Agricultura regenerativa e impacto ambiental

O mundo passa por transição em diversas frentes, seja de tecnologia, energética e na forma como o alimento é produzido. A produção de alimentos é afetada pelos desafios críticos que o planeta enfrenta, incluindo mudanças climáticas, disponibilidade de água e desmatamento, entre outros. Por esses motivos, o mundo precisa tratar a segurança alimentar e a acessibilidade como questões críticas para a prosperidade e o bem-estar global.
As preocupações com a sustentabilidade são cada vez mais compreendidas e reconhecidas: os consumidores estão pedindo mudanças, os reguladores estão moldando novos requisitos e os produtores de alimentos e seus parceiros estão considerando novas práticas agrícolas sustentáveis. Essa transformação na produção de alimentos é possível com a ajuda de tecnologias de produção emergentes, agricultura regenerativa em grande escala e cadeias de suprimentos mais inteligentes. Comunicação, uso inteligente de dados e envolvimento dos consumidores são importantes e requerem uma mudança de mentalidade e propósito.
A atividade agropecuária e a produção de alimentos são vulneráveis às mudanças climáticas, pois são responsáveis por utilizar dois terços da água doce do planeta e gerar um quarto das emissões de gases do efeito estufa, incluindo carbono, segundo dados publicados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Essa vulnerabilidade pode se tornar uma plataforma de transformação, pois o que pode ser mensurado também pode ser mudado.
A necessidade de mudanças profundas na produção e no consumo de alimentos é uma questão de fato e de cálculo. Todos os participantes da indústria sentirão os efeitos da mudança; é provável que seja incremental, mas a mudança incremental pode ter efeitos poderosos. Em um mundo no qual as emissões de gases de efeito estufa estão sendo rapidamente reconhecidas como um dos desafios de nosso tempo e sujeitas a regulamentações cada vez mais rígidas e atenção do consumidor, o incentivo para que produtores e distribuidores adotem práticas e produções diferenciadas certamente crescerá.
A agricultura regenerativa pode ajudar a lidar com o impacto ambiental nas cadeias de suprimentos como uma parte crítica do caminho para zerar as emissões e ajudar a fortalecer sua resiliência futura. No entanto, apesar de muitas empresas e governos reconhecerem esses benefícios e apesar dos esforços para promover essa abordagem, a agricultura regenerativa não está crescendo rápido o suficiente para enfrentar os desafios, segundo estudo global recentemente publicado pelo Sustainable Markets Initiative (SMI) e coordenado pela PwC.
O trabalho colaborativo realizado por representantes do sistema global de abastecimento de alimentos, com o apoio de outros atores das diversas cadeias de valor, teve como resultado um plano com foco em ações que o setor privado pode fazer para criar as condições nas quais os agricultores entendam os benefícios da agricultura regenerativa e com isso ganhar escala.
O estudo mostrou que há três razões principais pelas quais a agricultura regenerativa não está em expansão: o caso econômico de curto prazo não é atraente o suficiente para o agricultor médio; existe uma lacuna de conhecimento sobre como implementar a agricultura regenerativa; e impulsionadores na cadeia de valor não estão alinhados para incentivar a agricultura regenerativa.
A maior restrição entre as razões citadas é econômica; se o caso econômico não for suficientemente atraente, os agricultores não procurarão superar as outras questões. Por esse motivo, o estudo foi focado em cinco grandes questões relacionadas a como fazer a agricultura regenerativa remunerar de forma justa o produtor rural. Essas são mudanças complexas do sistema que requerem maior planejamento e colaboração em todo o sistema alimentar e com os governos.
As cinco questões foram: acordar métricas comuns para resultados ambientais; aumentar a renda dos agricultores a partir dos resultados ambientais; criar mecanismos para compartilhar o custo das transições dos agricultores; garantir que políticas públicas recompensem os agricultores pela transição; e comercializar de forma diferente para compartilhar o custo entre as cadeias de valor. Se essas cinco grandes questões puderem ser abordadas, juntamente com o progresso no conhecimento e nos direcionadores por meio da implementação de ações efetivas, há todos os motivos para acreditar que a expansão da agricultura regenerativa em todo o mundo é viável.
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