Opinião

Agronegócio, mineração e os impactos socioeconômicos

Agronegócio, mineração e os impactos socioeconômicos
Crédito: Anglo American / Divulgação

O agronegócio se tornou a “menina dos olhos” da economia brasileira, o suporte do crescimento econômico do País, o pilar da “segurança alimentar global”! Todavia, não se pode esquecer que a base do agronegócio é a plantação de produtos destinados à exportação, sobretudo a soja e o milho, a carne, quase sem nenhum tratamento industrial, o que impossibilita um acréscimo ao desenvolvimento da indústria alimentar brasileira e a elevação no patamar dos produtos exportados.

O problema é que esses produtos exigem amplas extensões de terra. Consequentemente, o aumento das queimadas, a destruição de consideráveis áreas de vegetação nativa, a destruição de biomas, seguidos pelos efeitos negativos sobre a flora, a fauna e o clima, em várias regiões do País: desde o Paraná à Amazônia, passando pelos cerrados e mesmo pela Mata Atlântica. Na defesa do agronegócio está não só o atual governo, como as entidades que representam os diferentes setores, além de pesquisadores, acadêmicos e políticos que lucram com a defesa dos mesmos.

A mineração também é tida como outro setor importante, crucial mesmo, da economia brasileira. No primeiro semestre deste ano a produção mineral teve um crescimento de 98%. Em Minas Gerais o setor faturou 62,5 bilhões (dados da CartaCapital, 01/09/2021). No entanto, sabe-se dos efeitos desastrosos da mineração para o meio ambiente e para as populações locais, na medida em que os projetos são aprovados sem a análise devida dos efeitos da atividade e sem a consulta da população local. Também as barragens são construídas sem obedecer aos princípios básicos da segurança (Segundo o Ibama, 400 estruturas estão desativadas sob risco de acidente). E sofremos, na carne, os desastres de Mariana e de Brumadinho.  Em Minas, um novo projeto, apresentado pela Mineração Herculano, vai causar impactos ambientais irreversíveis, desta vez em torno da cidade do Serro, colocando em risco a bacia do rio do Peixe, principal fonte de abastecimento da região e afetando gravemente a indústria local, fundada na produção de queijos artesanais além de colocar também em risco comunidade quilombola situada nas proximidades (CartaCapital 01/09/2021).

Junta-se a essa produção agrícola e bovina e à mineração, um garimpo desenfreado em busca do ouro e diamante e temos agravada a invasão e ocupação ilegal de áreas de preservação, de parques nacionais e de territórios indígenas em várias regiões (Pará, Amazonas, Amapá, Goiás, Mato Grosso), implicando em um aumento considerável das áreas invadidas (entre 2010/2020, 300% das áreas de preservação e 495% das terras indígenas foram ocupadas ilegalmente) e do número de assassinatos, não só de líderes, como dos habitantes dos territórios indígenas ou das áreas demarcadas e até mesmo a extinção de povos indígenas que viviam isolados em suas terras de origem, hoje objeto de cobiça dos garimpeiros e seus sustentadores. Totalmente impunes. Aliás, registra-se o completo esvaziamento dos serviços de proteção aos indígenas e ao meio ambiente, tais como o Ibama, a Funai, o ICMBio, o que revela a política totalmente contrária à proteção da natureza desse governo,  inclusive no que toca à Amazônia.  Pelo contrário, as políticas aplicadas defendem o agronegócio, a mineração, o garimpo sem atentar para as exigências básicas de proteção ao meio ambiente. Consequentemente, registra-se o uso ilegal das terras, as queimadas, a  devastação total, a desertificação do semiárido, e, ainda e sobretudo,  o uso abusivo da mão de obra local, homens, mulheres e mesmo crianças, que além de se tornarem verdadeiros escravos, têm sua saúde abalada pela contaminação com o mercúrio, que ataca os rins, os pulmões e o sistema nervoso (no caso dos garimpos) ou com os agrotóxicos, no caso da produção agrícola. 

Enquanto isso, as mudanças climáticas são cada vez mais rápidas e mais perturbadoras, por todas as partes no mundo: derretimento contínuo das geleiras no Ártico, subida do nível dos oceanos, aumento de gases de efeito estufa, secas prolongadas, incêndios, enchentes, furacões, por todo o mundo e, pior, crise hídrica sem precedentes. O Brasil, por exemplo, perdeu 15,7% de sua superfície aquática, desde 1991, em todos os biomas: desde a Amazônia até os Pampas, passando pelo Pantanal (onde a situação é mais grave), Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Essas mudanças climáticas têm afetado enormemente o agronegócio, que passa por uma situação crítica, com uma queda drástica da produção e aumento do custo dessa produção; além das críticas levantadas pelos países importadores.

Urgem políticas públicas globais para conter a destruição. E nesse sentido, vale lembrar que empresas brasileiras, e sobretudo  mineiras, vêm aderindo a duas propostas de fundamental importância: a primeira, o  famoso programa “Ambiente, Sociedade e Governança” – ESG, que, lançado pela ONU em 2004, tem como objetivo configurar a produção e o consumo de maneira a respeitar a natureza,  preservar o meio ambiente e garantir o bem-estar e a saúde  da sociedade como um todo (ver DC12/08/21 “Pacto Global convoca empresas para o alcance dos ODS”). Desenvolvimento sim, mas com sustentabilidade. A segunda é a campanha Race to Zero, lançada também pela ONU, pela neutralização do carbono até 2050, zerando as emissões líquidas de gases de efeito estufa. (Vide DC, 11/06/21).

Trata-se, portanto, de apenas seguir com responsabilidade as políticas estabelecidas e cobrar das empresas um desempenho coerente e adequado buscando melhores condições e eficiência ambiental, sempre pela sustentabilidade. Em Minas e no Brasil, recuperando e preservando a Amazônia, sem que o agronegócio, a mineração e o garimpo terminem por destruí-la. 

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