Vendas e movimentação do Mercado Central decepcionam no 1º trimestre

Bom termômetro do comércio de Belo Horizonte, a movimentação nos corredores do Mercado Central deixou a desejar no primeiro trimestre do ano. Símbolo da Capital, encravado no hipercentro há 95 anos e passagem obrigatória de turistas de todo o mundo, sempre está cheio, porém as sacolas andaram um pouco mais vazias do que de costume.
De acordo com o diretor-presidente do Mercado Central, Ricardo Vasconcelos, 2023 começou bem, ainda impulsionado pela leve recuperação da economia no ano passado. A redução da massa salarial, porém, acabou derrubando o tíquete médio.
“Em janeiro, mês de férias, tivemos um movimento dentro do esperado, mas sem uma grande repercussão nas vendas. Fevereiro é um mês curto e com Carnaval. A festa movimentou muito a cidade, mas o folião não veio para o Mercado, estava mais interessado nas festas e o tíquete médio caiu. Em março, tivemos mais visitantes, mas o tíquete médio se manteve baixo. Teve público, mas as sacolas não estavam cheias. Precisamos que as pessoas percebam uma situação de mundo e Brasil em que elas tenham condição de gastar. O turista sempre quer levar um pouco de Minas para casa. Isso promove um consumo futuro. Essa experiência faz com que a pessoa fale bem do Estado e queira voltar”, explica Vasconcelos.
Esse é o mesmo sentimento da gerente do empório Roça Capital, Aline Dias. Há quase dois anos no cargo, ela enfrentou as dificuldades da pandemia e espera uma retomada da economia mais consolidada para ver as sacolas saírem cheias da loja novamente.
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“Nesse primeiro trimestre, tivemos um movimento reduzido. Esperávamos mais do Carnaval. Apesar da agitação nas ruas da cidade, isso não se converteu em vendas. O sentimento de muitos consumidores era de segurar os gastos esperando a economia melhorar. As vendas da Semana Santa estão como em uma semana normal, sem o aumento esperado para uma data especial”, avalia Aline Dias.
Para o supervisor de vendas do Ananda Empório – uma das lojas mais antigas do Mercado -, Eduardo Campos, apesar das compras reduzidas, o primeiro trimestre trouxe motivos para otimismo e a Semana Santa para comemorações. A expectativa é de que as vendas relativas ao feriado religioso cresçam entre 15% e 20% na comparação com a mesma data do ano passado, tendo como estrela o bacalhau de origem norueguesa.
“Depois de tanto sofrimento durante a pandemia, a retomada está sensacional. Voltamos ao movimento normal. A diferença é que o poder aquisitivo não é mais o mesmo. Então, as pessoas estão pesquisando mais, demorando mais para decidir, mas não deixam de levar alguma coisa”, destaca Campos.

A Semana Santa é a esperança do próprio diretor-presidente do Mercado Central. Segundo ele, as tradicionais peixarias estão movimentadas e, mesmo com o aumento de preço e a atenção redobrada dos clientes quanto aos gastos, elas terão bons resultados oferecendo variedade e qualidade nos produtos e atendimento.
“A Semana Santa tende a fazer resultados melhores. Temos a tradição do consumo de peixes e aqui dentro temos ótima peixarias e o melhor bacalhau nas suas diferentes apresentações. Todas as lojas oferecem receitas e o consumidor pode fazer uma boa compra a um preço acessível. Para a segunda parte do semestre, espero um comércio mais vivo, com a retomada da economia com empregos e recomposição da massa salarial. Sou sempre muito positivo”, afirma o gestor.
Inaugurada em 2021, a Ambix – loja especializada em destilados artesanais – completou o seu primeiro trimestre fora do período pandêmico. Segundo o gestor da loja, Marcos José de Azevedo Cysne. embora também tenha enfrentado os efeitos da crise econômica e a resistência dos consumidores desde janeiro, aposta no “jeito de mercado” para manter a trajetória de crescimento.
“A expectativa era que depois da pandemia tivesse um fluxo maior, mas vejo que não é tão grande assim. O primeiro trimestre foi um pouco assustador. O início de janeiro foi bom, com o resquício do Natal, porém, no restante do mês, o volume foi menor que o ano passado. Fevereiro foi razoável porque fizemos ações externas, mas na Quaresma a venda de bebidas alcoólicas diminui. Em março, tivemos a volta dos turistas. Alguns finais de semana foram muito bons, com os shows do Skank e do Luan Santana, por exemplo. O turista sempre reserva dinheiro para levar uma lembrança”, analisa Cysne.
Para ele, o Mercado Central precisa se manter atento e moderno para atrair os visitantes mais jovens. Tudo, porém, sem descuidar do que o trouxe até aqui: a mineiridade.
“Um efeito da pandemia é que as pessoas estão circulando mais perto de casa e valorizando mais a ida a lugares mais distantes. Por isso, precisamos ficar atentos, gerando sempre atrativos para velhos e novos consumidores. No nosso caso, focamos em um atendimento muito personalizado. Todos que entram na Ambix têm uma experimentação completa. As pessoas querem conversar, adquirir conhecimento, e temos que aproveitar esse desejo do consumidor. Além disso, expandimos o mix e promovemos uma ação mais agressiva, vamos pra porta ‘gastar a garganta’ para chamar o cliente. Essa é uma valorização de um jeito próprio, da tradição e do charme dos mercados”, completa o empresário.
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