A dimensão da nossa Amazônia

Carlos Perktold *
Há alguns anos este articulista viajou em pequeno avião que o fez sentir como se fosse o Indiana Jones dos trópicos, tão pequeno ele era, tão baixo voava e tão grande era a Floresta Amazônica no trecho entre Belém/Tucuruí/Marabá/Carajás. Por “floresta” refiro-me a uma imensidão incomensurável de árvores enormes, rios cujas margens desapareceram há séculos, libertadas pela quantidade de águas pluviais e de outros rios, espalhada por centenas, talvez milhares de quilômetros. Tudo isso visto do alto e até um horizonte que não acaba nunca. Se, por uma tragédia, houver um acidente com um grande avião, ele desaparecerá coberto pelas águas e pelas copas das grandes árvores como se fosse do tamanho de um vírus sobre uma mesa, tão grandiosa é a floresta.
Haja adjetivos e advérbios para explicá-la! Anos antes, em visita a Manaus e Belém, este articulista havia visto e sentido a grandiosidade de outro trecho da mesma floresta. Faltam nas minhas observações abaixo os milhões de quilômetros dela situados nos estados do Acre, Mato Grosso, Roraima, Amapá, Rondônia, Maranhão e Tocantins.
Pois foi aquelas viagens, vendo apenas uma pequena parte, que tive a dimensão do que é a Floresta Amazônica e, mesmo vista do alto, compreendi as dificuldades que brasileiros de gerações futuras terão para explorar o subsolo de milhares e milhares de quilômetros do atual solo coberto com árvores seculares. É um mundo novo, um planeta a ser descoberto e que exigirá investimentos tão grandes quanto ele próprio.
Há milhares de outros quilômetros de árvores sem rios ou águas e neles, raramente, se vê uma casa, uma estrada, uma tribo indígena ou um vazio desmatado. Talvez essa minha visão tenha sido resultado da aerovia, o trecho no ar no qual o avião é obrigado a percorrer, que me impediu de ver aquilo que os europeus e americanos julgam devastados e não se cansam de denunciar, preocupados com a conservação das nossas florestas.
A Noruega e a Alemanha mandam dinheiro para o Brasil a fundo perdido para uso nessa mesma conservação, preocupados com o clima do planeta. Louvável inquietação, mas se a salvação do Planeta Azul está na preocupação dessas preservações, melhor fariam se utilizassem a mesma verba para replantar ou recuperar as devastadas florestas europeias.
Como o interesse real deles está no nosso subsolo, mandam também as organizações não governamentais, as céleres ONGs agirem camufladamente. As estatísticas oficiais garantem que há mais de cem mil delas espalhadas pela floresta.
O que fazem e a quem elas servem? Se acreditarmos nos seus integrantes, descobriremos a benevolência e a bondade do ser humano que veio de longe, enfrenta clima e doenças desconhecidas e mosquitos não catalogados apenas para “ajudar” e “salvar” os índios ao conhecerem a palavra de Jesus e a compreender a imortalidade da alma, tudo isso empacotado e contrabandeado em interesses políticos, comerciais e financeiros. Sabemos que crimes horrendos foram e são cometidos em nome de Jesus. Se acreditarmos nas informações semioficiais e difundidas por redes sociais, esses mesmos seres tão bondosos são geógrafos, engenheiros de minas, técnicos de várias especialidades, farmacêuticos e botânicos, todos estudiosos do solo, subsolo e da flora amazônicos.
Há desmatamento na floresta? Claro que sim. Por certo não é na dimensão de que acabaremos com o “pulmão” do mundo. Aliás, este não existe, pois o oxigênio produzido lá é consumido. Onde é desmatado, plantam-se grãos, criam-se pastos para gado ou pesquisam-se os minérios, por que não? Há inclusive empresas de mineração de capital estrangeiro atuando na floresta, algumas delas multadas pelos ataques ao meio ambiente.
Elas não são incomodadas, não são retiradas do território nacional e nem os seus governos se penitenciam as chamando de volta, horrorizados com seus desmazelos conosco. Ninguém propõe que esses desmatamentos sejam de matas ciliares e das reservas legais.
Se os países que se queixam tanto de nós, acham que a floresta é tão importante, por que não recuperam as suas? Por que não replantam tudo que destruíram no passado? A chamada Amazônia Internacional compreendendo a Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia não interessa? Por que a pressão internacional é apenas sobre o Brasil? Por que ninguém se interessa pelas florestas e savanas africanas?
Nosso País cresce mais de dois milhões de seres humanos por ano. Precisamos alimentar a todos e são as nossas agricultura e pecuária que cuidarão disso. Ou as nossas futuras gerações vão comer juros e taxa Selic no ano 2100?
O potencial e o crescimento do nosso agronegócio assustam os fazendeiros americanos e alguns europeus. Para eles, é preciso impedir nosso crescimento e isso é proposto descarada e mundialmente em nome do ambientalismo, um tema que justifica qualquer impedimento às nossas pretensões de crescimento e é explicação para a interferência de países grandes e poderosos.
A Embrapa com suas pesquisas e novas tecnologias fez aumentar a produção de milho e da soja brasileiros que começa a mexer com os interesses dos agricultores americanos dos dois segmentos. O lobby americano defende seus interesses, apressando-se em tentar destruir nossas pretensões em nome do meio ambiente, um tema querido por todos, mas que em nossas terras e florestas vem sempre embrulhado na busca do enriquecimento deles.
Sejamos todos nós tão sinceros quanto foi o ex-candidato à Presidência Prof. Enéas: nenhum país estrangeiro está interessado no bem da floresta amazônica, mas apenas em seus bens.
*Advogado, psicanalista e escritor
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