A dualidade das chuvas

Ronaldo Scucato *
É tolice subestimar a força da natureza e uma blasfêmia propagar que a intensidade das chuvas é castigo. Nesses dois primeiros meses do ano, fomos literalmente inundados e devemos refletir sobre as ocorrências registradas que assolaram nosso Estado, especialmente Belo Horizonte.
Inevitavelmente precisamos das chuvas. Os reservatórios de água e o campo agradecem. Elas são necessárias para evitar os processos de desertificação do solo, para manter a estabilidade dos biomas, para afastar as queimadas que geram preocupação constante. Enfim, poderíamos citar milhares de benefícios, mas vamos resumir na necessidade humana imperativa por esse elemento: água.
Por outro lado, o cenário de destruição e mortes decorrentes da intensidade das chuvas nos deixou em alerta e também reflexivos a respeito da nossa responsabilidade com o meio ambiente. É urgente a prática de ações que vão ao encontro do 13º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável do Milênio (ODS), ligado ao combate à mudança climática e seus impactos.
Neste período chuvoso a rotina da população foi bruscamente alterada com a dificuldade de deslocamento, trânsito caótico e ruas interrompidas em decorrência do grande volume de água que recebemos em tão curto período de tempo. Vidas se foram e, a despeito dos prejuízos financeiros, devemos nos unir em torno de medidas urgentes para que cenas tão impactantes como as que assistimos nos últimos dias não voltem a acontecer. O cuidado e a ação valem para todos.
No Brasil, infelizmente, não existe a cultura de prevenção e estamos pagando caro por isso. Prejuízos econômicos ocasionados por qualquer catástrofe podem ser recuperados, mas uma vida ceifada pela falta de planejamento, cultura e investimentos, não.
O desafio é buscar recuperar as áreas danificadas de forma emergencial, acalentar as famílias que perderam entes queridos, levar os cuidados e o auxílio necessário aos desabrigados e desalojados. E nesse quesito, as cooperativas mineiras vêm dando exemplo de solidariedade, atuando em consonância com o 7º princípio do segmento “o cuidado com a comunidade”. Cada uma a seu modo vem cooperando para restaurar a esperança de quem foi prejudicado com a força das águas.
Nesse momento de tristeza, trazemos alguns exemplos compartilhados conosco e que mostram as cooperativas auxiliando pessoas, famílias e instituições afetadas a terem um novo recomeço. O Sicoob Coopemata, de Cataguases, por meio do seu Centro Cultural, arrecadou doações e vários itens que têm sido destinados aos atingidos das cidades onde a instituição tem Postos de Atendimentos. No mesmo sentido, a Coocafé, de Lajinha, também se mobilizou angariando alimentos, água e roupas para as vítimas das chuvas. E esses são apenas alguns exemplos entre tantos no ambiente cooperativista. Naturalmente, somos inspirados a cooperar, mas precisamos além disso. Precisamos nos organizar de forma a contribuir diariamente para o atendimento do 13° ODS e também para o sétimo princípio do cooperativismo.
O que os mineiros têm vivido em decorrência das chuvas não é um fenômeno de agora e, acima de tudo, não se resolverá no curto prazo, o que demonstra que, para além da imediata solidariedade, também devemos primar por abordagens sistêmicas contando com a sensibilização dos governos e de toda a sociedade para que possamos ano após ano antecipar iniciativas capazes de reduzir os efeitos negativos ocasionados pelos temporais. Nossa solidariedade a todas as famílias atingidas e nosso desejo de que a partir de agora tenhamos notícias melhores e de mais esperança para 2020.
*Presidente do Sistema Ocemg
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