Opinião

Americanos e chineses

Quem ainda se lembra de Henry Kissinger, cabeça pensante do desastrado governo de Richard Nixon, nos Estados Unidos? Pois foi dele a ideia de levar a Pequim, em 1972, uma equipe americana de jogadores de tênis de mesa para abrir o diálogo e os negócios com os chineses, então uma economia fechada. A partir daí a ideia dele era que se os Estados Unidos enchessem os orientais de capital, fábricas e tecnologia, o país se enriqueceria e o regime comunista viraria pó, com o Partidão descobrindo o liberalismo e as vantagens do capitalismo. O próprio povo clamaria por modificações profundas no país, tamanho seria o desenvolvimento e as modificações internas. 

De Nixon a Trump todos, literalmente todos, os presidentes americanos encheram a China de dinheiro. O Ocidente abriu ou transferiu milhares de fábrica para o território chinês por causa da política de abertura e também pelo custo de mão de obra barato, exportando e gerando divisas sem fim. A esperança era de que o regime comunista se deterioraria como ocorre na Venezuela e Coreia do Norte e o povo exigiria reformas fundamentais na economia, na politica e acima de tudo nasceriam as liberdades política, econômica e individual. Para o leitor ter uma ideia do crescimento daquele país, a China multiplicou por sete o seu PIB em relação ao da Itália a partir de 1995. Tudo fruto do investimento americano no país de Mao. 

Mas os estadistas ocidentais calcularam mal a força do Partido Comunista Chinês e a cultura do seu povo. Apesar do enriquecimento e ao contrário do que os americanos previram, nenhum chinês tem coragem ou interesse de protestar contra o regime atual e declarar nas ruas que o capitalismo e a livre concorrência são o melhor para a China.

Ela se desenvolveu, o governo doou centenas de fábricas estatais para generais e coronéis do Partido, elas cresceram, adquiriram tecnologia, se desenvolveram em know-how e administração, produziram e produzem muito e exportam produtos baratos, enriquecendo o país. Exportam até abaixo do preço de custo para trazer mais divisas. O resultado hoje é a quantidade de investigação de dumping de produtos chineses pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior do Brasil e as compras chinesas pelo mundo afora de ações, imóveis e fábricas inteiras.

Eles aprenderam também como lidar com a desonestidade de políticos de certos países ocidentais e passaram a lhes oferecer pourboire, bribe e o nosso famoso CPF (comissão por fora), abrindo mercados com facilidade política em progressão geométrica e, mais recente, as denuncias de corrupção na potencial compra brasileira das vacinas contra o maldito vírus produzido pelos próprios chineses que faturam horrores em cima de sua criação, sem que o mundo lhes cobre qualquer indenização pelo desastre histórico mundial. 

O governador de São Paulo ordenou à diretoria do Instituto Butantan a assinar um “acordo”, que funciona como um contrato leonino no qual o Laboratório Sinovac é o dragão, desculpem-me, o leão. Ela é empresa chinesa com sede nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal, lugar adorável para guardar dinheiro desonesto.

O acordo é sigiloso, contém 20 páginas e 18 artigos, no qual o laboratório chinês tem o comando pleno dele pelas suas cláusulas draconianas e que a CNN abriu pro Brasil. O “acordo” prevê compra de vacinas, mas não tem valor fixado delas e nem a quantidade a ser adquirida. Pelo texto assinado entre as partes, é obrigação de o governo paulista comprar a mesma vacina que o governo chinês não aplica nos seus cidadãos.  Bem, do ponto de vista jurídico, se não tem quantidade e nem preço, vamos comprar apenas cem unidades ou dez ao preço de dez dólares. Estaríamos cumprindo o bendito acordo, economizando bilhões de dólares e o governador de São Paulo escaparia de maledicência que anda divulgada pelas redes sociais sobre seu interesse pessoal e financeiro no negócio. 

Os chineses ganharam mais que uma montanha de dinheiro com o maldito vírus: ganharam uma batalha mundial sem um único tiro.

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