Opinião

Agronegócio, mola propulsora das exportações

Agronegócio, mola propulsora das exportações
Crédito: Divulgação

Marcos Pena Júnior *

O comércio exterior é uma das principais molas de crescimento e desenvolvimento econômico de qualquer País. Há, inclusive, uma linha de pesquisa em desenvolvimento econômico – a chamada export-led growth, que, numa tradução livre, pode ser entendida como crescimento embasado em exportações – que afirma que alguns países passaram por rápidos processos de desenvolvimento em função de grande ancoragem no comércio internacional – é o caso da China e dos tigres asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan).

O Brasil, como um dos principais produtores e fornecedores de produtos agrícolas (alimentos, fibras e energia) do mundo, se encaixa também nessas características. Nosso crescimento econômico deriva em grande medida dos nossos ganhos com o comércio internacional. Exportar nossos excedentes produzidos pelas diferentes cadeias produtivas agrícolas contribui para a expansão de emprego e renda no nosso País.

Considerando os dados de 2018, o Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar, café e suco de laranja; o segundo maior produtor (e o maior exportador do mundo), de carne bovina, de carne de frango e de soja (em grão); o segundo maior produtor e segundo maior exportador de etanol; o segundo maior produtor de celulose (e terceiro maior exportador); o terceiro maior produtor de farelo de soja (e segundo maior exportador); o terceiro maior produtor de milho (e segundo maior exportador); o terceiro maior produtor e exportador de carne suína; e o quarto maior produtor de óleo de soja (e segundo maior exportador) do mundo.

Com o destacado empreendedorismo e a crescente profissionalização dos nossos produtores, as condições de recursos naturais, o clima favorável, as pesquisas e o desenvolvimento tecnológico realizados no País, do lado da produção, nossas condições são bastante positivas e permanecem avançando. Claro, existem gargalos, como os fortes problemas com infraestrutura de logística e armazenagem e a confusa composição de legislações e tributação, que limitam maiores expansão e dinâmica das atividades produtivas. São questões que precisam ser sanadas rápida e eficientemente.

Já com relação ao mercado internacional, as perspectivas continuam extremamente positivas, levando em conta o crescimento populacional e de renda que permanecerá ocorrendo no mundo, especialmente nos países do leste asiático, incluindo China, o que fará a demanda por produtos do agro brasileiro continuar em expansão.

Em 2018, apenas China e União Europeia somadas compraram do Brasil mais de US$ 53 bilhões de dólares em produtos do agro. Se considerarmos os países da União Europeia individualmente, temos em 2018, o seguinte ranking de “clientes” do agro brasileiro: 1º China (mais de US$ 35 bilhões); 2º Estados Unidos (quase US$ 7 bilhões); 3º Países baixos (mais de US$ 4,5 bilhões); 4º Hong Kong (aproximadamente US$ 2,5 bilhões); 5º Alemanha (pouco mais de US$ 2,2 bilhões); 6º Irã (praticamente US$ 2,2 bilhões); 7º Itália (pouco menos de US$ 2,15 bilhões); 8º Japão (também pouco menos de US$ 2,15 bilhões); 9º Coreia do Sul (pouco mais de US$ 2 bilhões); e, 10º Espanha (também um pouco mais de US$ 2 bilhões).

Contudo, se considerarmos a União Europeia como bloco, ele passará a ocupar a segunda posição, tendo comprado em produtos do agro brasileiro quase US$ 18 bilhões, deslocando os EUA para a terceira posição, Hong Kong permanecendo em 4º, o Irã subindo para a quinta posição, o Japão para a sexta, a Coreia do Sul para a sétima, com a Arábia Saudita passando a ocupar a 8ª posição (pouco mais de US$ 1,7 bilhão); em 9º o Vietnã (pouco mais de US$ 1,6 bilhão); e, em 10º a Tailândia, com pouco mais de US$ 1,5 bilhão.

Tomando como base o agro como um todo, incluindo os elos de insumos, agropecuária, indústria e serviços, envolvidos nas diferentes cadeias produtivas agrícolas, entre 2009 e 2018, o crescimento do setor foi de 10,32%, de acordo com os dados calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso representa quase R$ 135 bilhões de expansão em valores de 2018, já descontada a inflação do período.

Do lado do produtor, não deixamos nada a desejar em relação a qualquer concorrente internacional. Os produtores brasileiros são empreendedores, bons gestores e competidores de alto nível. Além disso, a pesquisa agrícola nacional gerou historicamente e continua gerando resultados que têm permitido manter nossa produção competitiva, variedades cada vez melhor adaptadas e produtivas, sistemas de produção com melhor adequação a condições produtivas locais, aumentando também a produtividade e reduzindo o custo de produção, desenvolvimentos oriundos de áreas de tecnologia de ponta desde biotecnologia até tecnologias de informação e comunicação orientadas a incrementos produtivos

Temos que superar os principais gargalos que afetam nossa produção, como infraestrutura de logística e armazenamento, além de um sem-número de normas, regulamentos, legislações, em especial a tributária, que comprometem fortemente nossa competitividade. O caso da soja brasileira é ilustrativo. O custo de produção (custo “na porteira”) chega a ser praticamente igual ao do produtor americano no mesmo estágio, mas o do transporte chega a ser quatro vezes mais alto que o dos EUA.

Os primeiros 180 dias do novo governo brasileiro proporcionaram ganhos claramente positivos para o agro, como a reestruturação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que, ao reduzir redundâncias e buscar a desburocratização das atividades, tende a tornar a atividade produtiva mais dinâmica, com menos obstáculos de regulação a serem enfrentados. Outra sinalização favorável foi o fortalecimento do sistema nacional de pesquisa agropecuária, com envolvimento direto da ministra Tereza Cristina, como a intensificação da agenda de Pesquisa & Desenvolvimento – P&D pública liderada pela Embrapa. Além disso, ações mais amplas, como as tratativas para encaminhamento da Nova Previdência, se bem conduzidas, reduzirão fortes gargalos que limitam o setor produtivo atualmente.

No entanto, precisamos estar atentos para não colocar em risco as nossas relações comerciais internacionais e fechar as portas para a exportação dos nossos produtos, que há mais de duas décadas sustentam o PIB brasileiro. Ainda temos muito trabalho pela frente.

*Analista,supervisor de inteligência estratégica e coordenador do Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa)

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