Opinião

EDITORIAL | Abusos sem consequência

EDITORIAL | Abusos sem consequência
Crédito: Freepik

A privatização, que muitos entendem como cura para todos os males, foi assim apontada quando, faz já bom tempo, optou-se por privatizar o sistema telefônico brasileiro, com ênfase na ampliação da rede de telefonia móvel. Como em outras ocasiões, em que também os resultados não foram muito diferentes, afirmava-se que haveria concorrência e, consequentemente, redução de preços e melhoria nos serviços, tudo isso em proveito do consumidor. Hoje, deixados de lado os tormentos causados aos usuários, que não são poucos, ninguém lembra as conversas de antanho, apontando a multiplicação de linhas como o melhor sinal de sucesso da empreitada.

Evidentemente que não é bem assim. As operadoras, que mudaram de mãos e de formato ao longo do tempo, em alguns casos em flagrante desacordo com os termos da privatização, têm a rigor o mesmo modus operandi, sinal de que entre si se entendem muito bem, em virtual cartelização, em que a única chance reservada ao usuário é trocar seis por meia dúzia, sendo difícil encontrar alguém – e o número de linhas ativas já é maior que a população! – que realmente se dê por satisfeito com o que recebe ou com os preços cobrados.

São cogitações que nos vêm a propósito dos serviços de telemarketing que as operadoras, se de fato preocupadas com seus clientes, poderiam inibir, sem que fosse preciso a intervenção da Anatel, com a criação de um prefixo especial para identificar tais serviços, que deveria estar em uso há pelo menos 15 dias, mas dos quais ainda não se tem notícias. Será, acaso, mais uma daquelas leis que não pegam e assim são esquecidas? É preciso registrar que todo esse tormento existe porque as operadoras disponibilizam a tecnologia, assim faturando mais à custa da invasão da privacidade de seus milhões de clientes.

Igual puxão de orelhas merece a Anatel, que estabeleceu a regra, fixou prazos que já venceram, mas, inerte, finge ignorar que não aconteceu nada, enquanto permanece a tormenta, inclusive com as ligações robotizadas que muitas e muitas vezes não se completam, embora a chamada tenha sido feita e o infeliz usuário atendido, incomodado, simplesmente porque o sistema desarma automaticamente quando sua capacidade atinge o limite. Será que as operadoras não se dão conta do mal que estão causando, será que os organismos reguladores não sabem o que acontece?

Afinal de contas, não nos foi dito e assegurado que a privatização veio para melhorar, para garantir mais e melhores serviços, além de melhor e mais respeitoso atendimento aos consumidores?

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