Opinião

Acerto de contas histórico

Acerto de contas histórico

Cesar Vanucci*

“Roberto Landell de Moura foi o protagonista dessa façanha e pouca gente sabe disso.” (Hamilton Almeida, biógrafo de Landell, sobre a invenção do rádio)

2019 assinalará o transcurso dos 120 anos da primeira transmissão mundial da voz humana por ondas radiofônicas. O sítio “Jornalistas&Cia”, engajado em campanha de mobilização de segmentos representativos da Nação brasileira com vistas ao reconhecimento dos extraordinários feitos científicos do padre Roberto Landell de Moura, está anunciando a disposição de intensificar o trabalho de divulgação da obra do genial inventor. Esclarece, a propósito, que muitas foram as conquistas na primeira fase da campanha, em 2010, ao ensejo da celebração do sesquicentenário do nascimento de Landell. Mas, mesmo assim, a fascinante saga do inventor do rádio e de outros instrumentos eletrônicos incorporados ao bem-estar humano continua ignorada pela grande maioria das pessoas. Anota alguns resultados expressivos já alcançados: o lançamento do selo comemorativo pelos Correios; a inclusão do nome de Landell no panteão dos Heróis da Pátria; a introdução da história padre-inventor no currículo escolar do ensino fundamental em Porto Alegre; a instituição do Prêmio Landell de Moura de Jornalismo, em São Paulo.

O jornalista Hamilton de Almeida, biógrafo de Roberto Landell de Moura, em depoimento ao “Jornalistas&Cia”, explica, com detalhes, porque considera 2019 importante na história radiofônica. Frisa: “Será ocasião para lembrar dois marcos do rádio no país. Em 16 de julho se completarão 120 anos da mais antiga experiência documentada de transmissão de voz humana por ondas de rádio. O padre Roberto Landell de Moura foi o protagonista dessa façanha e pouca gente sabe disso, infelizmente. Outro fato marcante será o centenário da radiodifusão. A Rádio Clube de Pernambuco foi fundada em 6 de abril de 1919 por um grupo que, na época, intitulava-se “amadores de telegrafia sem fio”.

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Hamilton Almeida conta, na sequência, lances da primeira transmissão mundial da voz humana, produzida graças ao engenho criativo de Landell de Moura, marco histórico da invenção do rádio. “Se estivéssemos agora na São Paulo de 1899, a mídia se resumiria a jornais e revistas, cujo noticiário do exterior chegava por meio de cabos submarinos. Para as comunicações pessoais e empresariais teríamos apenas o telefone com fio e o telégrafo sem fio. Pesquisava-se, mas nenhum cientista em qualquer lugar do mundo havia tido êxito na transmissão da voz sem fio. A chamada radiotelefonia era um sonho dourado. Mas eis que surge um brasileiro, padre, com sólidos conhecimentos de física e uma dose considerável de genialidade, que acreditou que aquele sonho poderia tornar-se realidade. Após muitos estudos e testes ele convidou diversas autoridades públicas, empresários e jornalistas, e exibiu o inovador aparelho de rádio. Isso aconteceu nas dependências do Colégio Santana, na zona norte da capital paulista. Para fazer uma transmissão wireless da voz humana, com muitas testemunhas, Padre Landell construiu o mais primitivo aparelho de rádio do mundo de que se tem registro.”

“Jornalistas&Cia” interroga o biógrafo do sacerdote-cientista:“Qual a diferença básica das experiências de Landell e de Marconi, a quem hoje, inclusive em grande parte do Brasil, se atribui a invenção desse veículo de comunicação?” Resposta: “A grande diferença é a voz; e os sons musicais. Enquanto o brasileiro mostrava que era possível fazer transmissões de rádio ponto a ponto e de radiodifusão, o italiano usava as ondas de rádio para transmitir sinais em código Morse. Portanto, quando se cogita da invenção de um veículo de comunicação como o rádio, em que escutamos vozes e músicas, quaisquer sons, não há como tirar o mérito do padre Landell. Os dois souberam empregar as ondas de rádio para enviar e receber mensagens. Foram grandes conquistas da humanidade. Mas um inventou o rádio e o outro, o telégrafo sem fio. Ambos foram pioneiros da era “wireless”, que tem pouco mais de um século, assim como (Nikola)Tesla, com o controle remoto.”

Cabe registrar que muitas outras louváveis iniciativas têm sido promovidas, de tempos a esta parte, no sentido de assegurar a Landell a glória que lhe foi negada em vida. O “Movimento Landell de Moura”, que batalha incansavelmente pelo reconhecimento de seu nome em larga escala, propôs ao governo que reivindique internacionalmente o pioneirismo do brasileiro na invenção do rádio. Os radioamadores brasileiros têm Landell como patrono. Porta-vozes da Igreja Católica deixaram consignada, em mais de uma ocasião, chegando até mesmo a formularem pedido de perdão, sua fabulosa contribuição para o progresso da ciência, para os avanços civilizatórios e para a conciliação dos valores esposados pela ciência e pela fé.

Configura-se assim, de forma estrondosa, a justiça, que outra coisa não representa a verdade em ação, de toda esta acumulação de esforços em torno da ideia de um resgate, à altura de sua grandeza como ser humano, da memória do genial brasileiro. O Brasil não pode furtar-se ao dever de promover este acerto de contas com a história em torno da vida e obra do padre-inventor. Por força de numerosos fatores adversos, entre eles o obscurantismo cultural, várias invenções de Landell, apontadas em nossas singelas narrativas, acabaram sendo “inventadas” por outros cientistas, como salienta o biógrafo Hamilton de Almeida.

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