Opinião

Antecipando a comunicação eletrônica massiva

Antecipando a comunicação eletrônica massiva
Crédito: Dado Ruvic /Reuters

Cesar Vanucci *

“O humanismo e a espiritualidade recomendam que os avanços tecnológicos caminhem sempre alinhados com os valores éticos” (Antônio Luiz da Costa, educador)

Tempos desconcertantes à beça, estes dos dias atuais sacudidos pela avalancha da sibilina tecnologia da comunicação eletrônica. Troca positiva de informações instantâneas, trazendo a tiracolo as famigeradas “fake news”, a germinarem com a impetuosidade de gramínea venenosa. Invasões à intimidade sagrada das pessoas, praticadas a rodo, alvejando de forma perversa direitos fundamentais consolidados. O perturbador quadro descrito traz à tona das recordações pessoais anotações feitas, há mais de duas décadas, neste mesmo acolhedor espaço, por este desajeitado escriba de limitado posto que leal e culto leitorado. Os registros em questão sugerem, de certo modo, ligeiros prenúncios do que, naquela ocasião, estava prestes a ser desencadeado em função do incremento das tecnologias de ponta na área da comunicação social. Vejam, a propósito, os textos da sequência.

Muitos se recusam a acreditar. Tudo não passaria de papo furado. História fantasiosa. Já houve até quem rotulasse o projeto de “conto da carochinha”. Mas, a verdade verdadeira é que o Echelon existe. E, sob muitos aspectos, mete medo. Dispõe de condições para materializar as sombrias previsões (não seriam predições?) de George Orwell. O criativo escritor, no instigante “1984”, descreve o clima asfixiante de uma sociedade futurista, onde as pessoas são alvo de feroz monitoramento. A narrativa é uma versão ficcional do Echelon. O livro fala de formidando complexo eletrônico de coleta de informações, que não poupa nem mesmo a intimidade dos lares, e que garante ao “Grande Irmão” o controle absoluto de tudo. Até das vidas. O cinema aproveitou o tema em filme estrelado por Richard Burton, ator inglês falecido, que foi casado com Elizabeth Taylor.

Tem-se, pois, que o Echelon não é ficção. Fruto de notáveis avanços tecnológicos, com as operações centralizadas nos Estados Unidos, numa agência de informações qualificada, a NSA, o Sistema opera a partir de satélites aperfeiçoadíssimos. Além dos EUA, que desfrutam sobre os parceiros de privilégios na utilização do material coletado, fazem parte do projeto países como a Inglaterra, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia. O esquema tem acesso a todo som e imagem produzidos em qualquer parte e que estejam conectados às redes de alcance mundial, telefonia e internet incluídas. O Echelon trabalha no atacado com base em palavras-chave, não importando os idiomas. As palavras podem traduzir, teoricamente, intenções e procedimentos capazes de afetar os interesses dos países usuários. O acompanhamento a distância desse incalculável volume de dados, postos a circular bilhões de vezes diariamente, poderá representar em alguns momentos preciosa ajuda na identificação de situações que constituam ameaças à coletividade. Como no caso, por exemplo, de eventuais ações terroristas. Mas, como diz o ditado, madeira que dá em Chico, dá também em Francisco. O processo pode se aprestar, assim, a outras conveniências desprovidas de nobreza. Enquadradas no “vale-tudo” do jogo geopolítico-econômico das grandes potências, em seu obsedante empenho por supremacia hegemônica.

Vai daí que armações seguramente serão articuladas pelos Estados poderosos, valendo-se das vulnerabilidades alheias, em áreas de movimentação financeira e setores onde são definidas estratégias políticas dos demais países, alcançando até mesmo lideranças regionais “suspeitosas” aos olhos “vigilantes” dos “donos” do Echelon. Ou, nesta versão moderna da vida imitando a arte, aos olhos do “Grande Irmão”.

Mais Echelon no próximo papo.

Vez do leitor. A escritora e jornalista Célia Laborne Tavares encaminhou-nos esta mensagem: “Prezado Vanucci, sensibilizada por sua generosidade, agradeço por seu belo texto a meu respeito (artigo “Assim falou Célia Laborne Tavares” – DC.3.10.19).  Vamos na boa luta, enquanto caminhamos pelo planeta. Grande abraço”.

*Jornalista ([email protected])

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