A comunicação é a alma do governo

Parece óbvio dizer que governos precisam se comunicar com a sociedade. Mas por que será que boa parte dos governos se comunicam tão mal com a população? Por que negligenciam a comunicação ao segundo plano? Por que a postergam ao limite máximo, para se aproximar do processo eleitoral?
Todas as relações humanas são mediadas pela comunicação. Governos e cidadãos não fogem a esta regra. Se os governantes não “tornarem comuns” suas ações é como se nada fizessem. Invariavelmente, o que se constata é que a maior parte dos cidadãos-eleitores não fica sabendo o que acontece durante o mandato. Cidadãos ficam abandonados, esquecidos em um verdadeiro deserto de informações.
Napoleão Bonaparte disse certa vez: “Para ser justo, não é suficiente fazer o bem, é igualmente necessário que os administrados estejam convencidos. A força fundamenta-se na opinião. Que é governo? Nada se não dispor da opinião pública. ” Vale a pena destacar uma parte desta citação, “a força fundamenta-se na opinião”. Ou seja, governos democráticos precisam da aprovação do público, ou pelo menos de uma maioria. Sendo assim, é necessário que o governo busque se legitimar perante o público e construa um consenso ativo sobre a qual estabeleça a sua base social e eleitoral.
Maquiavel conceituou a política como “o processo de conquista e manutenção do poder”. Contudo, parece que políticos se dedicam enormemente à conquista do poder, e neste momento se aproximam dos eleitores, mas são negligentes com a sua manutenção. A gestão afasta os mandatários dos eleitores.
A comunicação é uma das formas de manter o político próximo, vivo na memória dos votantes.
Por isso, é tão essencial fazer comunicação com regularidade – não apenas nos períodos próximos aos processos eleitorais. Se o grupo político pretende se manter no poder, comunicar é estratégico. Para além de uma necessidade, comunicar é uma obrigação dos governos de prestar contas aos cidadãos, mostrando como está sendo investido o dinheiro dos impostos.
Comunicar é informar ao eleitor-cidadão-contribuinte como o seu representante está utilizando o mandato que lhe foi conferido. E isto só vai acontecer se o governo for efetivo em sua comunicação, ou seja, se a mensagem for clara, sem ambiguidades, possibilitando a correta decodificação por parte da mídia e do receptor final, o cidadão.
O objetivo da comunicação é deixar uma mensagem firmemente fixada ou enraizada na mente do público. E quando se quer criar uma primeira impressão, uma identidade que dure por anos, uma marca, é necessário buscar algum elemento na prática e na identidade do governo que possa distingui-lo, diferenciá-lo, marcar o que este governo significa para a população. Este conceito precisa ser algo visível, memorável, que esteja no núcleo do interesse e das necessidades da maioria e seja fiel a marca do líder.
Uma das graves falhas de comunicação dos governos é a de não ter foco. Não escolher um programa, uma ação, um conceito que seja a marca do governo. E quem tenta destacar vários atributos não consegue fixar nenhum. Agindo assim, a comunicação não posiciona o governo na mente do cidadão.
Pesquisas de recall confirmam este fato e dão sempre o mesmo resultado: lembranças eventuais e dispersas sobre vários programas e ações e uma grande maioria que não sabe dizer nada que o governo fez. Ocorre que esta marca de governo não se constrói do dia para a noite; exige escolhas, planejamento, disciplina, investimento.
A frequência e a repetição da mensagem-central que se quer fixar são essenciais para a sua memorização. E isto é algo construído ao longo do mandato e apenas reforçado no ano eleitoral ou na campanha propriamente dita. Para a comunicação funcionar, para que o mandato tenha uma marca, governo e o governante precisam construir uma agenda. Um plano razoavelmente estruturado de ações, programas e, sobretudo, apresentação de resultados. E que sejam feitas escolhas que coadunem para a construção da marca escolhida.
Sem uma agenda de entregas, não há como se ter planejamento de comunicação eficiente, não se posiciona nem a gestão, nem o líder. Ocorre que muitos não percebem a dimensão estratégica desta agenda. Mas é a agenda de entregas que vai mostrar ao cidadão-eleitor o que o governo fez, está fazendo ou pretende fazer. Cabe a comunicação demonstrar os benefícios das realizações para a sociedade.
Conclusão, defina prioridades, construa uma agenda, estabeleça uma marca, faça comunicação permanente e não espere chegar no final do seu mandato para falar para a população o que você fez ou ainda pretende fazer. Do contrário, o desejo de mudança poderá já ter se instalado no coração do eleitor abandonado e a sua tentativa de reconciliação poderá ser tardia e infrutífera. Está a fim de correr este risco?
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