A farsa foi desmontada

Em política, dizem os mais sábios, é bastante difícil, quase impossível, acreditar em coincidências, até mesmo em espontaneidade. A observação nos ocorre a propósito da notícia de que o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, elevado à condição de uma das figuras centrais da Operação Lava Jato, transformado também num dos símbolos da corrupção na política, teve uma das condenações que sofreu, no caso a 16 anos de prisão, anulada. E com recomendação do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o processo seja devolvido à Justiça Eleitoral, que determinará se o caso será reiniciado ou a condenação restabelecida.
Para muitos a decisão, ainda recente, é o melhor símbolo do desmonte da Operação, iniciada em 2014 e que chegou a ser apontada como a maior ofensiva contra a corrupção no planeta, desde a Operação Mãos Limpas, na Itália. Como coincidências não existem, no ano anterior, 2013, aconteceram grandes manifestações em todo o País, numa orquestração que nunca foi devidamente explicada, mas fazendo parecer que se tratava de movimento espontâneo e popular de condenação à corrupção, dando ares de heroísmo aos integrantes da tal República de Curitiba.
Não cabe relembrar cada uma das 80 operações desencadeadas à época. Melhor assinalar, agora, o rastro de prejuízos que provocou a partir do virtual desmonte da indústria naval, de construção civil e da Petrobras, numa sanha que, logo se percebeu, conforme está registrado em editoriais publicados neste mesmo espaço à época, era possível perceber mais ambições que propriamente virtudes na frenética movimentação. Fatos posteriores, como agora, nos deram ampla razão também quando apontamos vícios processuais evidentes, antecipando que eles poderiam significar, adiante, absolvição de personagens como Cunha ou o ex-governador Sergio Cabral, do Rio de Janeiro, cumprido o objetivo maior de afastar Luiz Inácio Lula da Silva da corrida eleitoral de 2018.
O que foi dito acima só cabe hoje ao campo da história, embora continue alimentando versões distorcidas, por exemplo, ao apontar, agora, antigos juízes como vítimas de perseguição ou de vingança, num grande complô em que perversamente a vitória acaba sendo exclusivamente da corrupção e dos corruptos. Nada, aliás, muito diferente do que foi feito antes com Getúlio Vargas e João Goulart, também apresentados e atacados como corruptos ou na condição de perigosos agentes vermelhos. Nada, mais uma vez, que tenha recebido qualquer tipo de comprovação cabal, mas suficiente para alimentar a luta eterna entre o bem e o mal, mesmo que à custa de valores vilipendiados.
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