74 por mês. O tíquete médio mensal para os domicílios que tiveram gastos com saúde é R$ 385,99. Já o montante destinado para os gastos com remédios nos domicílios mineiros é, em média, de R$ 156,17 por mês; enquanto o tíquete médio mensal ficou em R$ 175,76.
Micro e Pequenas Empresas no varejo farmacêutico
Outro levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base em dados da Receita Federal do Brasil, aponta que Minas Gerais fechou 2023 com 11.370 farmácias em funcionamento. A maioria (70,63%) está enquadrada como Microempresas (ME) e 15,03% como Empresas de Pequeno Porte (EPP).
Já a natureza jurídica mais comum entre as farmácias de Minas é a Sociedade Empresária Limitada, que engloba 8.990 operações no Estado. Outras 1.505 funcionam no regime de Empresário Individual.
Na divisão geográfica, o destaque fica para a região Central de Minas Gerais, com 2.714 unidades no último ano. Depois vem a Zona da Mata (1.778), região Sul do Estado (1.337) e Vale do Rio Doce (1.241).

Apesar de serem maioria, não apenas em Minas mas também no Brasil, as redes pequenas e independentes tendem a passar por dificuldades para competir com as grandes redes. De acordo com pesquisa realizada pela IQVIA, 86% dos fechamentos de farmácias no País ocorreram entre as PMEs, contra apenas 7% entre as farmácias associativistas e franquias.
Baseado nesse cenário, o diretor da rede associativista Entrefarma, Eduardo Lobato, destaca as vantagens de se associar a uma rede associativista. Segundo ele, após se juntar a uma instituição, o empresário passa a ter acesso a dados de mercado que auxiliam em tomadas de decisões, principalmente em relação à abertura de novas lojas e definição do mix de produtos. Outra grande vantagem, segundo o diretor, está na melhora do relacionamento com fornecedores.
Comércio físico vs comércio on-line
Assim como ocorre em outras áreas do varejo, o comércio no segmento farmacêutico tem passado por transformações nos últimos anos, principalmente nos seus canais de vendas, deixando de operar apenas no físico e passando a adotar cada vez mais o formato digital.
Conforme dados do Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa (Ifepec), a parcela de pessoas que realiza suas compras de medicamentos de forma não presencial passou de 24,8%, em 2023, para 26,9%, neste ano. Dentre esses, 88% optam pela compra via WhatsApp ou telefone.
Lobato afirma que o mercado está digitalizado há mais de 20 anos. Mas, para ele, o e-commerce não vai acabar com o ponto físico, o que poderá acontecer é uma junção dos dois modelos. Ele reforça que, no caso do varejo farmacêutico, as lojas físicas podem ter vantagens, principalmente, devido à proximidade das operações. “Hoje, a cada 100 ou 200 metros, tem uma farmácia. O que é melhor, atravessar a rua ou entrar em um site e esperar dois dias pelo remédio?”, questiona.
De maneira complementar, o gerente de expansão da Drogaria Araujo ressalta que a recente bancarização tem contribuído para o crescimento do acesso à internet e ao varejo on-line, reforçando as compras por meio de canais digitais. No entanto, esse crescimento não deve acabar com o comércio físico, uma vez que cada um possui uma proposta distinta. “Eu acredito que eles são complementares e, atuando em conjunto, potencializam a experiência do cliente”, completa.
Segundo ele, as lojas físicas têm investido na oferta de experiências diferentes para cada situação. Dentre essas apostas está o modelo “clique e retire”, em que o cliente realiza sua compra no aplicativo e retira o produto na loja.
“O comportamento do consumidor sustenta isso, que são quatro pontos: sentimento, preço, conveniência e experiência tática, ou seja, a necessidade de tocar o produto. Penso que esse será o caminho: parear os dois segmentos”, completa.

De acordo com estudo realizado pela SimilarWeb, a rede Minas-Brasil foi o principal destaque entre as companhias mineiras, neste segmento, figurando entre as dez melhores do Brasil. A empresa responde por 1,7% do tráfego total do setor no País, além de possuir 1,19 milhões de visitantes únicos mensais em seu site.
Já a Araujo possui 1,6% de traffic share, 900 mil de visitantes mensais e 280 mil usuários ativos mensais em seu aplicativo. Vale ressaltar que o plano estratégico de expansão da rede, com investimento aproximado de R$ 150 milhões, também prevê a evolução de seus canais digitais, que já representam 14% do faturamento total da empresa.
Outro destaque do setor varejista farmacêutico de Minas Gerais no estudo é a Farmácia Indiana, com 0,5% do tráfego total do mercado nacional, 300 mil visitantes em seu site e 20 mil usuários ativos no aplicativo.
Já no cenário nacional, as redes do grupo RD Saúde dominam o e-commerce no varejo farmacêutico. A Droga Raia e a Drogasil possuem 20,6% e 12,6% do traffic share do Brasil, respectivamente. Ambas também lideram a lista das maiores médias de visitantes únicos no País: Droga Raia (12,11 milhões) e Drogasil (6,98 milhões). Além disso, essa última é a bandeira com maior número de usuários ativos mensais em seu aplicativo, são 2,34 milhões; seguida pela Droga Raia, com 1,41 milhões de usuários.
Ouça a rádio de Minas