A economia circular como estratégia para a sustentabilidade

Falar a respeito do impacto causado pelo ser humano no meio ambiente é abrir um vigoroso debate sobre a riqueza, a sua circulação e, principalmente, como este tema as afeta. A necessidade de passar da discussão para a implementação será o foco da 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP 27, que acontecerá até o dia 18 de novembro no Egito. As discussões travadas, ao longo do tempo, sobre a descarbonização do planeta e as perdas e danos, como medida compensatória às regiões insulares, são prova de que o tema não está pacificado e pior, de que, ainda, existem aqueles que pensam que o assunto pode ser postergado.
O tema é polêmico e interessa pela sua contemporaneidade. Se não é novo, a sua manipulação, ainda, traz insegurança na área contábil e empresarial. Só por esta razão já valeria o enfrentamento.
Para tanto, o caminho é o das melhores práticas de governança corporativa, como sistema que agrega valor, não apenas à própria empresa, mas, também, aos atingidos pelo negócio, dentre eles, o meio ambiente. Também é o da mensuração e, portanto, da percepção de o quanto, realmente, o negócio afeta a natureza ou, por ela é afetado; se os recursos naturais afetados são renováveis ou não; e se estão sendo utilizados aquém ou além de sua capacidade de renovação; é o da contabilização; o da busca por alternativas energéticas limpas. Ou seja, caminhos estratégicos que permitirão, certamente, desempenho melhor para as empresas e que, talvez, permitam ao planeta receber, com qualidade, os nossos descendentes.
A ideia de uma economia circular está na longevidade da utilização adequada de materiais e produtos, extraindo destes o máximo de valor possível, numa crescente diminuição de resíduos e, portanto, toxicidades, com foco constante na preservação dos recursos naturais.
É uma perspectiva diferente da, ainda, majoritária ideia vigente, na qual, por meio do processo de extrair, produzir e descartar, quanto maior o descarte, maior o consumo e, consequentemente, maior o lucro para a empresa que o produz. O problema é que esse modelo é insustentável.
Precisa-se, assim, diferenciar a Economia Circular da Economia Linear: enquanto a primeira enxerga o lucro na longevidade da vida útil de um produto ou material; para a segunda, o lucro se estabelece a partir da menor vida útil do mesmo produto ou serviço*.
Para que a Economia Circular prevaleça, a responsabilidade da empresa deve ir além da venda e efetiva entrega dos produtos ou materiais para o mercado. Contrapondo ao estoque que a organização tem, enquanto possuidor dos produtos ou materiais, após a venda e entrega, a empresa teria, no mercado, o que Marcelo Souza* denominou de “microestoques”, ou seja, materiais ou produtos que não estão mais na posse da empresa.
Dessa forma, para a Economia Circular, os mercados e os estoques são infinitos. Já para a Economia Linear o mercado é infinito, mas os estoques são finitos, na medida em que lançados no mercado cessa a responsabilidade da empresa sobre eles. Ou seja, a preservação do meio ambiente está ligada ao pensamento econômico e seu respectivo modelo vigente*.
A proposta da Economia Circular é: 1) desconectar o crescimento do consumo; 2) desconectar o lucro da produção em massa, a partir dos seguintes princípios: a) resíduos são recursos; b) resiliência construída por meio da diversidade; c) energia estabelecida por meio de fontes renováveis; d) pensamento sistêmico.
A Economia Circular, como modelo econômico, precisa ser consolidada para que haja desenvolvimento sustentável e essa discussão tem que passar, não só pelo Poder Público, mas, também, pelo privado (empresas e sociedade).
Espera-se muito do homem comum, mas, provavelmente, ele somente agirá se as condições adequadas forem criadas. Se a estrutura atual não for alterada, o homem, seja na sua perspectiva individual ou na associativa, continuará tragado pelo sistema e pouco contribuirá.
*Referência bibliográfica para o texto: Souza, Marcelo. Economia Circular. O mundo rumo à 5ª Revolução Industrial. Campinas/SP: Unitá Editora
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