A voz do silêncio

A Natureza não dá saltos. Em nossa vida e nos processos biológicos esta regra está também presente de forma inequívoca. As transformações minúsculas que se sucedem no quotidiano se somam e demonstram seu desfecho ao final de um período. Compreender estes fenômenos nos faz amparados, pois podemos ter a certeza de que temos muito a contribuir de forma consciente.
Um déficit de atenção de uma criança ou uma intolerância ao frio são alguns dos sinais comuns de uma anemia por deficiência de ferro que pode estar acometendo cerca de seis por cento das meninas. Uma simples prisão de ventre é o sintoma mais comum que pode preceder certas doenças neurodegenerativas tal como o Parkinson, que afeta dois por cento da população acima de sessenta anos. Neste caso a constipação intestinal pode surgir seis anos antes dos distúrbios motores se fazerem presentes. Fogachos e sudorese noturna podem ser o anúncio clássico de sintomas da menopausa para mais da metade das mulheres na meia-idade. Assim, elas podem precisar de tratamento para manter sua qualidade de vida que pode ser alterada positivamente de forma substancial.
Uma falta de vontade de fazer qualquer coisa ou não sentir prazer em nada pode não ser apenas um sinal de Depressão, mas de doenças subjacentes como o Hipotireoidismo ou a baixa de certas vitaminas. Uma ruptura do tendão de Aquiles em um atleta de meia-idade pode ter sido facilitada na verdade por distúrbios do metabolismo dos triglicerídeos. E ainda, o incremento das inocentes quedas das pessoas entre os sessenta e setenta anos de idade tem como importante fator contributivo a perda de doze por cento de sua musculatura que ocorre neste período, que pode chegar a trinta por cento aos oitenta anos de idade. Quanto mais músculo se perde maior é o sinal do envelhecimento celular. Com isto há aumento da chance de aparecimento das doenças degenerativas cardíacas, Diabetes e o câncer. Providências pertinentes para cada caso devem ser tomadas.
A reflexão e comunicação de nossas necessidades percorrem um longo caminho de maturação desde a infância até o mundo adulto. Evoluímos do choro, sorrisos, sons inarticulados para a fala social. Depois, a fala refletida, após uma “conversa interior”. Acrescem-se os movimentos gestuais, trejeitos, o tipo de roupa, expressões de grupos de pertencimento vistos em tatuagens, uso de brincos, correntes e anéis. Outros grupos se identificam pela posse de certos bens, frequentarem os mesmos endereços ou o mesmo site.
Neste decorrer, muitos acontecimentos agem como desorganizadores, pois provocam, encenam ou revivem os mais diversos sentimentos: temor, angústia, irritação e amor. O relato de nossa experiência condiz com o que ela representa em nossa consciência. O que assegura o entendimento é a similitude da percepção de quem escuta. Pois, ratifica a veracidade daquele relato, porque é dotado da mesma humanidade. A aquisição das palavras certas na hora certa é o que concede aos adultos a possiblidade de construir o ajustamento que se pretende nos diversos ambientes, sejam em casa, no trabalho ou no lazer. É um sistema altamente dinâmico que percorre caminhos entre a idealização, o comportamento e a concretização das atividades.
Quando inauguramos este processo em nossa infância frequentemente, falamos sozinhos testando a satisfação imediata de nossos desejos. É a etapa que a criança pensa em voz alta. O mundo adulto escuta e relativiza, pois sabe que pertence ao mundo dos sonhos e fantasias. Fazemos “ouvidos de mercador” ao escutar os sucessivos pedidos que não refletem um entendimento da realidade. Desta forma a criança inicia a experiência e compreensão da frustração e a lógica da realidade. Transitar do mundo egocêntrico para a realidade da convivência é um dos maiores passos existenciais e desafiadores do nosso ser. A criança, habitualmente, a partir dos seis ou sete anos já domina este diálogo interior de forma silenciosa. É a reflexão. Por vezes, em situações de muitas dificuldades retrocedemos ao estágio de resmungar para liberar a tensão, buscar uma solução ou fazer um plano para nos salvar.
Nossas memórias e discrição nesta hora nos concedem dádivas. Inspirado, canta HigorRedivo em “Voz Interior”: Segredo de nós dois/Eu não escreverei/Eu apenas visualizo/As lembranças que guardei.
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