A devida valorização de professoras e professores

Nair Costa Muls*
Foi um tento a aprovação sem alterações e por unanimidade do texto da Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, aprovado na Câmara e apresentado no Senado para votação final. Em primeiro lugar, o programa passa a ser permanente; em segundo lugar, fica assegurado o aumento gradual do aporte da União, que chegará a 23% em seis anos; em terceiro lugar, os municípios pobres também serão contemplados; foi aumentado também o gasto mínimo por aluno (que passou de R$ 3,7 mil para R$ 5,5 mil). E ainda um dado positivo: 70% das receitas do Fundeb serão destinadas ao magistério.
Se “se espera que o novo Fundeb melhore, e muito, a qualidade do ensino público, nada mais certo e devido. Pois, na realidade, professoras e professores são a alma do ensino, lembrando que esta categoria é composta majoritariamente por mulheres. Talvez por isso, por ser um trabalho sobretudo feminino, é pensado como sacerdócio, como sacrifício e o salário justo e digno é a última das preocupações. A escola, em suas dimensões físicas e estruturais, pode ser um modelo; o programa a ser aplicado pode ser o mais bem planejado e o mais adequado. Mas se os professores não forem realmente muito bons, competentes e dedicados de nada adianta tudo isso. É a elas e a eles que cabe a transmissão do conhecimento e o aprendizado dos alunos. É a elas e a eles que cabe a abertura do horizonte dos alunos, a sua compreensão do mundo e do seu lugar nesse mundo, o seu crescimento no saber crítico e, nessa compreensão crítica do mundo, a sua capacidade não só de assumir o controle de sua trajetória como de contribuir para a transformação desse mundo. Professores e alunos, juntos, a partir da realidade de alunas e alunos, buscando seu crescimento, qualificação e o seu preparo para a ação transformadora, enquanto ser humano e enquanto profissional. Ou seja, professores, educadores, são os responsáveis pelo florescimento do conhecimento crítico e da formação humana e ética dos estudantes. É na sala de aula, espaço público, que os alunos aprendem a se relacionar com os outros, a perceber as diferenças, a respeitar e a serem tolerantes com os outros, sempre com a mediação de professores. É aí que se constroem como cidadãos e como sujeitos, numa subjetividade enriquecedora da sua dimensão humana. A sociedade se esquece desse detalhe primordial, essencial mesmo, embora todos tenham passado pelos bancos da escola e devam a construção do seu ser, como ente humano e profissional, em muito, a seus professores, desde o ensino infantil, básico, fundamental médio e universitário. A figura do professor, sempre um educador, é fundamental. Nas escolas públicas a responsabilidade é maior ainda, pois elas são sustentadas pela sociedade como um todo. Consequentemente, nada mais justo que uma parte importante do Fundeb seja destinado ao magistério, buscando a valorização dos professores: salários justos, condições de aprimoramento e de formação continuada, aposentadorias dignas. Não há como manter a qualidade do ensino sem uma remuneração justa, que incentive pessoas qualificadas a almejar a carreira de professor ou professora.
Todavia, nem a valorização do professor nem a visibilidade do papel do professor é assegurada. Há poucos dias, uma professora universitária, especialista em análise do discurso, fez um comentário interessante sobre um artigo de uma também professora, Márcia Frige, justamente sobre essa questão: a invisibilidade do professor. A discussão girava em torno do retorno às aulas, on line ou presencial, dificuldades e perigos possíveis etc…Foram ouvidos infectologistas, médicos, mães, prefeitos, vereadores, governadores, alunos, repórteres… menos o professor. Este não foi nem mencionado nas diferentes falas. Totalmente invisível. O que representa um total desrespeito ao professor, categoria fundamental na vida escolar, como vimos acima. Esquece-se que a vida do professor, em todos os níveis, sobretudo no ensino básico e fundamental é extremamente sobrecarregada, sobretudo agora, com o trabalho home office, obrigados a dar aulas on-line. Quando lhe será concedido o lugar da fala? O professor precisa falar e ser ouvido, respeitado e valorizado. Há que se reconhecer que os professores, de qualquer um dos níveis da educação, são tão fundamentais à nação e tão importantes quanto qualquer outra das categorias consideradas como primordiais à nação: o Legislativo, o Judiciário ou o Executivo. No entanto, apesar de todos os figurantes desses espaços ─ de outros, tão necessários quanto ─ terem passado pelos bancos da escola e dela tenham obtido seus saberes, nada se faz para melhorar a situação do professor. E agora, quando o presidente acaba de enviar ao Congresso Nacional uma proposta de um corte de R$ 1.4 bilhão nos recursos para a educação?
*Doutora em Sociologia, professora aposentada da UFMG/Fafich [email protected]
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