Agressões à Natureza provocam pandemia

“Aves e morcegos são “hospedeiros” de vírus” ( Janice Zanella, veterinária da Embrapa)
A pandemia do coronavírus contribuiu para que cientistas renomados emitissem um veredicto inapelável. Outras calamidades fatalmente eclodirão, com efeitos funestos, caso a humanidade não atente para a urgência de aprender lidar mais harmonicamente com a Natureza. O desequilíbrio nessa relação é o estopim apontado para o desencadeamento de inesperados surtos de doenças fatais.
Já está comprovado que no último século, 75% das doenças emergentes são de características zoonóticas, ou seja, são transmitidas através de contatos de animais com humanos.
Veterinária da Embrapa, Janice Zanella faz parte de um comitê, vinculado à OMS, que estuda a relação entre o homem, o meio ambiente e os animais, um conceito conhecido pela denominação de “saúde única”. As afirmações que faz sobre o candente tema são bem chocantes. Pelo que declara, a Aids, a zica, o ebola, e muito provavelmente a Covid, são alguns exemplos daquilo que, no linguajar dos estudiosos dos fenômenos da Natureza, é conhecido por “transbordamento”. Ele ocorre quando micro-organismos (vírus e bactérias) passem de um “hospedeiro” para outro ou de bichos para humanos. A ocupação desordenada da floresta, praticada em elevada escala com fitos variados e flagrante desrespeito às ordenações ambientais, como ocorre por exemplo na Amazônia, gera riscos enormes para que a indesejável situação se configure.
Em reportagem muito bem documentada, o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, informou que desde o ano passado, sob os auspícios do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovações, pesquisadores brasileiros trabalham num projeto que visa detectar vírus que representem riscos para a saúde humana. O projeto em questão está sendo desenvolvido em nove pontos de cinco diferentes regiões do nosso território.
Na explicação da bióloga Erika Hingst-Zaher, da equipe de monitoramento de bichos, as aves e os morcegos são as espécies preferencialmente visadas por possuírem em sua biologia características que favorecem a formação desses nocivos “reservatórios silvestres”. A migração das aves permite a passagem dos vírus de um para outro “hospedeiro”. Os animais capturados em redes são levados para um laboratório improvisado na própria mata, onde são colhidas amostras de sangue, saliva e pelo, sendo devolvidos, depois, ao seu “habitat” natural. O material recolhido é objeto de análise em laboratório da USP devidamente equipado para detectar situações que apontem sinais de alerta a ação científica. As constatações científicas são de que os morcegos são reservatórios do coronavírus e as aves de influenza.
Atividades desse gênero são processadas no mundo inteiro. Os resultados obtidos concorrem para que a Organização Mundial de Saúde possa estabelecer, de acordo com o que é apurado pelos cientistas, orientação acerca de procedimentos preventivos e de combate a epidemias.
As devastações florestais, influenciando o comportamento dos animais, escorraçando-os de seu ambiente, são vistas pelos cientistas como ameaças de suma gravidade na composição do processo deflagrador das enfermidades de dimensão pandêmica. Releva anotar que no Brasil de nossos dias o que não falta são destruições em alta escala dos biomas florestais. Ainda agora, aos alarmantes registros feitos sobre a elevação dos índices de desmatamento na Amazônia, que atraem para o Brasil olhares apreensivos dos cientistas e ambientalistas e lideranças políticas do mundo inteiro, se junta a desnorteante comprovação, feita pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de que no ano passado a derrubada da mata nativa do Cerrado atingiu novo recorde, representado pela desertificação de área equivalente a oito vezes à superfície da cidade de São Paulo.
A violência contra o meio ambiente tem que cessar. Sua continuidade implica – está amplamente comprovado – no surgimento de novos e terríveis flagelos.
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