Opinião

A democracia é aprovada pela maioria

A democracia é aprovada pela maioria
Crédito: Freepik

A democracia é, segundo pesquisa divulgada pelo Movimento RenovaBR e pelo Instituto Locomotiva, a melhor forma de governo para 72% dos entrevistados e, para 84%, há a crença de que são capazes de fazer a diferença no Brasil por meio de seus votos. O resultado, nestes tempos de pandemia, de ataques às instituições e aos valores republicanos, é um bálsamo e, por isso, merece ser reconhecido, mas reclama atenção e participação ativa dos cidadãos.

Para além do aspecto quantitativo, da imensa maioria – 72% dos ouvidos – há que se pensar, sempre, de forma qualitativa. Não basta aprovar a democracia, até porque 28% não a consideram a melhor forma de governo.

A famigerada afirmação de Winston Churchill, político conservador inglês e brilhante orador, de que a democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas, desnuda um aspecto importante e inegável: a democracia não é perfeita. A perfeição pode, na política ou na teoria social, ser encontrada no campo da utopia ou das abstrações conceituais, mas não na realidade concreta.

Os gregos, por exemplo, inventores da democracia, tinham enormes limitações para que todos pudessem acessar as discussões acerca da polis, pois, estrangeiros, escravos e mulheres, por exemplo, não votavam. Mesmo assim, a filosofia grega e as instituições democráticas foram um grande legado da civilização grega que perduram até nossos dias.

O Brasil está alicerçado sobre uma forma de governo democrática e é uma república federativa. Escolhemos, democraticamente, vereadores e prefeitos, no município; deputados estudais e governadores, no estado; e, finalmente, deputados federais, senadores e presidente da República, no nível Federal. Num sistema de divisão tripartite do poder, temos, portanto, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, ambos devem atuar de forma harmoniosa entre si e possuem mecanismos capazes de colocar freios e contrapesos em relação aos outros Poderes.

Assim, muitas vezes, esquecem-se os eleitores/cidadãos que, ao criticar a qualidade de nossa representação política, estão, no limite, a criticar suas próprias escolhas, já que candidato nenhum chega ao poder sem ser referendado pelas urnas. Ótimo que 84% acreditem que podem mudar a situação do país com seus votos. Podem mesmo! Para isso, faz-se necessário refletir, ponderar, e escolher, em todos os níveis, para o Executivo e Legislativo, os candidatos que sejam comprometidos com a democracia, com o diálogo, com a construção de consensos, com a civilidade e com o espírito republicano. Temos, aqui e acolá, projetos de autocratas e tiranetes de todas as espécies que não apenas vociferam, mas, também, agem deliberadamente contra a democracia.

A pesquisa ora retratada traz alívio, mas a democracia reclama atenção constante e uma participação consciente. Se valorizamos a democracia e cremos no voto como instrumento de mudança, muitos, por aqui, perguntarão, qual o motivo de estarmos nesta situação, de político com ódio, fake news, negacionismos e teorias da conspiração? A resposta não é tão simples, merece entendimento estrutural de nossa história, dos grupos e classes sociais presentes na sociedade brasileira, bem como das instituições que são, muitas vezes, tomadas pelos “donos do poder”.

A resposta deve, para além deste nível histórico-estrutural, tratar da dimensão individual, de nossas escolhas individuais e de nossa parcela de responsabilidade ao, simplesmente, atacar a política e os políticos sem entender nossa cota de responsabilidade pelo cenário em tela.

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