Venda de elétricos deve ser recorde
As vendas de veículos elétricos no País devem fechar o ano com um novo recorde, segundo previsão da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), passando de 30 mil unidades. De janeiro a outubro de 2021, foram vendidas 27.097 unidades, o que equivale a um aumento de 74% sobre os emplacamentos do mesmo período de 2020 (15.565). Só em outubro, a comercialização de eletrificados totalizou 2.823 – alta de 24% em relação a outubro de 2020 (2.273). Na comparação com setembro (2.749), o aumento foi de 2,7%.
“O resultado é muito relevante, principalmente se considerarmos que a demanda no mercado, de forma geral, nunca esteve tão aquecida diante de uma oferta tão restrita, por causa da crise dos semicondutores, o que afeta até o segmento de seminovos. E a pressão por modelos não poluentes tem crescido em todo o mundo, provocando uma verdadeira revolução na indústria automotiva”, avalia Flávio Maia, diretor comercial da AutoMAIA Veículos, revenda de referência em Belo Horizonte.
Durante a COP26, considerada a maior Conferência do Clima da história, com quase 40 mil participantes, vários fabricantes – como Ford, Mercedes e Volvo – e 24 países, entre eles Reino Unido, Canadá, Chile, Uruguai, Paraguai e Dinamarca, firmaram um acordo para reduzir a venda de veículos movidos a combustíveis fósseis até 2040.
O Brasil não assinou a declaração da ONU. Mas entre 40 cidades e governos estaduais que assumiram a meta tornar esse tipo de transporte com emissão zero “acessível” e “sustentável” em todas as regiões do mundo até 2030 estão São Paulo, Barcelona, Los Angeles, São Francisco, Califórnia e Nova Iorque. Na declaração, os signatários afirmam que “juntos, trabalharão para que todas as vendas de automóveis e caminhões novos sejam não poluentes em nível mundial até 2040 e, no mais tardar, até 2035 nos principais mercados”.
A cidade de São Paulo se comprometeu a incentivar a transição da frota privada para veículos limpos e a renovar a frota municipal. Em Belo Horizonte, um ônibus 100% elétrico está sendo testado durante 30 dias em quatro linhas para avaliar a viabilidade técnica e econômica da utilização dos coletivos eletrônicos.
“Por aqui, a transição será lenta, na comparação com outros países. Várias montadoras mundiais anunciaram centenas de lançamentos de modelos híbridos elétricos e plug-in até 2025. No Brasil, temos um longo caminho a percorrer e ainda vai levar um tempo para que a população comece a reparar em carros elétricos nas ruas. Mas esta realidade nunca esteve tão próxima, mesmo que tenhamos que superar alguns obstáculos importantes”, afirma Maia.
O primeiro deles é o preço. Neste ano, mais uma vez o mercado brasileiro de eletrificados foi liderado pelos híbridos flex a etanol (HEV), produzidos no Brasil, segundo a ABVE. As versões do Corolla fabricadas pela Toyota em Indaiatuba e Sorocaba (SP), com preço de entrada de R$ 170 mil, em novembro, corresponderam a 53% do total de eletrificados emplacados de janeiro a outubro de 2021 (14.446, de um total de 27.097).
De modo geral, os eletrificados não plug-in (HEV), que incluem os híbridos flex a etanol e os híbridos a gasolina, corresponderam a 57% do total do mercado brasileiro, no período (15.600, de um total de 27.097). Um projeto (PL 5308/20) que tramita no Congresso, em Brasília, prevê o fim da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do PIS/Cofins para elétricos ou híbridos. No caso dos importados, mesmo com a isenção do imposto de importação que era de 35% (a alíquota do híbrido é de 2%), os preços para o consumidor passam de R$15 mil.
Na última semana, Luca de Meo, CEO do Grupo Renault, disse no Brasil que a empresa avalia o potencial do mercado brasileiro de híbridos para decidir se vai investir na adaptação da tecnologia para as condições locais com o etanol. E que pretende lançar, em 2022, o elétrico mais barato do Brasil, com o Kwid – posição que, atualmente, pertence ao JAC E-JS1, por R$159 mil.
Baterias – Para tornar os carros mais acessíveis, montadoras investem no desenvolvimento de novos tipos de baterias que, hoje, representam até 35% do custo total do automóvel. A Stellantis, que reúne mais de 14 marcas, anunciou a criação de uma joint venture com a LG Energy Solution para a construção de uma fábrica de baterias para automóveis eletrificados, prevista para operar no primeiro trimestre de 2024, nos Estados Unidos; a Toyota, por sua vez, disse que vai investir na criação de 10 linhas de montagens de baterias até 2025. No Brasil, a Anfavea avalia que os avanços tecnológicos e os ganhos de escala já contribuem para a redução nos custos do componente.
Outra preocupação do consumidor é o número reduzido de pontos de abastecimento que pode comprometer a autonomia de viagem. Diante desse cenário, é preciso buscar alternativas mais alinhadas com a realidade nacional, explica o empresário Flávio Maia. “Esse é um grande desafio: o desenvolvimento de infraestrutura de recarga, ainda mais em um país como o nosso, que tem dimensões continentais. Modelos elétricos híbridos, que permitem o uso complementar do etanol, por exemplo, que é um biocombustível renovável, limpo, cuja queima emite menos CO2 do que a de derivados do petróleo como a gasolina, estão mais adequados à realidade brasileira, atualmente”, avalia Maia.
Segundo a associação dos fabricantes, o segmento de veículos leves – de passageiros e comerciais – deve seguir uma tendência de convergência global de tecnologia e produção, que vai permitir que o Brasil se aproxime de níveis de eletrificação de mercados mais avançados. E os xEVs vão ganhar escala, atingindo em 2035 níveis de penetração por segmento similares aos da Europa em 2030. Mas os flex ainda devem representar a maior parte da frota em 2035, assumindo a taxa de renovação atual.
“A nossa certeza é que os carros elétricos são o próximo passo rumo ao futuro da mobilidade. Mas, por enquanto, a venda representa apenas cerca de 2% do mercado nacional. É preciso investir em uma política tributária que possa tornar o segmento de elétricos mais amigável para o consumidor, ao mesmo tempo em que se investe em infraestrutura do sistema elétrico para absorver uma nova demanda do mercado. O resultado seria o aumento da confiança do cliente e, consequentemente, a melhora da performance do setor”, conclui Maia.
Ouça a rádio de Minas