Opinião

A CDI-MG e seus problemas financeiros

A CDI-MG e seus problemas financeiros
Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

José Eloy dos Santos Cardoso*

Silviano Cançado Azevedo atendeu ao chamado do secretário de Indústria e Comércio, Francisco Noronha, e aceitou a nobre função de ser o presidente da Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais – CDI-MG, porém nem de longe imaginava encontrar lá os problemas financeiros que lhe foram apresentados logo que ele subiu os 9 andares do edifício onde funcionava a companhia, rua Tamoios, centro. Teve desagradáveis surpresas.

Como ele próprio descreveu no seu livro “De mãos Dadas”, o primeiro problema encontrado foi de ordem financeira: a CDI recebeu a incumbência do governo de executar, como delegada, a aquisição e a terraplanagem dos terrenos a serem ocupados pela fábrica da Fiat Automóveis e pela sua fábrica de motores, a FMB. Não havia nada escrito, porém. As obras já estavam acontecendo e eram tocadas de acordo com cronograma apertado.

Pelo Protocolo de Acionistas firmado entre o governo mineiro e a Fiat SPA, devidamente aprovado pela Assembleia Legislativa, cabia ao Estado entregar os terrenos que somavam cerca de 2,7 milhões de metros quadrados, terraplanados conforme projeto específico, nos prazos determinados. Caberia ao governo repassar à CDI os valores correspondentes, que totalizavam mais que o patrimônio líquido dela.

O Banco Mercantil do Brasil, presidido por Vicente Araújo, não recebendo o valor de título descontado por empreiteiro, depois de aguardar o tempo máximo permitido pelo banco de varejo, protestou o valor emitido pela CDI. O presidente da CDI, Silviano Cançado, levou o assunto ao secretário de Indústria e Comércio, Francisco Noronha, que, por sua vez, levou o problema para o governador Rondon Pacheco resolver.

Depois de marchas e contramarchas, como não poderia deixar de acontecer, o problema foi resolvido. Silviano inaugurou com a presença do governador os distritos industriais novos e as expansões de Uberaba, Uberlândia, Montes Claros, Pirapora, Sete Lagoas e Betim, onde está localizada a Fiat Automóveis e sua fábrica de motores, a FMB.

Em 9 de julho de 1976, a Fiat Automóveis foi inaugurada. Seu presidente era o empresário Adolfo Neves Martins da Costa. Silviano, como presidente da CDI, contratou todas as empresas que fizeram as montagens dos galpões. Foram esperar a pequena comitiva do presidente da República, Ernesto Geisel, que veio a Minas Gerais inaugurar a Fiat. O lugar marcado para esperar a comitiva presidencial era o que todos chamavam de “mirante”, por ser um local alto e de onde era possível avistar todo o complexo produtivo da mais importante empresa industrial que, até então, Minas tinha visto por causa dos efeitos diretos e indiretos que seriam gerados em termos de geração de empregos e rendas.

Nesse primeiro contato com o presidente Geisel, Silviano, se valendo de fotos, seis mapas e gráficos mostrou a estratégia de desenvolvimento do Estado. Presente também, o governador mineiro daquela época, Aureliano Chaves. Todos acompanhavam com atenção e interesse tudo que aconteceu em nosso Estado antes da inauguração da indústria automobilística.

Silviano tomou posse na presidência da CDI em 9 de abril de 1974. Estava precisando de um economista que gostasse do tema “desenvolvimento econômico”. Como não levou ninguém para lá, porque tentou aproveitar os técnicos que já pertenciam à empresa porque trabalharam no Conselho de Desenvolvimento do Estado, origem da CDI, fui indicado pelo Felipe Cabral, que era, na época, Diretor de Administração da Fundação João Pinheiro.

Eu tinha acabado de terminar meu curso de Especialização em Administração ministrado pela Colúmbia University em convênio com a Fundação João Pinheiro. Apresentei-me ao presidente da CDI. Eu, de pé e ele também, em seu gabinete, quase de imediato, confiou a mim a missão de desenvolver o Sul de Minas através da criação de distritos industriais capazes de absorver novas empresas para nosso Estado.

Paulo Angelo Carvalho de Souza, engenheiro por formação, havia completado um curso de Engenharia Econômica e Silviano o convocou para ser seu chefe de Gabinete e assessor na CDI. Em um dos despachos com o presidente, ele assim falou para o presidente: existem duas frases críticas que ele estava sempre ouvindo: a primeira, para dizer que o Estado estava perdendo projetos para outros Estados por não possuir terrenos industriais para oferecer aos empresários interessados. A segunda, muitos qualificavam os distritos industriais como fantasmas porque não tinham indústrias implantadas. Vencer esse desafio, ampliando os distritos industriais em localizações efetivamente atrativas e dar ocupação aos terrenos disponíveis, exigiria muito trabalho, muita concentração no negócio e uma enorme determinação.

A base inicial de planejamento da CDI era envolver as cidades de porte médio e as chamadas cidades-diques, que eram municípios que já tivessem um projeto âncora como, por exemplo, a Fiat Automóveis na cidade de Betim. É claro que nem todo município tem o que o economista, professor e ex-ministro Paulo Haddad chama de inclinação e desejo firme de crescimento e desenvolvimento. É a chamada “endogenia”. Sem essas qualidades mínimas, fica difícil se implantar um distrito industrial de sucesso. E felizmente, a CDI, que foi originada no Conselho de Industrialização do Estado já detinha algumas boas cidades com essas características como Uberaba, Uberlândia, Juiz de Fora, Montes Claros e Pouso Alegre.

Pelos estudos técnicos do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Indi), descobrimos que algumas empresas estavam querendo sair do ABC paulista, principalmente, pelo motivo da necessidade de ampliação. Em primeiro lugar, como eu fui o encarregado de encabeçar a missão a mim conferida, pelo menos, deveria contar com um engenheiro da CDI especialista em terraplanagem e outro que deveria ser um especialista em criar uma área industrial sem causar nenhum problema aos sistemas de captação de águas para serem tratadas e distribuídas para a população.

Em princípio, um distrito industrial (DI) deve ser bem próximo da área urbana, e isso é importante quando se examina a criação de uma área a receber empresas. A inclinação de terrenos não pode ser maior do que 5%, porque inviabiliza os custos de terraplanagem, e as possíveis áreas a serem criadas para absorver empresas não podem ser feitas a montante da captação de água para não causar problemas de poluição. Esses são alguns dos inúmeros problemas que devemos encarar quando, inicialmente, pensamos em construir um DI.

*Economista, professor titular da PUC-Minas e jornalista

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas