Aplicabilidade do ChatGPT

Luciana Montozo *
O ChatGPT – aquele chatbot com inteligência artificial (IA) que virou febre nos últimos meses e alcançou a marca de um milhão de usuários em apenas uma semana de lançamento – pode substituir algumas funções das relações humanas. Pelo menos é o que os especialistas em transformação digital têm afirmado. Mas o ponto de atenção é pensarmos: até que ponto a ferramenta trará benefícios reais? Ou será que ela vai apenas fortalecer a ideia que as interações podem deixar de ser humanizadas?
Uma pesquisa feita pela empresa de telecomunicações IDC mostra que o Brasil está em estágio avançado na utilização de algumas dessas tecnologias: cerca de 63% das companhias utilizam dados analytics e fazem uso de IA.
Dentro da área de Gestão de Pessoas, existem ferramentas de IA que facilitam as rotinas. No setor de Recrutamento e Seleção, por exemplo, essas funcionalidades podem ser positivas: quando selecionamos candidatos para uma determinada vaga, o sistema auxilia para busca do ‘macth perfeito’. Mas a inteligência tem, claro, suas limitações. Ela não necessariamente dá retorno para as dezenas – muitas vezes centenas – de pessoas que aplicaram para aquela posição ou cargo. E esse cuidado humano de se colocar no lugar do outro e lembrar que nós mesmos já estivemos à procura de melhores oportunidades evitaria as frequentes críticas que os profissionais da área de RH se deparam no LinkedIn.
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Na prática, a falta de atenção das pessoas para as competências comportamentais no ambiente corporativo acaba por gerar uma falsa crença de que olhar para essa questão é “perda de tempo”. Não priorizar a habilidade das relações interpessoais, da comunicação não violenta e de liderança faz com que os colaboradores de uma empresa percam oportunidades de se testarem e se prepararem para desafios tanto no ambiente corporativo quanto na vida pessoal.
Mas, nem tudo são críticas. Para a prática de onboarding e integração de novos colaboradores, por exemplo, os chatbots podem – e devem – ser explorados. É possível, por exemplo, dar assistência virtual para auxiliar e orientar os novos funcionários durante os processos de integração e adaptação. Além disso, no quesito engajamento e retenção de talentos, as inteligências artificiais também podem ser grandes aliadas dos líderes. Os chatbots, por exemplo, podem ser utilizados para coletar feedbacks regulares, identificando possíveis falhas no engajamento e reclamações frequentes do time. Dessa forma, a relação da área de Gestão de Pessoas com o colaborador apresentará menos ruído e será mais eficiente.
Especialistas afirmam ainda que há inúmeros pontos que podem ser melhorados na área de recursos humanos com os chatbots: agilidade na implantação de estratégias, capacidade de organização, transmissão da cultura da empresa de maneira objetiva.
Gerir pessoas é um processo extremamente único. A interação humana e a percepção das emoções são indispensáveis. Quando uma pessoa se candidata a uma vaga, é importante que ela tenha um atendimento individualizado e com pessoalidade. A ausência de respostas em um processo seletivo acaba trazendo uma experiência angustiante para quem está aplicando e acaba por passar uma imagem de desfocada da empresa que está contratando.
Apesar de estar cada vez mais claro que as IAs estão integradas ao nosso dia a dia, é difícil imaginar um algoritmo que possa ter empatia, emoções, noção de valores e crenças. Como ensinar uma máquina sobre consenso? Sobre argumentação e capacidade de liderança? Muito se fala sobre o uso do ChatGPT no RH e é certo que, quanto mais acesso à ferramenta, mais ela vai se aprimorar.
Mas é importante que os gestores também se aprimorem – preferencialmente em ritmo tão rápido quanto o dos avanços tecnológicos. É preciso estar atento que precisamos, em primeiro lugar, aprimorar e capacitar pessoas. A primeira etapa deste processo é identificar habilidades e resistências individuais, entender as características de cada um. A segunda etapa é formar times que, quando reunidos, transformam situações de rotina em cases de sucesso. Quando o assunto é gestão de pessoas, não existe piloto automático.
*Head e Diretora de Recursos Humanos no Grupo B&T
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