Opinião

A revolução do trabalho está na criatividade

A revolução do trabalho está na  criatividade
Foto: Fabio Alves / Agencia i7

Vivemos uma transformação radical e interessante na maneira como trabalhamos. As barreiras geográficas terminaram de ser borradas. A pandemia acelerou propostas já em curso. As exigências de períodos de confinamento e distanciamento social permitiram que o mercado compreendesse que o escritório em casa, inimaginável para muitos trabalhadores, é acessível, econômico e bastante produtivo.

Porém, este trabalho à distância do escritório, da empresa, tem sua quota-parte de restrições, muitas vezes em relação ao ambiente familiar. Ao mesmo tempo oferece vantagens em termos de otimização do tempo de trabalho, gerenciamento de recursos, energia e outros gastos.

Algumas empresas não gostaram deste distanciamento. Muitos empresários alegam a perda da criação coletiva, muitas vezes ligada a momentos improvisados e espontâneos de colaboração compartilhada no mesmo espaço de trabalho. Outros, a perda de controle sobre seus funcionários. Este tipo de controle é necessário a todos os tipos de cargos e funcionários? Acredito que a liberdade deve ser o primeiro pilar para a revolução do trabalho e ela baseia-se na confiança.

Já falamos sobre este assunto em um artigo anterior dedicado ao trabalho em um formato híbrido. Defendo este modelo porque ele é econômico enquanto mantém parte da jornada em casa e ainda mantém um lugar importante para o escritório em retendo momentos de coworking, quando esses se fizerem necessário. Não é o controle de horas trabalhadas e modos que deve servir de termômetro para as lideranças. A governança de qualidade está atenta à qualidade das entregas e seu impacto global e local.

Obviamente, essa organização não se aplica a todos os tipos de funcionários. Os empregos nos chamados setores centrais não experimentaram isso. Eles podem ser encontrados nos setores de serviços pessoais, em atividades comerciais, de produção, ou em atividades sem que haja a necessidade física da pessoa.

Numerosas experiências foram realizadas para identificar o que poderia ser substituído por robôs. Até hoje, ainda existem atividades que não podem ser imaginadas para serem substituídas por máquinas que não fornecerão a mesma experiência ao usuário do serviço. O que nos leva ao segundo pilar para a revolução do trabalho: a criatividade.

A divisão digital corre o risco de ser impiedosa. Não há trabalho hoje que exclua a tecnologia.

Ao mesmo tempo, os motores digitais não podem resolver tudo. E esta é uma grande oportunidade. A arbitragem humana criativa e ética serão os corolários para inovar e proteger nossa sociedade. Estas também serão habilidades para desenvolver, assim como soft skills, com empatia no topo da lista, uma dimensão humana que torna a vida melhor no trabalho e fora dele, assim como para os outros. Nesse sentido, defino como inventividade ética esse arcabouço individual subjetivo capaz de enriquecer o fazer laboral. Do mais simples ao mais elaborado cargo que se ocupe.

Portanto, em um cenário ideal, a revolução do trabalho passa pelo resgate de uma certa liberdade, essência do trabalho em seu conceito teórico inicial. Nessa flexibilidade de formato entre o escritório doméstico e ambiente empresarial, habilidades digitais compartilharão espaço com as marcas ‘individuais e artesanais’ capazes de imprimir autenticidade e inovação nas entregas. Cada um pode atuar como líderes de si, mesmo estando em uma escala de grande subordinação, caso das grandes empresas. E cada um deve ser capaz de trabalhar sozinho e em grupo. A dimensão coletiva do trabalho continua sendo essencial no mesmo espaço, seja pontualmente ou virtualmente, neste mundo conectado.

Não podemos deixar de alertar que todos devem estar comprometidos. É preciso aprender a criar suas próprias fronteiras entre o trabalho e a vida privada. A aspiração do PC na sala ao lado ou mesmo na sala de estar é permanente e pode levar a uma escalada de compromissos que leva à exaustão. Este é um grande perigo para todos os trabalhadores do mundo digital, onde as fronteiras entre vida profissional e privada são porosas, e ainda mais hoje, em que a presença nas redes sociais pode se tornar um vício, às vezes lucrativo para a empresa, mas que desconecta o indivíduo do mundo real e o faz esquecer de viver o momento presente! A legislação trabalhista também deve evoluir sobre estas questões.

Falando em identidade, trabalhadores altamente qualificados são mais frequentemente definidos por seu trabalho. Na verdade, o trabalho é geralmente a carteira de identidade de pessoas ativas. Eu trabalho, portanto, trabalho? Se isso está bom para você, pare imediatamente.

Além de não bom, há uma mudança de paradigma que já começou parece estar se espalhando e nos convida a adotar outras posturas. É claro que se pode definir por muitas outras atividades e traços pessoais, considerando o próprio trabalho como uma das atividades realizadas. Não como a própria identidade principal. Trabalhar é parte da nossa jornada. Embora o mundo corporativo nos convide a pensar que esta é a missão mais importante de nossas vidas.

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