Opinião

Amazônia, uma prioridade

Amazônia, uma prioridade
Crédito: REUTERS/Bruno Kelly/File Photo

“Agora que os espíritos do Bruno e Dom estão passeando na floresta e espalhados na gente, nossa força é muito maior”. (Beatriz Matos, viúva de Bruno Pereira, líder ambientalista)

O trucidamento na Amazônia de um jornalista britânico e de um líder ambientalista suscitou enorme comoção e revolta no mundo inteiro, atraído para o Brasil, uma vez mais, desairosamente críticas acerbas à política governamental executada no mais vasto e rico bioma vegetal, do planeta, parte indissociável do território brasileiro, cobiçada, não é de hoje, como se sabe, por gulosos olhares estrangeiros. Grupos estrangeiros esses que se aproveitam, como é público e notório também, da confessa negligência administrativa do Palácio do Planalto para disseminar, levianamente, campanhas de descrédito visando colocar em dúvida nossa capacidade para exercer nossos inalienáveis direitos de soberania plena sobre a dadivosa região.

A elogiável presteza com que a Polícia Federal interveio no caso, deslindando com rapidez os trágicos acontecimentos não elide, naturalmente, receios de que outras ocorrências marcadas por barbarismo possam ocorrer em zonas conturbadas da Amazônia, uma vez que as estruturas criminosas que ali operam, abrangendo garimpagem, exploração madeireira, narcotráfico, extração clandestina de outras riquezas naturais não foram desarticuladas. Ao invés disso, vêm sendo ampliadas à medida que se percebe que o País não tomou ainda, com a firmeza e o rigor exigidos e prometidos pelos seus mandatários, as providências cabíveis para corrigir essas avassaladoras distorções.

E é imperioso fazê-lo na defesa dos legítimos interesses nacionais, em nome dos sentimentos das ruas e como resposta eloquente aos justos apelos da comunidade internacional no sentido de proteger a natureza, o meio ambiente, o patrimônio descomunal de riquezas existente naquelas paragens brasileiras, de modo a beneficiar nossa gente. A Amazônia é uma prioridade. Reclama uma política de desenvolvimento sustentável bem articulada, que contenha as devastações promovidas pelas atividades dos criminosos que procuram transformá-la em terra de ninguém.  Evidentemente, essa política desenvolvimentista aplicável à região implica na criação de mecanismos de defesa contra qualquer tipo de invasão que possa ocorrer, de onde quer que seja, que agrida nossa soberania.  As lideranças brasileiras não encontrariam dificuldades, através do diálogo, com setores mais representativos do pensamento da nação em compor uma grande coalisão em torno de um projeto especial de desenvolvimento para a Amazônia.  A consciência nacional está desperta para uma iniciativa dessa envergadura. Colocando de lado discordâncias pontuais, idiossincrasias gratuitas, firmando conceitos duradouros em torno de um projeto magno, que nem foi Brasília dos tempos gloriosos de JK em favor da interiorização do desenvolvimento, poderemos fazer da Amazônia a melhor aposta brasileira visando à conquista do futuro.

Está claro que essa desejável aliança à volta de um ideal generoso e de uma obra portentosa não prosperará enquanto sucederem situações como a que vem descrita abaixo.

Ao patrocinar o projeto que libera o garimpo em terras indígenas, o presidente atacou os ambientalistas: “O grande passo depende do Parlamento, vão sofrer pressão dos ambientalistas. Esse pessoal do meio ambiente, se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente, e deixem de atrapalhar”.   

Retornando a pronta e decisiva atuação da Polícia Federal no episódio que apontou os detalhes da trama criminosa que abateu o líder indigenista e o jornalista, o que todos esperamos é que os braços da lei envolvam, como já está acontecendo, todos os protagonistas dessa história vergonhosa e cruel. E que essa ação represente ponto de partida para uma ofensiva eficaz para o desmantelamento de engrenagens criminosas que hoje agem com desembaraço, sem serem importunadas, sentindo-se como que meio donas do pedaço.

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