Vendas de pneus caem no primeiro trimestre

Após encerrar 2024 com resultado negativo, a comercialização de pneus seguiu em retração ao longo do primeiro trimestre de 2025. Conforme a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), entre janeiro e março, houve queda de 3,1% nas vendas nacionais de pneus, se comparadas com igual trimestre do ano anterior. Em Minas Gerais, empresas que atuam no segmento também registraram perdas e ressaltam que as importações de pneus, principalmente os vindos da Ásia, estão impactando de forma negativa no mercado. Além disso, as altas taxas de juros e o maior comprometimento da renda da população afetam o desempenho.
Conforme os dados divulgados pela Anip, nos primeiros três meses do ano foram quase 11,7 milhões de unidades de pneus comercializadas, gerando, assim, uma retração de 3,1%. A queda mais expressiva veio da comercialização voltada para o mercado de reposição, com diminuição nas transações de 9,2%, passando de quase 9,31 milhões de unidades no primeiro trimestre de 2024, para atuais 8,46 milhões de unidades. Por outro lado, as vendas para montadoras cresceram 17,4%, somando 3,26 milhões de unidades.
Entre os segmentos, as vendas de pneus para veículos de passeio recuaram 8,5% no primeiro trimestre, somando 5,7 milhões de unidades. As comercializações para montadores recuaram 3,1% e o mercado de reposição caiu 10,7%.
O desempenho negativo nas negociações é registrado por empresários mineiros. Na Minas Pneus, uma das maiores e mais tradicionais revendedoras de pneus da marca Bridgestone Firestone em Minas Gerais, conforme o diretor Henrique Koroth, a venda caiu 21% no primeiro trimestre, frente ao mesmo período de 2024.
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Importados
Segundo Koroth, a concorrência desleal com os pneus importados, que chegam ao mercado a preços menores, é o principal fator que vem reduzindo a demanda.
“O nosso pior desafio é a questão dos produtos importados, que possuem preços muito menores. Dependendo da medida, chegam à metade do valor de um produto nacional. Ainda enfrentamos a concorrência desleal de alguns revendedores, que para atrair os clientes, colocam preços muitas vezes abaixo do custo para tirar a diferença em outros serviços”, explica.
Para reverter os resultados negativos, Koroth explica que serão necessários preços mais competitivos da indústria nacional para vencer a concorrência dos importados.
“Para o restante de 2025, esperamos que as indústrias nacionais façam alguma movimentação para nos tornar os produtos novamente competitivos recuperando assim, a parcela que nos foi tirada pelos produtos importados”.
Queda do poder de compra também afeta venda de pneus
Nas lojas Rio Claro Pneus, as vendas de pneus nos primeiros quatro meses do ano recuaram próximo a 15%. O diretor de Operações, Bruno Marques, espera um ano desafiador. Entre os fatores que impactam nas vendas, está a menor capacidade de pagamento por parte da população.
“Nos primeiros quatro meses do ano, nitidamente, percebemos queda nas vendas, principalmente no varejo de porta. Assim, encerramos com vendas de 10% a 15% menores que no mesmo período do ano anterior. O ano será desafiador, com aumento do imposto de importação e nitidamente diminuição da capacidade de pagamento da população”, explicou.
Quanto às importações de pneus, Marques explica que apesar de serem desafiadoras, são necessárias. “As importações sempre serão um desafio, pois a variação do dólar e frete marítimo não nos dá total segurança para análise do custo, além de termos um desembaraço no Brasil sempre mais complicado e altas taxas de armazenagem no porto. Mas hoje nosso mercado depende dos produtos importados”.
Pneus de cargas e motocicletas
Nos primeiros três meses do ano, além da queda registrada nas vendas de pneus para veículos de passeio, as comercializações de pneus para veículos de carga tiveram resultados 5,3% menores que no mesmo período do ano anterior. Dessa forma, as vendas caíram de 1,65 milhão de unidades, para atuais 1,56 milhão de unidades. No segmento de pneus para motocicletas, as vendas para reposição retraíram 7,8%, caindo de 2,37 milhões para 2,18 milhões de unidades no primeiro trimestre de 2025.
O empresário e sócio da Toca do Pneu, loja especializada em pneus de carga e agrícola, em Contagem, Gustavo Cota, explica que a queda nas vendas chegou a 30% entre janeiro e março.
“A venda de pneus caiu significativamente, creio que em torno de 30%. Além disso, estamos com uma inadimplência bastante alta. É um cenário bem complicado, de baixa procura pelos pneus e, quando vendemos, temos dificuldades em receber”.
Ainda conforme Cota, para reverter o cenário negativo é preciso avançar em questões econômicas importantes, como na redução dos juros. “As taxas de juros altas impedem os investimentos e aumentam os riscos. Para o cenário melhorar, o governo terá que reduzir os juros”, explicou.
Guerra de tarifas
A Anip, diante da queda de vendas da indústria nacional de pneumáticos, principalmente, em função dos pneus importados, prevê um cenário desafiador para o setor. Situação que pode ser ainda mais agravada com os movimentos tarifários que estão sendo realizados pelo governo norte-americano.
Conforme a Anip, com o aumento das tarifas, os países asiáticos, que estão sendo fortemente penalizados, devem intensificar as exportações para outros mercados. “O Brasil poderá ser um dos seus alvos preferidos, o que tende a intensificar ainda mais a entrada de produtos importados no País, colocando em risco a competitividade da indústria nacional e ameaçando a manutenção de empregos e investimentos no setor”, disse em nota.
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