A educação brasileira pede socorro

Sebastião Alvino Colomarte*
Assim como o setor de saúde, a educação brasileira está na UTI e respira com a ajuda de aparelhos. E ela pede socorro há muito tempo, fruto de uma imensa desigualdade social, que se aprofunda cada vez mais, e pela total falta de interesse do governo, já que não há uma política educacional eficiente. Este cenário se agrava mais pela alta rotatividade de ministros da Educação nos últimos anos.
A situação se deteriorou devido ao descaso que o setor de educação foi vítima nas últimas décadas. Hoje, como resultado, o setor padece da falta de investimentos e infraestrutura para atender com dignidade nossos jovens. Do outro lado da moeda, ainda deparamos com a péssima remuneração dos profissionais da educação, o que resulta em intermináveis greves no ensino público. Só para se ter uma ideia, em Minas Gerais os poucos dias letivos deste ano foram tomados por greve dos docentes. E para piorar a situação, a pandemia do Covid-19, que atingiu a todos indistintamente, agravou a situação, já caótica, dos alunos menos favorecidos.
O universo escolar clama por ajuda, e não é de hoje. Tenta navegar contra a maré e cumprir sua vocação, mas enfrenta muitas dificuldades e escancara diferenças lamentáveis: separa os que têm dos que não têm oportunidade de frequentar uma escola particular. E a tendência é que esse abismo aumente com a crise agravada pela pandemia, que vem assolando os empregos dos brasileiros e pressionando a rede pública de ensino, que tem que gerar novas vagas para abrigar os novos “sem-renda” para bancar a escola particular.
Mesmo com as atividades praticamente paralisadas devido à incapacidade de oferecer um ensino remoto de qualidade, ou mesmo por falta de ferramenta por parte dos alunos, a rede pública é a única alternativa para milhares de jovens. Por outro lado, esta crise acaba refletindo nas escolas particulares que, em busca de sobrevivência, são levadas a reduzir custos, com demissões de professores e pessoal, já que a perda de alunos é uma realidade.
Quanto ao ensino remoto ou a distância, penso que é uma boa alternativa neste momento crítico de isolamento social. Mas, como educador e membro-fundador do Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais (CIEE/MG), faço aqui algumas ressalvas: nas primeiras séries do ensino fundamental é muito difícil sua aplicação, já que o modelo ideal é o do ensino em tempo integral para que as crianças possam ter, além das necessárias aulas presenciais, o acompanhamento escolar, merenda, acesso às novas tecnologias e, o essencial, tempo para brincar e se relacionar. Só depois de ter percorrido esse caminho é que o aluno da rede publica terá condições de absorver o ensino remoto.
Alerto, mais uma vez, que a educação se encontra abatida, pedindo socorro. E não é de hoje! Esta desigualdade tem se mostrado mais perversa. Por isso, não podemos assistir inerte o desmonte na educação brasileira, sob pena, se não houver atitudes firmes e urgentes, de o País pagar alto preço pelo descaso. Com a palavra, o ministro e os secretários estaduais e municipais de Educação.
*Professor e diretor-presidente do Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais (CIEE/MG)
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