Opinião

Ainda o imbróglio da Americanas

Ainda o imbróglio da Americanas
O app Americanas Delivery foi lançado há cerca de dois anos | Crédito: Adobe Stock

Carlos Perktold*

O ex-CEO da Americanas, aquele que ficou dez dias no posto e denunciou as “inconsistências contábeis”, veio da diretoria do Banco Santander, instituição na qual ele conhecia bem a posição financeira da companhia que presidiria. Ao tomar posse como o principal executivo da Americanas seu primeiro entendimento foi perceber que, além do Santander, a Americanas devia ao Bradesco, Itaú, Caixa e Brasil várias montanhas de dinheiro, acumuladas pelo mesmo procedimento contábil e financeiro a ocorrer no Santander.

A loja comprava com prazo de 180 dias, findo o prazo os bancos pagavam as dívidas aos fornecedores e anotavam o débito na conta dela como empréstimo. É, modificado no tempo e espaço, o mesmo procedimento de um cliente de um armazém de bairro há muitos anos e que tinha um caderno no qual ele comprava e o dono anotava as vendas. Findo o mês, acertava-se a conta.

Na Americanas e com os bancos foi diferente. Ninguém acertava as contas e elas foram crescendo. Os famosos, iludidos e tão competentes auditores da PwC não tomaram conhecimento dos crescentes aumentos dos débitos e nem chamaram a atenção dos acionistas ou do mercado das absurdas quantias que se acumulavam. Eles endossaram os balanços fajutos.  A diretoria não se importou com isso, achando que era comum uma empresa daquele porte dever tanto. Milhões de reais em dividendos foram pagos aos pequenos e aos grandes acionistas como se nada tivesse acontecendo. Os débitos nos cadernos cresceram tanto que viraram bilhões, que agora os bancos os colocam como prejuízos nos seus lucrativos balanço. Nada contra o lucro, importante em qualquer atividade.  Sou contra enganar o mercado, pagar dividendos altos e indevidos durante anos, escamoteando as falcatruas nos balanços e fingir que está tudo uma maravilha no país de Alice.

Meu Deus, onde estavam os brilhantes auditores, os banqueiros, os funcionários graduados abaixo da diretoria? Onde estavam os analistas de balanço dos bancos e das corretoras sérias e dos gerentes dos bancos que autorizavam os pagamentos sem considerar o que o cliente já devia? Onde está o espanhol que dirigiu a empresa durante os últimos 29 anos e que sabia de tudo?  Ele está na Espanha, vivendo do lucro de suas mutretas e de salários siderais, certo de que não será extraditado e nem dará explicações a ninguém. Quanto tempo mais duraria essa situação se não fosse a denúncia do novo e ex-CEO?

O Brasil é um país surreal, uma mistura do real com o fantástico e ninguém percebe. É um horror sem fim que promete piorar, como tem ocorrido nos últimos anos. Ninguém é surpreendido com prisão e certas pessoas até riem se alguém ameaça com novos processos. Há condenações de político a 430 anos que fica por 6 e está tudo normal. Quando vamos nos tornar uma nação séria na qual os malandros, criminosos, vigaristas, fraudadores, corruptos, réus confessos e políticos ladrões irão pagar pelo que fazem?

*Advogado

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