Opinião

A Casa do Sorriso

A Casa do Sorriso
Crédito: Adobe Stock

A constatação de que a saúde oral, o cuidado das doenças que ali ocorrem, e sua correlação com a saúde como um todo necessita cada vez mais de conscientização. As alterações na saúde cardiovascular, neurodegenerativa, musculoesquelética, respiratória, incidência de recém-nascidos de baixo peso, e controle do diabetes têm impactos que podem ser prevenidos.

Frequentemente pode-se observar na boca o primeiro sinal de adoecimento de uma condição sistêmica. A doença periodontal – inflamação da gengiva e todas as outras estruturas que circundam o dente – pode ser o primeiro sinal do Diabetes, da Leucemia e algumas enfermidades reumáticas. Estima-se ainda que cuidados orais ótimos podem diminuir em catorze por cento os eventos cardíacos. Sabe-se que arritmias e infarto do miocárdio em pacientes com menos de sessenta anos ocorrem em concomitância a condições orais precárias. Observa-se que estes adoecimentos compartilham fatores causais comuns: sedentarismo, tabagismo, higiene oral ruim, obesidade e o próprio envelhecimento.

A saliva, tanto em qualidade e quantidade, tem um papel fundamental na saúde oral. O tabagismo é capaz de alterar para menor o fluxo salivar, além de modificar as propriedades e composição da saliva. Na obesidade ocorrem modificações na microflora da cavidade oral e nas glândulas salivares. Por sua vez, estas mudanças levam a uma diminuição do pH da saliva que favorece a multiplicação bacteriana, e interfere em toda a cadeia de eventos tais como a possibilidade de inflamação da gengiva, e índice de cáries, para citar os mais frequentes. A aquisição de hábitos de vida saudáveis agregada a uma higienização oral correta pode ser capaz de restabelecer o pH da saliva após três meses de sua iniciação. Vê-se que o poder da mudança está em nossas mãos.

A percepção de que a boa saúde oral é consoante com a higidez de todo o corpo é cada vez mais sedimentada na medida que mais e mais todos os profissionais de saúde participam deste processo. Por exemplo, possuir mais de vinte dentes aos setenta anos tem alta correlação com a longevidade, é prova de boa saúde, e de um histórico de cuidados na vida pregressa. Noventa por cento dos adultos acima de 35 anos tem algum problema odontológico gengival, trinta por cento com inflamações que demandam cuidados especializados dos quais um terço já está grave.

É quase uma surpresa ao se constatar que cerca da metade de atletas olímpicos estudados ao longo das últimas décadas, um grupo seleto de pessoas com a saúde aparentemente espetacular, tinha problemas odontológicos. Nas olimpíadas de Londres de 2012, trinta por cento das demandas de saúde eram odontológicas, só perdendo para as solicitações de avaliação ortopédica. Em uma publicação em uma revista científica de Medicina do Esporte sobre uma equipe de elite europeia constatou-se que metade dos atletas demandava tratamento odontológico imediato. Nosso país detém o título de nação com maior número de dentistas no mundo, segundo o Conselho Federal de Odontologia. Entretanto, estatísticas apontam que quarenta por cento da população de baixa renda tem dificuldade de acesso ao tratamento odontológico.

A higiene oral e da língua é importante ainda em pacientes internados ou submetidos a operações, pois podem ser fonte de pneumonia ou febre. Uma pesquisa que investigou pacientes internados para serem submetidos a artroplastias do quadril ou do joelho encontrou três por cento de portadores de um abscesso dentário. O tratamento odontológico tem prioridade em relação ao plano do procedimento proposto, pois qualquer risco de infecção por bacteremia (bactérias no sangue) pode colocar em perigo o sucesso da operação, que é programada (eletiva), e até probabilidade de morte em caso de outras complicações.

A beleza do sorriso é celebrada desde que nascemos. É uma festa o aparecimento do primeiro dente por volta dos seis meses de vida! E segue assim. Durante toda a vida o sorriso é um convite para aproximação, recepção afetiva, e principalmente no amor. Quando escutamos o estrondoso sucesso “Contramão”, composição de Dennys Ricardo e Gustavo Mioto, cantado por este último, compreendemos a força deste encanto: “Não quero ser precipitado/Muito menos te assustar/Mas é nesse teu sorriso/Que o meu beijo quer morar”.

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