A primeira das tarefas

As dificuldades que o País enfrenta no campo da política, com graves e bem conhecidos reflexos na gestão pública, estão longe de ser, como alguns tentam fazer crer, com a polarização que começou a ser exacerbada a partir de 2013 e pode ser bem resumida nos acontecimentos de 8 de janeiro passado. Cabe entender, como ponto de partida para mudanças cruciais, que esse desenho caótico, assim definido com boa dose de indulgência, é consequência de erros que se acumularam em tempos recentes, em parte coincidindo com o processo de acomodação que marcou a redemocratização. Como foi dito à época, uma transição pacífica, que evitou choques, mas por isso mesmo tentou passar ao largo das grandes questões nacionais, ignorando-as em favor da aparente concórdia.
Um pluripartidarismo que foge à lógica muito provavelmente é a melhor das evidências dos equívocos cometidos. Foi dele que resultaram as distorções, ou muito mais que isso, que ao longo das últimas décadas comprometeram a governabilidade e ao mesmo tempo consolidou um equilíbrio forçado, na realidade inexistente, em que o principal ingrediente tem sido explícita troca de favores, ou bem pior, para a busca de apoio ou fidelidade que passam ao largo de qualquer atitude programática. Assim governos vão se equilibrando precariamente, pagando cada fez mais pela sustentação que na realidade não existe. Planejar e administrar, desenhar um programa de ação e de gestão passaram a ser, nessas circunstâncias, tarefa quase impossível, senão de produtividade virtualmente nula.
Mudar definitivamente não é administrar contingências, na falsa esperança de que dar tempo ao tempo, como tem acontecido, possa construir soluções, possa afinal produzir a depuração tão necessária. Mudar significa redesenhar o modelo político, cujas limitações e vícios, frutos da acomodação inicial, são hoje bem conhecidos. Absolutamente não existe outro caminho ou outra possibilidade e ignorar esse fato é o mesmo que continuar dando espaço para aventuras como aquelas que presentemente têm estado no centro dos noticiários. Mudar, ou pelo menos começar a caminhar nessa direção, significa reconhecer que a reforma política, da qual tanto se falou num passado ainda recente, precisa voltar ao centro das preocupações. Precisa e deve ganhar foros de prioridade.
Para pôr fim inclusive às ilusões ardilosamente fulanizadas justamente para consumir energias e tirar o foco daquilo que realmente importa ao Brasil e aos brasileiros. Onde e quando houver compreensão com relação às questões mais urgentes para todos nós outro não será o entendimento.
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