A responsabilidade de cada um de nós

Muito oportunamente a ALMG reconheceu o aumento da gravidade da pandemia em nosso Estado, com 992.573 casos de Covid-19, sendo 7.890 nas últimas 24 horas com 19.032 mortes, das quais 160 se deram entre quarta e quinta-feira últimas.
Diante desse novo avanço da pandemia o estado de calamidade pública foi ampliado, com toque de recolher, isolamento social e respeito às medidas de cuidado estabelecidas, abrangendo 99 municípios, incluindo a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Na nossa cidade, o prefeito Kalil, atento aos perigos do aumento do contágio e diante da precariedade do número de leitos de UTI necessários, decretou, a partir de sábado e por tempo indeterminado, a suspensão das atividades não essenciais. Também a RMBH, por iniciativa da prefeita Marília Campos, vice-presidente da Granbel, marcou uma reunião para ontem à tarde para discutir as estratégias necessárias para evitar o colapso.
Felizmente também tem havido posicionamentos importantes, denunciando os erros cometidos e exigindo a responsabilidade dos poderes constituídos. Como reconhece o teólogo Leonardo Boff, “…atingimos o limite do suportável. O Brasil não pode ser vítima da necropolítica de um psicopata” e, diante desse genocídio,”… o STF não pode mais se omitir, nem ser cúmplice de um crime”.
Também os governadores e secretários de Saúde têm se posicionado. A Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira, publicada no dia 1º deste mês, foi uma clara tomada de posição: criticando a ausência de uma política do governo de combate à pandemia, sugere o estabelecimento de um Pacto Nacional pela Vida, a reunir todos os poderes, a sociedade civil, representantes da indústria e do comércio, das grandes instituições religiosas e acadêmicas do País, mediante explícita autorização e determinação legislativa do Congresso Nacional.
Segundo os secretários, o estado de emergência nacional está exigindo a adoção imediata de medidas adequadas, a começar por um maior rigor na eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas e esportivas, fechamento das praias e bares, suspensão das atividades presenciais em todos os níveis de educação do País, adoção do trabalho remoto tanto no setor público quanto no privado; toque de recolher das 20h às 6h da manhã, inclusive nos fins de semana; barreiras sanitárias nacionais e internacionais.
Inclui ainda a redução da superlotação dos transportes coletivos; a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, o reconhecimento legal do estado de emergência sanitária e a viabilização de recursos extraordinários para o SUS (com aporte imediato aos Fundos Estaduais e Municipais de Saúde). Outra medida importante seria a implementação de um Plano Nacional de Comunicação, para esclarecer a população e ganhar a sua colaboração. Também foi sugerida a adequação legislativa das condições contratuais para a compra urgente de todas as vacinas eficazes disponíveis no mercado mundial.
Infelizmente, o governo e seus auxiliares já disseram que não aceitarão esse pacto, e muito menos as medidas sugeridas. E o presidente insiste em minimizar a gravidade do momento e rir daqueles que defendem medidas estritas de isolamento social.
Também Nicolelis, infectologista conhecido, em entrevista recente (26/02/21), defende a mesma política: criação de uma comissão de salvação nacional, sem o Ministério da Saúde, organizada pelos governadores para estabelecer a estratégia e a logística necessária; lockdown nacional imediato de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas e aeroportos fechados; vacinação em massa, testagem e isolamento social.
Segundo Nicolelis, estamos diante do perigo de um colapso nacional, “prejuízo épico, incalculável, bíblico. Tambémem 6 de março um grupo de religiosos, intelectuais e artistas dirigiram uma Carta Aberta à Humanidade, gritando por socorro, em nome da “Vida acima de tudo” e denunciando a “política genocida do governo Bolsonaro”, que faz reféns os brasileiros e brasileiras comprometidos com a vida.
Diante desse caos, planejado é bom lembrar, a população não se propõe a uma resposta adequada. Mas quem é essa sociedade? Existe um “nós” que pode fazer alguma coisa? Quem somos esse “nós”? Como podemos juntar aqueles realmente comprometidos com a vida e com a libertação do País do jugo de uma política baseada na morte do maior número de pessoas possível?
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